Etiologia

A síndrome da abstinência alcoólica é causada pela abstinência de álcool em uma pessoa com dependência alcoólica.[27] É caracterizada por sinais de hiperatividade do sistema nervoso simpático.[28]

O uso crônico de álcool resulta na up-regulation dos receptores pós-sinápticos N-metil-D-aspartato (NMDA) e na down-regulation dos canais de cloreto associados com receptores pós-sinápticos do ácido gama-aminobutírico (GABA). Uma diminuição na concentração de etanol no sangue por conta da cessação abrupta no consumo de álcool resulta em um desequilíbrio entre os sistemas estimulador (NMDA) e inibitório (GABA) no sistema nervoso central. O excesso de efeitos estimulatórios causa o desenvolvimento dos sinais e sintomas clínicos de síndrome da abstinência alcoólica.[24][29][30][31][32]

Fisiopatologia

O etanol interage com dois receptores importantes no sistema nervoso central (SNC), essenciais para a função normal do SNC: receptores tipo A do ácido gama-aminobutírico (GABA) e receptores N-metil-D-aspartato (NMDA).

O etanol afeta predominantemente o receptor tipo A do GABA, onde a estimulação persistente dos receptores inibitórios resulta em downregulation do complexo receptor GABA tipo A/canais de Cl-.[29][30][31][32] A downregulation adaptativa dos receptores tipo A do GABA também contribui para o desenvolvimento de tolerância ao permitir que os usuários de álcool mantenham certo nível de consciência apesar da presença de uma concentração sedativa de etanol.[31][32]

Entre inúmeros sistemas diferentes de receptores de aminoácidos excitatórios, a presença de uma concentração persistente de etanol no sangue afeta principalmente a expressão do complexo de canais de Ca+2 de receptores pós-sinápticos NMDA. Em contraste com o agonista do receptor tipo A do GABA, o etanol inibe a função do receptor NMDA por meio da ligação competitiva ao local de ligação da glicina no receptor NMDA. Este efeito inibitório causa uma up-regulation compensatória do receptor NMDA na membrana pós-sináptica.

No nível pré-sináptico, o uso crônico de álcool aumenta a liberação de glutamato excitatório enquanto a recaptação do glutamato é inibida.[30][32][33][34] Há evidências sugerindo que o uso agudo de álcool aumenta a liberação pré-sináptica do GABA.[30][32][35][36] No entanto, a relação entre o uso crônico de álcool e a alteração da liberação pré-sináptica do GABA não é bem compreendida atualmente.

Mecanismos adaptativos na interação neurotransmissor/receptor mantêm a homeostase entre os sistemas receptores excitatório (NMDA) e inibitório (GABA), e mediam o desenvolvimento da tolerância ao álcool. A abstinência do álcool nos pacientes com dependência alcoólica causa um desequilíbrio entre a função dos receptores NMDA e GABA tipo A devido à diminuição do nível de etanol no sangue do nível de estado de equilíbrio mantido anteriormente. Como resultado, o excesso de estimulação glutamatérgica com a diminuição da atividade inibitória (GABA) resulta no desenvolvimento de sintomas clínicos da síndrome da abstinência alcoólica (SAA), incluindo hiperatividade autonômica, tremores, alucinações e convulsões.[32]

Vários episódios de SAA aumentam a intensidade da SAA subsequente devido ao fenômeno de abrasamento (kindling). Abrasamento (kindling) é um processo onde o baixo estímulo químico ou elétrico, o qual normalmente não produz uma resposta comportamental, resulta em efeitos comportamentais, como convulsão, decorrente da administração repetitiva.[37][38] Há um conjunto crescente de evidências de que o fenômeno de abrasamento (kindling) contribui para a exacerbação dos sintomas de abstinência.[37] Clinicamente, uma proporção significativa de pacientes com SAA que sofre de convulsões apresenta uma história de vários episódios de SAA em comparação aos pacientes com SAA que não têm convulsões associadas.[39][40][41]

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