A depressão pós-parto é um distúrbio pouco reconhecido.[5]National Institute for Health and Care Excellence. Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. Feb 2020 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/cg192
Faltam atualmente ensaios clínicos randomizados e controlados (ECRC) sobre os benefícios (e possíveis efeitos adversos) do rastreamento da depressão pós-parto.[142]The Lancet. Screening for perinatal depression: a missed opportunity. Lancet. 2016 Feb 6;387(10018):505.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(16)00265-8/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26867429?tool=bestpractice.com
Uma revisão sistemática para a US Preventive Services Task Force sugeriu que o rastreamento na atenção primária da depressão durante a gravidez e no período pós-parto está associado a melhores desfechos de saúde.[143]O'Connor E, Rossom RC, Henninger M, et al. Primary care screening for and treatment of depression in pregnant and postpartum women: evidence report and systematic review for the US Preventive Services Task Force. JAMA. 2016 Jan 26;315(4):388-406.
http://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2484344
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26813212?tool=bestpractice.com
A revisão incluiu apenas um estudo sobre os possíveis danos do rastreamento; esse estudo foi realizado com 462 mulheres chinesas 2 meses após o parto e não foi observado nenhum efeito adverso.[144]Leung SS, Leung C, Lam TH, et al. Outcome of a postnatal depression screening programme using the Edinburgh Postnatal Depression Scale: a randomized controlled trial. J Public Health (Oxf). 2010 Sep 29;33(2):292-301.
https://www.doi.org/10.1093/pubmed/fdq075
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20884642?tool=bestpractice.com
A eficácia potencial do rastreamento está relacionada com a disponibilidade e eficácia dos serviços que fornecem diagnóstico e tratamento; portanto, é imperativo que os serviços de atenção primária que oferecem rastreamento da depressão pós-parto tenham sistemas eficazes que garantam que os resultados positivos do rastreamento sejam seguidos por um diagnóstico preciso, um tratamento eficaz e um acompanhamento cuidadoso.[92]US Preventive Services Task Force; Barry MJ, Nicholson WK, Silverstein M, et al. Screening for depression and suicide risk in adults: US Preventive Services Task Force recommendation statement. JAMA. 2023 Jun 20;329(23):2057-67.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2806144
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37338872?tool=bestpractice.com
[115]Thombs BD, Arthurs E, Coronado-Montoya S, et al. Depression screening and patient outcomes in pregnancy or postpartum: a systematic review. J Psychosom Res. 2014 Jun;76(6):433-46.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24840137?tool=bestpractice.com
Recomendações para rastreamento dos EUA
O American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) recomenda que todas as mulheres que recebem cuidados pré-gestação, pré-natais e pós-parto sejam submetidas a rastreamento para depressão em vários momentos, usando-se o mesmo instrumento de rastreamento padronizado e validado, como a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS) ou o Questionário sobre a saúde do(a) paciente (PHQ-9).[4]American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG clinical practice guideline no. 4: screening and diagnosis of mental health conditions during pregnancy and postpartum. Jun 2023 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/clinical-practice-guideline/articles/2023/06/screening-and-diagnosis-of-mental-health-conditions-during-pregnancy-and-postpartum
Se for necessário tratamento para depressão, a mesma ferramenta de rastreamento pode ser administrada em série para ajudar a avaliar a resposta ao tratamento e orientar os ajustes conforme necessário.[4]American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG clinical practice guideline no. 4: screening and diagnosis of mental health conditions during pregnancy and postpartum. Jun 2023 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/clinical-practice-guideline/articles/2023/06/screening-and-diagnosis-of-mental-health-conditions-during-pregnancy-and-postpartum
A US Preventive Services Task Force recomenda o rastreamento da depressão na população adulta geral, incluindo gestantes e mulheres no período pós-parto.[92]US Preventive Services Task Force; Barry MJ, Nicholson WK, Silverstein M, et al. Screening for depression and suicide risk in adults: US Preventive Services Task Force recommendation statement. JAMA. 2023 Jun 20;329(23):2057-67.
