Caso clínico

Caso clínico #1

Um homem de 20 anos de idade apresenta-se ao pronto-socorro acompanhado dos pais, em decorrência de uma alteração do estado mental e do comportamento, marcada por posicionamento crítico e polêmico incomum, crises de gargalhadas, conversação excessiva e pensamentos estranhos. Ele diz estar sendo tratado para depressão e insônia e, recentemente, tem consumido uma maior quantidade de bebidas alcoólicas. Nas últimas 2 semanas, faltou às aulas na faculdade, além de ter ficado acordado a maioria das noites até às 4 ou 5 horas da manhã, escrevendo fervorosamente em vários cadernos. Quando questionado, relatou estar escrevendo dois romances ao mesmo tempo e que também está documentando suas realizações em uma autobiografia. Ele nega qualquer uso de substâncias ilícitas, mas descreve aumento no consumo de álcool "como fazem todos os grandes romancistas". Os esforços de sua família para compreender sua recente alteração de pensamento e comportamento têm sido marcados por diálogos incoerentes e em voz alta, e ele acusa furiosamente os pais de quererem que ele permaneça "subjugado pela tirania da depressão". Com base na presença de um humor elevado e irritável, com sintomas associados, inclusive diminuição do sono, aumento da energia, impulsividade, aumento da atividade direcionada a objetivos e grandiosidade, com duração superior a 1 semana, o episódio recente atende a critérios para episódio de mania, como parte de um diagnóstico de bipolaridade I.

Caso clínico #2

Uma enfermeira de 32 anos de idade apresenta-se na atenção primária queixando-se de cefaleias frequentes, intestino irritável, insônia e humor depressivo. Atualmente ela não toma medicamentos e não tem história de uso de substâncias ou problemas clínicos importantes além do tratamento de um único episódio depressivo no primeiro ano de universidade. O exame físico, os exames laboratoriais de rotina e a tomografia computadorizada cranioencefálica estão todos dentro de limites normais. Sua história familiar é notável pelos vários antepassados que foram afetados por doenças psiquiátricas, inclusive depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia. O avô paterno e uma tia materna cometeram suicídio. Ela teve três episódios anteriores, com duração de várias semanas, caracterizados por comportamento insubordinado no trabalho, irritabilidade, excesso de energia e diminuição da necessidade de sono. Ela se arrepende de decisões sexuais e financeiras impulsivas que tomou durante esses episódios e relata que, recentemente, pediu falência pessoal. No último mês, o humor tem estado persistentemente baixo e ela tem tido reduções no sono, apetite, energia e concentração, com alguns pensamentos passivos de suicídio. Os períodos depressivos parecem chegar ao nível de episódios depressivos maiores, enquanto os períodos anteriores de aumento da impulsividade parecem atender a critérios para episódios de hipomania, o que sugere um diagnóstico de bipolaridade II.

Outras apresentações

Os indivíduos podem apresentar outras variantes ou comorbidades complexas que podem tornar o diagnóstico desafiador. Aproximadamente um terço das pessoas com mania bipolar atende a critérios para características mistas (depressivas), e aproximadamente um terço das pessoas com depressão bipolar atende a critérios para características mistas (maníacas ou hipomaníacas).[3]​ Os episódios mistos podem representar um estado de tratamento mais difícil e estão associados a um maior risco de suicídio.[4][5] Os sintomas mistos podem estar presentes continuamente, ou se manifestarem esporadicamente.[5]

O transtorno bipolar com ciclagem rápida é caracterizado por 4 ou mais episódios de humor em um período de 12 meses; é mais resistente ao tratamento farmacológico e pode ser agravado pelos antidepressivos tradicionais.

Em mulheres que deram à luz recentemente (geralmente, 3-10 dias após o parto, mas pode também ocorrer depois de 4 semanas pós-parto), a primeira apresentação do transtorno bipolar pode ser uma psicose pós-parto.[1][6]

Algumas pessoas com transtorno bipolar apresentam sintomas psicóticos graves e transtornos do pensamento que podem mimetizar a esquizofrenia.

A maioria das pessoas com transtorno bipolar sofre com, pelo menos, uma comorbidade clínica que pode dificultar o diagnóstico e o tratamento. As comorbidades mais comuns incluem os transtornos por uso de substâncias, transtornos de ansiedade, transtornos de pânico, transtornos de deficit da atenção, transtornos de personalidade e quadros clínicos comuns como obesidade, diabetes, hipertensão, enxaqueca e síndrome do intestino irritável.[7][8][9][10][11][12][13][14][15][16]

As pessoas podem também apresentar inicialmente sintomas diagnósticos de transtorno depressivo maior e, somente depois, desenvolver mania ou hipomania; embora os números na literatura variem, as taxas de conversão diagnóstica de depressão para transtorno bipolar podem chegar a 30% em três anos.[17][18]

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