Abordagem

Um diagnóstico típico começa com um questionamento cuidadoso para determinar os sintomas do paciente (por exemplo, sintomas gastrointestinais, infertilidade, hematúria, hematospermia ou lesões vaginais/vulvares) e se o paciente viveu ou visitou uma área com esquistossomose endêmica. Em seguida, exames físicos específicos e exames laboratoriais permitem o diagnóstico e/ou o encaminhamento.

História

História de viagens ou residência é o elemento mais importante na definição do risco de exposição à infecção.[36] A esquistossomose é encontrada na África, no Oriente Médio, no Extremo Oriente e em partes da América do Sul e do Caribe.[14]​ Uma história de atividades envolvendo exposição à água doce em áreas endêmicas também é importante para avaliar o risco. Para os viajantes, a precaução é muito importante. Para a população de áreas endêmicas é necessária uma abordagem integrada que inclua educação sobre saúde.

O intervalo de tempo desde a exposição e a duração dos sintomas podem ajudar a diferenciar entre a infecção cutânea (dermatite cercariana), a doença aguda (síndrome de Katayama) e a doença crônica. A esquistossomose aguda ocorre várias semanas após a exposição. Seus sintomas são inespecíficos, incluindo febre, fadiga, tosse, dor abdominal e diarreia. A esquistossomose intestinal crônica pode se apresentar com sintomas de dor abdominal intermitente, diarreia e fezes sanguinolentas. A esquistossomose urinária pode se apresentar como disúria, dor na parte inferior do abdome, infertilidade ou uma história de hematúria, hematospermia ou lesões vaginais ou vulvares. Ocorre a obliteração progressiva das arteríolas e capilares pulmonares que causa alterações fibróticas secundárias no parênquima pulmonar, frequentemente ao longo de décadas. Isso pode se manifestar como uma dispneia progressiva.

Exame físico

Uma erupção cutânea papular pode ser encontrada na pele exposta à água contaminada horas após a exposição (prurido dos nadadores).[37][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Dermatite cercariana leve (prurido dos nadadores)Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC); usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@7edf141a

Febre, tosse, desconforto abdominal ou hepatoesplenomegalia podem ser observados na esquistossomose aguda 1 a 3 meses após a exposição. Achados do exame físico frequentemente são inespecíficos nesse estágio da infecção.[19][38][39]

Retardo de crescimento, perda de peso e sinais de anemia podem ser detectados em crianças com uma infecção crônica.[22]​​[40][41] Outros achados em pacientes com a forma intestinal crônica de esquistossomose incluem sinais de hipertensão portal, incluindo ascite, edema nos pés e hepatoesplenomegalia.[1] Na esquistossomose urinária, a hidronefrose pode ser detectada como uma massa abdominal no exame físico e a hepatoesplenomegalia também pode estar presente. Sensibilidade abdominal ou pélvica pode ser frequentemente detectada. Nas mulheres, um exame pélvico pode exibir ulceração cutânea vulvar ou vaginal ou nas superfícies cervicais.[42]​ Nos homens, um exame retal pode revelar massa, sensibilidade ou aumento na próstata.[43]

Exame laboratorial

O teste mais específico da infecção é a detecção de ovos de Schistosoma na urina, nas fezes ou na biópsia tecidual.[44] Embora ovos mortos possam ser detectados algum tempo depois da eliminação da infecção, a detecção parasitológica de ovos sempre deve ser tratada com praziquantel para eliminar uma potencial infecção ativa. Um rastreamento negativo de ovos não descarta infecção ativa. Esses testes parasitológicos podem ser negativos durante a infecção aguda e durante uma infecção crônica de baixa intensidade.[45]

A sorologia positiva para anticorpos anti-Schistosoma é sensível e específica para a exposição à infecção, mas não é capaz de diferenciar infecção ativa da infecção pregressa nem determinar a carga parasitária.[46] Além disso, os testes sorológicos podem levar 3 meses para se tornarem positivos; sendo assim, é comum que testes sorológicos de indivíduos com manifestações clínicas de esquistossomose aguda sejam negativos. Uma pessoa não tratada que apresenta sorologia positiva e um intervalo <5 anos desde a exposição durante viagem deve ser considerada para a terapia presuntiva da infecção crônica com praziquantel.