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2806144
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37338872?tool=bestpractice.com
A American Academy of Pediatrics (AAP) recomenda o rastreamento de rotina das mães nas consultas pediátricas aos 1, 2, 4 e 6 meses, usando uma ferramenta de rastreamento validada como a EPDS.[145]Rafferty J, Mattson G, Earls MF, et al. Incorporating recognition and management of perinatal depression into pediatric practice. Pediatrics. 2019 Jan;143(1):e20183260.
https://publications.aap.org/pediatrics/article/143/1/e20183260/37306/Incorporating-Recognition-and-Management-of?autologincheck=redirected
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30559118?tool=bestpractice.com
Recomendações para rastreamento do Reino Unido
No Reino Unido (tal como em outros países, como o Canadá), o rastreamento de rotina para a depressão pós-parto não é atualmente recomendado.[106]Canadian Task Force on Preventive Healthcare. Depression during pregnancy and the postpartum period. 2022 [internet publication].
https://canadiantaskforce.ca/guidelines/published-guidelines/depression-during-pregnancy-and-the-postpartum-period
No entanto, o National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido recomenda que os profissionais da saúde (incluindo parteiras, obstetras, agentes de saúde e clínicos gerais) devem considerar fazer duas perguntas para identificar uma possível depressão, no primeiro contato da mulher com a unidade básica de saúde, na primeira consulta com a parteira (geralmente, próximo da 10ª semana de gestação) e no pós-parto (primeiro ano após o parto):[5]National Institute for Health and Care Excellence. Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. Feb 2020 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/cg192
Durante o último mês, você frequentemente se sentiu desanimado, deprimido ou sem esperança?
Durante o último mês, você frequentemente sentiu pouco interesse ou prazer em fazer as coisas?
Se a mulher responder "sim" a qualquer uma das perguntas iniciais, apresentar risco de desenvolver um problema de saúde mental ou houver uma preocupação clínica, considere:
Usar a Escala de Depressão Pós-Parto de Edimburgo (EPDS)
Usar o PHQ-9 como parte de uma avaliação completa ou
Encaminhar a mulher ao clínico geral ou, havendo suspeita de problema de saúde mental grave, a um profissional de saúde mental.[5]National Institute for Health and Care Excellence. Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. Feb 2020 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/cg192
Recomenda-se fazer perguntas sobre os sintomas depressivos, no mínimo, no início da gestação (primeira consulta com a parteira) e no pós-parto (primeiro ano após o parto). Mulheres com alto risco devido a uma história anterior ou atual de transtorno depressivo grave deveriam, idealmente, estar sob os cuidados de um psiquiatra perinatal especialista; os médicos devem perguntar sobre sintomas depressivos em cada contato.[5]National Institute for Health and Care Excellence. Antenatal and postnatal mental health: clinical management and service guidance. Feb 2020 [internet publication].
http://www.nice.org.uk/guidance/cg192
Escolha da ferramenta de rastreamento
A escala de depressão pós-parto de Bromley (BPDS), a EPDS e a escala de triagem de depressão pós-parto (Postpartum Depression Screening Scale - PDSS) são medições autorrelatadas especificamente projetadas para o rastreamento de depressão no período pós-parto.[107]Cox JL, Holden JM, Sagovsky R. Detection of postnatal depression: development of the 10-item Edinburgh Postnatal Depression Scale. Br J Psychiatry. 1987 Jun;150:782-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3651732?tool=bestpractice.com
[108]Stein G, Van Den Akker O. The retrospective diagnosis of postnatal depression by questionnaire. J Psychosom Res. 1992 Jan;36(1):67-75.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1538351?tool=bestpractice.com
[109]Beck CT, Gable RK. Postpartum Depression Screening Scale: development and psychometric testing. Nurs Res. 2000 Sep-Oct;49(5):272-82.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11009122?tool=bestpractice.com
A EPDS vem sendo estudada mais amplamente.[134]Sultan P, Ando K, Elkhateb R, et al. Assessment of patient-reported outcome measures for maternal postpartum depression using the Consensus-Based Standards for the Selection of Health Measurement Instruments guideline: a systematic review. JAMA Netw Open. 2022 Jun 1;5(6):e2214885.
