Etiologia

O Aspergillus é um bolor ambiental ubíquo que cresce na matéria orgânica do solo. O organismo cresce como um micélio do solo (forma filamentosa) e forma talos hifais aéreos.[1] Os conídios (esporos) têm cerca de 2 a 10 micrômetros de diâmetro. Eles são formados na ponta dos talos (conidióforos) por reprodução assexuada. Sua natureza hidrofóbica auxilia na aerossolização.[1][17] Os seres humanos frequentemente inalam os conídios aerossolizados. Os conídios são prontamente eliminados do trato respiratório, ou pode ocorrer colonização ou infecção, dependendo do estado imunológico local e geral subjacente do indivíduo.

Sabe-se que aproximadamente 34 das 180 espécies de Aspergillus causam doença em seres humanos. O Aspergillus fumigatus é a espécie patogênica mais comum, responsável por 50% a 70% das síndromes de aspergilose. No entanto, cada vez mais a aspergilose é causada por espécies não fumigatus, incluindo A flavus, A terreus, A niger e A versicolor.[9][18]O A niger é menos patogênico, talvez pelo fato de seus grandes conídios não conseguirem chegar aos alvéolos pulmonares.[18]O A terreus, em contraste com as outras espécies, é resistente à anfotericina B. Em virtude disso, a aspergilose causada por A terreus tem um prognóstico desfavorável e ocasionalmente está associada a hemoculturas positivas.[19] Raramente, o organismo consegue entrar por inoculação cutânea direta, especialmente após um trauma.[20]

No aspergiloma, o A fumigatus ainda é a espécie mais comum.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Morfologia de conidióforos e conídios de Aspergillus fumigatusDo acervo do Dr. P. Chandrasekar; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@31675b8b

Fisiopatologia

Após a inalação dos conídios, as defesas imunológicas subjacentes determinam o destino do organismo. Pessoas imunocompetentes com depuração ciliar intacta eliminam prontamente o organismo do trato respiratório.[21] A defesa imunológica inicial é assegurada pelos macrófagos pulmonares, que tentam fagocitar e destruir os conídios.[21][22]

AI

  • A AI afeta principalmente pacientes imunocomprometidos (por exemplo, receptores de transplante de células-tronco, neutropenia grave prolongada, terapia imunossupressora). É rara em indivíduos imunocompetentes. Quando os conídios sobrevivem, a germinação gera hifas (forma filamentosa) que invadem o parênquima pulmonar. Leucócitos polimorfonucleares fagocitam as hifas e os conídios inchados.[22][23]

  • Durante a invasão, ocorre interação entre ligantes do Aspergillus e os receptores de reconhecimento de padrão, inclusive receptores do tipo Toll (TLR) e Dectin, nos macrófagos, causando a produção de citocinas pró-inflamatórias.[24] A manifestação clínica resultante é febre.

  • Polimorfismos do TLR-4 em seres humanos foram recentemente implicados com sendo um fator de risco de AI.[25] Hifas angioinvasivas conseguem entrar e se disseminar localmente pela microvasculatura pulmonar e causam a formação de trombos e infarto tecidual. As áreas infectadas do pulmão com a inflamação e o infarto pulmonar associados contribuem para os sintomas clínicos de tosse, dispneia e dor torácica pleurítica. A função pulmonar pode piorar com o aumento das áreas de comprometimento.

  • A disseminação a partir do pulmão por via hematógena pode ocorrer com mais frequência para o cérebro e a pele, causando infarto tecidual nesses locais. Praticamente todos os locais do corpo, inclusive coração, rim, fígado/baço, ossos e trato gastrointestinal, podem ser afetados.[2] Também pode ocorrer uma invasão direta a partir das cavidades dos seios paranasais para a órbita, seios esfenoidais e parênquima cerebral.[2]

Aspergilose pulmonar crônica (APC)

  • A APC geralmente afeta pessoas que não são imunocomprometidas, mas que apresentam patologia respiratória subjacente com cavitação, por exemplo, tuberculose.[4][26]​ O Aspergillus coloniza e cresce nas cavidades, danificando o parênquima pulmonar. O aspergiloma pode se formar nas cavidades.

  • Na aspergilose pulmonar cavitária crônica (APCC), a progressão da doença é lenta, envolvendo uma ou mais cavidades, com ou sem aspergiloma, e com fibrose pleural.[4][26]

  • A aspergilose invasiva subaguda (AISA) pode se desenvolver em alguns pacientes imunocomprometidos. As hifas invadem o parênquima pulmonar com necrose e inflamação. A progressão da doença é mais rápida, com desenvolvimento mais precoce dos sintomas.[3][4][26]

  • A aspergilose pulmonar fibrosante crônica (APFC) resulta de APCC não tratada, com extensa fibrose pulmonar e perda da função pulmonar.[3][4]

  • O aspergiloma (bola fúngica) consiste em micélios de Aspergillus, células inflamatórias, fibrina, muco e restos de tecido.[4] Pode se formar nas cavidades pulmonares. O crescimento do Aspergillus nas paredes da cavidade é facilitado pela drenagem inadequada. Sangramento é incomum; contudo, às vezes pode ocorrer hemoptise grave secundária à erosão dos vasos sanguíneos brônquicos que revestem a cavidade e à fricção mecânica da bola fúngica contra os vasos sanguíneos.[27]

Classificação

Tipos de aspergilose

AI[1][2]

  • Aspergilose sinopulmonar invasiva: a inalação de conídios geralmente causa envolvimento pulmonar e dos seios nasais.

  • Aspergilose disseminada: em pacientes profundamente imunocomprometidos, a doença focal pode se disseminar para vários órgãos.

  • Aspergilose invasiva (AI) de órgão único: locais comuns incluem pele (por trauma), ossos e cérebro.

Aspergilose pulmonar crônica[3]

Existem cinco formas clínicas diferentes de aspergilose pulmonar crônica (com algumas sobreposições):

  • Aspergilose pulmonar cavitária crônica (anteriormente denominada aspergiloma complexo)

    • O Aspergillus coloniza e cresce nas cavidades pulmonares. O aspergiloma pode crescer nas cavidades

  • Aspergilose pulmonar fibrosante crônica

    • Ocorre após aspergilose pulmonar cavitária crônica não tratada.

  • Aspergiloma (bola fúngica)

    • Consiste em micélios, células inflamatórias, fibrina, muco e restos de tecido. Ocorre em cavidades pulmonares preexistentes.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Aspergiloma em uma cavidade pulmonar tuberculosa preexistenteDo acervo do Dr. P. Chandrasekar; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@31c26d12

    • Um único aspergiloma em uma única cavidade, sem progressão e com poucos ou nenhum sintoma é denominado aspergiloma simples.

  • Aspergilose invasiva subaguda (anteriormente denominada aspergilose necrotizante crônica)

    • Um processo destrutivo indolente decorrente de invasão por Aspergillus.

    • Geralmente observada em pacientes com doença pulmonar, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), pneumoconiose ou fibrose cística, e em pacientes com imunossupressão leve.

  • Nódulo de Aspergillus

    • Os nódulos geralmente não formam cavidades; uma forma incomum de aspergilose.

Aspergilose broncopulmonar alérgica[1][2]

  • Reação de hipersensibilidade a antígenos de Aspergillus, principalmente decorrente de A fumigatus.

  • Observada tipicamente em pacientes com asma de longa duração ou fibrose cística.

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