Etiologia

É provável que a depressão na infância seja causada por fatores genéticos, ambientais e por suas interações. Estima-se que uma variação de até 40% possa ser explicada por fatores genéticos. As restantes variações podem ser explicadas por fatores ambientais e pelas interações entre fatores genéticos e ambientais.[13][14] O estresse do dia a dia foi fortemente associado ao risco de depressão, principalmente em garotas.[15]

Fisiopatologia

Não se sabe exatamente como os fatores genéticos e ambientais levam à manifestação clínica do transtorno depressivo. Suspeita-se de que o processo seja complexo e multifatorial. A fisiopatologia da depressão na infância não é tão bem compreendida como a da depressão em adultos. Um número menor de estudos foi conduzido na população pediátrica, e alguns dos achados em adultos não foram demonstrados na depressão na infância. Embora a hipersecreção de cortisol seja um achado consistente em adultos com depressão, a relação entre os níveis de cortisol na depressão infantil está menos clara e, às vezes, é contraditória.[16] O aumento do cortisol de manhã em jovens com risco de depressão prevê o início da depressão.[17] Há evidências que sugerem que os jovens que desenvolvem depressão na adolescência têm níveis de cortisol acima do habitual, mas aqueles que desenvolvem sintomas mais cedo podem ter níveis surpreendentemente baixos, o que sugere a possibilidade de embotamento do eixo hipotálamo-hipofisário ao longo do tempo em resposta à depressão contínua.[18] Também há evidências que indicam desregulação dos sistemas serotoninérgicos centrais na depressão na infância. Descobriu-se que crianças pré-púberes deprimidas apresentam secreção reduzida de cortisol e elevada de prolactina em resposta ao teste de provocação com L-5-hidroxitriptofano.[19] Foi sugerido que a desregulação do sistema serotoninérgico central poderia prejudicar a resposta ao estresse e emocional, diminuir o controle de impulsos e causar desregulação emocional.[20][21]

Estudos em adultos com depressão indicaram várias anormalidades do sono em estudos polissonográficos, incluindo redução da continuidade do sono, redução do sono de ondas lentas, encurtamento da latência do movimento rápido dos olhos (REM), e maior densidade REM. No entanto, estudos do sono em crianças e adolescentes com depressão foram inconsistentes. Alguns estudos indicam que crianças e adolescentes deprimidos hospitalizados apresentam perturbações da continuidade do sono e aumento da pressão REM (encurtamento da latência REM e maior % de sono REM).[22][23][24][25][26] Os resultados em pacientes ambulatoriais foram mistos.[27][28][29]

Também foi indicado distúrbio no circuito neurológico de motivação e recompensa na depressão pediátrica.[30] Há evidências de comprometimento do sistema glutamatérgico na fisiopatologia dos transtornos depressivos.[31] Estudos de imagem encontraram perturbações volumétricas e funcionais em várias regiões e vias cerebrais (por exemplo, na amígdala, no córtex cingulado anterior e no córtex pré-frontal) importantes no controle emocional, resposta ao estresse, motivação, inibição comportamental e manifestação de sintomas depressivos.[32][33][34][35]

Classificação

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição, texto revisado (DSM-5-TR): classificação dos transtornos depressivos​[1]

Classifica os transtornos depressivos nas seguintes categorias: transtorno depressivo maior (TDM), transtorno depressivo persistente, transtorno disruptivo de desregulação do humor (TDDH), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo inespecífico. O foco deste tópico é o TDM e o transtorno depressivo persistente.

TDM

  • Similar ao que ocorre em adultos, caracterizado por pelo menos 5 sintomas depressivos, que ocorrem no mesmo período de 2 semanas.

  • Os sintomas de depressão incluem: humor depressivo, diminuição do interesse ou prazer, perda ou ganho de peso significativo, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimento de inutilidade, concentração reduzida e pensamentos de morte recorrentes, ideação suicida ou tentativa de suicídio.

  • As crianças e adolescentes podem apresentar irritabilidade em vez de depressão como um dos principais sintomas de humor.

  • A criança tem que ter, pelo menos, um dos sintomas principais (humor triste ou irritável, anedonia), associado a um comprometimento funcional significativo em diversas áreas, como na escola ou no âmbito social.

Transtorno depressivo persistente

  • Representa a consolidação dos diagnósticos de TDM crônico e transtorno distímico.

  • Uma forma mais crônica de transtorno depressivo que o TDM.

  • É caracterizado por humor cronicamente triste ou irritável, com duração de pelo menos 1 ano (em adultos deve ser 2 anos).

  • Deve apresentar também, pelo menos, 2 dos seguintes sintomas: alteração no apetite, insônia ou hipersonia, baixa energia, baixa autoestima, baixa concentração e sentimentos de desesperança.

  • Durante o período de 1 ano, a criança deve ter apresentado pelos menos 3 sintomas durante todo o tempo, por mais de 2 meses consecutivos.

Classificação Internacional de Doenças, 11a revisão (CID-11)[2]

De maneira geral, a CID-11 é consistente com os critérios do DSM-5-TR. O limiar da CID-11 para "episódio depressivo" é o mesmo, com pelo menos cinco sintomas característicos: humor depressivo (ou irritabilidade em crianças), redução do interesse ou do prazer nas atividades, baixa concentração, baixa autoestima, pensamentos recorrentes de morte, perturbações do sono, alterações no apetite, agitação psicomotora ou retardo e fadiga; além disso, a CID-11 inclui um sintoma extra de desesperança, que não está incluído no DSM-5-TR.

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