https://jamanetwork.com/journals/jamanetworkopen/fullarticle/2793554
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35749118?tool=bestpractice.com
A sensibilidade e especificidade dos pontos de corte mostram uma heterogeneidade marcada entre diferentes estudos. Os resultados de sensibilidade variaram de 34% a 100% e os de especificidade, de 44% a 100%.[110]Gibson J, McKenzie-McHarg K, Shakespeare J, et al. A systematic review of studies validating the Edinburgh Postnatal Depression Scale in antepartum and postpartum women. Acta Psychiatr Scand. 2009 May;119(5):350-64.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1600-0447.2009.01363.x/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19298573?tool=bestpractice.com
O escore de corte >12 tem um valor preditivo positivo geral de 57% e um valor preditivo negativo de 99%. Valores de corte mais baixos (por exemplo, 10 ou 11) podem ser usados se a intenção for evitar falsos-negativos.[4]American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG clinical practice guideline no. 4: screening and diagnosis of mental health conditions during pregnancy and postpartum. Jun 2023 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/clinical-practice-guideline/articles/2023/06/screening-and-diagnosis-of-mental-health-conditions-during-pregnancy-and-postpartum
Outras ferramentas, como o Inventário de Depressão de Beck, podem ser valiosas, mas necessitam de pesquisas futuras.[112]Beck AT, Ward CH, Mendelson M, et al. An inventory for measuring depression. Arch Gen Psychiatry. 1961 Jun;4:561-71.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13688369?tool=bestpractice.com
[113]Boyd RC, Le HN, Somberg R. Review of screening instruments for postpartum depression. Arch Womens Ment Health. 2005 Sep;8(3):141-53.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16133785?tool=bestpractice.com
Use essas ferramentas de rastreamento para identificar mulheres que necessitam de uma avaliação clínica mais aprofundada. Ao utilizar ferramentas de rastreamento, leve em consideração as recomendações das diretrizes específicas do país, bem como o contexto cultural da mulher.[114]Zubaran C, Schumacher M, Roxo MR, et al. Screening tools for postpartum depression: validity and cultural dimensions. Afr J Psychiatry (Johannesbg). 2010 Nov;13(5):357-65.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21390406?tool=bestpractice.com
O atendimento médico online (eHealth) é um novo método de prestação de serviços, que tem o potencial de aumentar o acesso da paciente ao diagnóstico e tratamento por ampliar as oportunidades de consultas remotas. O ACOG observa que o rastreamento online por meio da internet e em tablets é aceitável para as pacientes, assim como o rastreamento por mensagem de texto.[4]American College of Obstetricians and Gynecologists. ACOG clinical practice guideline no. 4: screening and diagnosis of mental health conditions during pregnancy and postpartum. Jun 2023 [internet publication].
https://www.acog.org/clinical/clinical-guidance/clinical-practice-guideline/articles/2023/06/screening-and-diagnosis-of-mental-health-conditions-during-pregnancy-and-postpartum
O rastreamento telefônico da depressão pós-parto foi estudado e os dados provisórios são encorajadores, embora existam atualmente evidências limitadas de ECRC sobre a eficácia desta abordagem e sejam necessárias mais evidências.[146]van den Heuvel JF, Groenhof TK, Veerbeek JH, et al. eHealth as the next-generation perinatal care: an overview of the literature. J Med Internet Res. 2018 Jun 5;20(6):e202.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6008510
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29871855?tool=bestpractice.com