Etiologia
A etiologia da depressão continua não sendo bem compreendida. Os modelos integradores, que levam em consideração variáveis biológicas e sociais, são os que refletem de forma mais efetiva a complexa etiologia. É provável que haja uma heterogeneidade substancial entre os fatores causais nos indivíduos com depressão.[28]
Há evidências para um risco familiar de depressão, mas os fatores genéticos específicos ainda estão sob investigação.[50] Acredita-se que o risco genético seja poligênico, resultante da combinação de pequenos efeitos de um grande número de variantes genéticas comuns.[51][52][53][54]
A interação genético-ambiental provavelmente auxiliará a explicar a suscetibilidade à depressão; no entanto, as evidências são mistas. Variantes de vários genes têm sido associadas à depressão no subconjunto de indivíduos com depressão que passaram por um grande estresse na vida.[55][56] Tem-se postulado que a exposição a eventos adversos nos primeiros ano de vida pode causar modificações epigenéticas que afetam a expressão gênica, o que pode predispor à depressão.[57] Com ou sem um componente genético conhecido, os eventos estressantes da vida, a personalidade e o sexo podem também ter um papel modificador no risco de depressão. Em particular, adversidades ou maus-tratos durante períodos importantes nos primeiros anos de vida mostraram aumentar substancialmente o risco de desenvolvimento posterior de depressão, e estão também associados a uma evolução menos favorável da doença, inclusive com aumento do risco de depressão recorrente.[58][59] Experiências traumáticas na idade adulta, incluindo violência entre parceiros íntimos e violência de gênero, também aumentam o risco de depressão.[26]
O uso prévio de substâncias (particularmente, cannabis e tabaco) está associado a um aumento do risco de depressão, embora essa ligação não seja necessariamente causal.[60]
Evidências de metanálises sugerem uma associação entre hábitos de vida (tais como baixo nível de atividade física e padrão alimentar não saudável) e o desenvolvimento de depressão, embora não se tenha estabelecido se essa ligação é causal.[61][62][63]
O papel do microbioma intestinal na etiologia da depressão é uma área de pesquisa ativa. Estudos mostraram diferenças na composição da microbiota intestinal, com diferenças associadas no metabolismo de aminoácidos intestinais, entre pessoas com depressão e controles saudáveis.[64][65]
Fisiopatologia
A fisiopatologia da depressão permanece obscura. Concentrações anormais de neurotransmissores, má regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e anormalidades dos sistemas do mensageiro secundário foram todas identificadas como possivelmente envolvidas na fisiopatologia da depressão.
Existem teorias fisiopatológicas dos neurotransmissores monoaminérgicos e depressão que tentam vincular os mecanismos de ação conhecidos dos antidepressivos a evidências relativas à função de neurotransmissores específicos e manifestações clínicas de depressão. Por exemplo, anormalidades dopaminérgicas podem estar relacionadas à deficiência na motivação e na concentração, níveis baixos de noradrenalina e dopamina podem desempenhar uma função na fadiga e na hipersonia e comprometimento na regulação serotoninérgica e noradrenalina podem contribuir para os sintomas físicos.[66][67][68] Especificamente, o papel da serotonina no desenvolvimento da depressão tem sido muito estudado, mas permanece não completamente compreendido. As explicações mais antigas que atribuem a depressão a uma “deficiência de serotonina” são agora amplamente consideradas excessivamente simplistas e enganosas. Uma grande revisão "guarda-chuva", amplamente divulgada, avaliou o papel da serotonina na depressão, embora os achados tenham sido questionados por outros especialistas, citando possíveis deficiências metodológicas.[69][70] Talvez a evidência experimental mais resiliente para a hipótese de que uma serotonina baixa esteja associada à depressão venha de estudos que usaram o método de depleção do triptofano - esgotando efetivamente o triptofano corporal e, portanto, a serotonina com a ingestão de um coquetel que contém todos os aminoácidos, exceto o triptofano. Esse método tende a restaurar temporariamente os sintomas depressivos em pacientes que se recuperaram da depressão maior. O efeito parece ser limitado às pessoas em recuperação de uma depressão, mas não em voluntários sem depressão. Por isso, o papel da serotonina em causar depressão, se houver, parece complexo.[71][72]
A desregulação do eixo HHA foi demonstrada em pessoas com depressão. A secreção matinal de cortisol não é suprimida pela administração de baixas doses de dexametasona ao deitar em muitas pessoas com depressão.[73][74]
Há hipóteses de que alterações na microbiota intestinal influenciem o humor pela produção de metabólitos e componentes bacterianos que afetam a neurotransmissão no sistema nervoso central; modelos animais oferecem possíveis evidências que respaldam essa teoria.[64][65][75]
A inflamação sistêmica tem sido proposta como um possível fator causal na patogênese da depressão; vale ressaltar que há algumas evidências de que maus-tratos anteriores na infância aumentam o risco de inflamação sistêmica em adultos.[76]
Através de uma análise de estudos de neuroimagem de 20 centros internacionais, adultos com depressão maior apresentavam afinamento em regiões dos córtices orbitofrontal, cingulado, insular e temporal, e redução no volume do hipocampo.[77][78][79] Anormalidades estruturais e funcionais nas redes fronto-límbicas também foram detectadas em estudos de neuroimagem de pacientes virgens de tratamento com depressão.[80][81] No entanto, os achados variam substancialmente entre indivíduos, o que ressalta a heterogeneidade clínica. Postula-se que a depressão seja o resultado de disfunções em redes interconectadas no cérebro, e o objetivo de muitas pesquisas atuais é explorar sistemas neurais, em vez de regiões cerebrais individuais.[82]
Classificação
Classificação Internacional de Doenças, décima primeira edição (CID-11)[2]
Os transtornos depressivos da CID-11 são subdivididos em episódios únicos e recorrentes, com designações para gravidade do episódio mais recente e, em casos graves, presença ou ausência de psicose (alucinações ou delírios).
Além disso, a CID-11 inclui na categoria de transtorno depressivo o diagnóstico de transtorno distímico, e uma nova para a mistura de ansiedade e transtorno depressivo
Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, quinta edição, revisão de texto (DSM-5-TR)[1]
O DSM-5-TR divide os transtornos depressivos em:
Transtorno disruptivo de desregulação do humor
Transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior)
Transtorno depressivo persistente (antes conhecido como transtorno distímico)
Transtorno disfórico pré-menstrual
Transtorno depressivo induzido por substância/medicamento
Transtorno depressivo devido à outra condição médica
Outros transtornos depressivos especificados
Transtorno depressivo não especificado
Transtorno do humor não especificado.
Esses tipos de depressão são diferenciados com base na duração e no número de sintomas, além de humor triste e/ou anedonia, grau de comprometimento funcional e gravidade dos sintomas. Além disso, também é possível observar os sintomas depressivos como parte da ciclotimia ou do transtorno bipolar.
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