Outros testes diagnósticos (mas não patognomônicos) de suporte incluem anormalidades encontradas no teste do guáiaco nas fezes para hemorragia digestiva oculta; um hemograma completo detectando anemia ou eosinofilia; urinálise para hematúria, proteinúria, piúria e eosinofilúria; e um painel da função renal ou teste da função hepática anormal. Quando o índice de suspeita de esquistossomose for alto e o teste parasitológico padrão for negativo, essas anormalidades devem direcionar a testes sorológicos, estudos de imagem ou biópsia de tecido para buscar outras evidências de infecção ativa por Schistosoma.

Hemoculturas e esfregaços finos e espessos para malária normalmente são realizados em viajantes que retornaram recentemente de áreas endêmicas com suspeita de casos de esquistossomose aguda a fim de descartar outras causas de febre. Esses resultados deverão ser negativos se a esquistossomose for a única fonte de febre.

Foram desenvolvidos vários testes que visam detectar DNA ou RNA do esquistossomo para complementar o diagnóstico parasitológico e sorológico com alta precisão relatada. A disponibilidade desses testes varia dependendo do local. Os testes podem ser realizados no soro, fezes, líquido cefalorraquidiano (LCR) ou urina.[47]

O antígeno anódico circulante (AAC) urinário é um teste laboratorial remoto usado para o rastreamento de esquistossomose urinária. É usado em áreas endêmicas onde não há acesso adequado à microscopia. Esse teste apresenta boa sensibilidade; no entanto, a especificidade é controversa, pois um número considerável de indivíduos tem testes positivos na ausência de microscopia positiva. Isso pode ocorrer por ele ser mais sensível que a microscopia.[47][48]

[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Micrografia retratando um ovo de um parasita trematódeo Schistosoma haematobium; com aumento de 500xCentros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC); usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@581d5dc2

Exame radiológico

Exames de ultrassonografia, tomografia computadorizada (TC) ou ressonância nuclear magnética (RNM) de órgãos afetados (bexiga e rins ou veias portas e fígado) podem frequentemente mostrar alterações características que são úteis para o diagnóstico e acompanhamento do tratamento. RNM do cérebro ou coluna vertebral é indicada em caso de sintomas neurológicos.[49] Radiografia torácica e TC do tórax são indicadas para avaliação da suspeita de hipertensão pulmonar em pacientes com sintomas respiratórios.[50]

Indicações para encaminhamento

A ulceração da vagina ou do colo uterino deve ser submetida à biópsia para descartar câncer.[42] Infertilidade requer avaliação endócrina e anatômica mais extensa para outras causas, e aconselha-se uma consulta com o ginecologista.[51]

A neuroesquistossomose se manifesta com convulsões ou sintomas neurológicos focais relacionados ao local de inflamação (isto é, cérebro, medula espinhal, leptomeninges ou raízes nervosas periféricas).[28][49][52][53] A RNM da medula espinhal e consultas neurocirúrgicas e neurológicas precoces são recomendadas para o tratamento nesses casos.

A hipertensão portal avançada resultante da esquistossomose intestinal pode apresentar ascite e hemorragia digestiva alta grave das varizes esofágicas.[54] A consulta com um gastroenterologista e/ou radiologista invasivo é recomendada para o tratamento desses casos.

Infecção em estágio tardio também pode apresentar sintomas pulmonares e sinais de cor pulmonale.[50] Nesses casos, a consulta com um pneumologista ou um cardiologista é recomendada para descartar outras etiologias.

A esquistossomose urinária avançada pode apresentar uropatia obstrutiva e sinais de insuficiência renal ou evidências de câncer de bexiga.[55] Nesse caso, é recomendada uma consulta com um nefrologista e um urologista para o tratamento da doença.

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