Etiologia

A etiologia é mal compreendida e falta consenso clínico; o desenvolvimento da depressão pós-parto provavelmente envolve uma interação entre fatores psicológicos, sociais e biológicos.​[31]​​

Para episódios de depressão maior que não sejam psicóticos, contesta-se uma relação específica com o parto. Foi sugerido que a depressão não é mais comum após o parto, que o quadro clínico não é diferente daquele da depressão que ocorre em outros momentos e que as opções de tratamento são as mesmas (embora ajustes farmacológicos possam ser necessários para mulheres que estão amamentando).[32] A gravidez e o período pós-parto podem ser um período de enorme perturbação psicossocial para muitas novas mães, o que pode funcionar como um potente gatilho ambiental para um episódio depressivo.

As flutuações hormonais que ocorrem entre a gravidez e o período pós-parto foram postuladas como um potencial fator causador do desenvolvimento da depressão no início do período pós-parto em um subgrupo de pacientes.[33][34][35]​​​ Estudos sobre o papel dos hormônios do estresse pré-natal e pós-parto produziram resultados mistos, e até o momento não foram relatadas grandes diferenças no perfil hormonal de mulheres que desenvolvem depressão pós-parto.[31]​​[36]​​​​

Os possíveis fatores causais incluem o seguinte:

  • Doença psiquiátrica

    • Uma história pregressa de transtorno de humor ou ansiedade (perinatal ou não) é o fator de risco mais forte para depressão pós-parto.[6][37][38][39][40][41]

    • Todos os diagnósticos psiquiátricos, incluindo ansiedade, transtorno de pânico, transtorno bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse pós-traumático e transtorno alimentar conferem aumento do risco de depressão pós-parto.[42] A depressão pós-parto apresenta maior probabilidade de ocorrer em mulheres com história de depressão prévia ou ansiedade.[37][38][39][40][41]​ A descontinuação de tratamentos psicofarmacológicos aumenta o risco de depressão pós-parto em mulheres com depressão ou transtorno bipolar.[43]

    • As mulheres em depressão pré-natal apresentam um risco cinco vezes maior de evoluir para depressão pós-parto, enquanto aquelas com ansiedade pré-parto têm risco três vezes maior.[41]

    • Dois estudos longitudinais também relatam que sintomas hipomaníacos no dia 3 são preditores de sintomas depressivos em 6 semanas após o parto.[44][45]

  • Fatores psicossociais

    • Eventos cotidianos: há uma forte associação entre eventos cotidianos negativos recentes e a depressão pós-parto.[46]

    • Apoio social insuficiente: apoios emocionais e instrumentais têm sido negativamente correlacionados com a depressão pós-parto.[37][38][47][48] A percepção de isolamento social foi um forte preditor de depressão no período pós-parto em uma amostra de mulheres negras de baixa renda.[49] Notou-se que problemas matrimoniais durante a gestação e falta de um parceiro solidário foram fatores que contribuíram de forma moderada no aumento do risco de depressão pós-parto.[38][50]

    • As violências psicológica, sexual e física contra mulheres provocadas por seu parceiro íntimo durante a gravidez estão associadas de forma independente à depressão pós-parto.[51][52][53][54][55]

    • Baixa renda, dificuldade financeira, desemprego e baixo status social têm um efeito reduzido, mas significativamente preditor, na depressão pós-parto.[38][49]

    • Na presença de adversidade psicossocial clara e depressão pós-parto leve a moderada, o risco de episódios depressivos subsequentes pode depender da persistência das circunstâncias adversas.[11]

    • A relação entre a condição migratória e a depressão pós-parto não é clara. Além dos fatores de risco gerais conhecidos, a falta de proficiência na língua do país de acolhimento e a condição de refugiada ou pessoa que procura asilo também estão associadas ao aumento do risco de transtornos mentais perinatais em mulheres migrantes.[56]

  • Traços de personalidade

    • Altos escores de neuroticismo[38][39][57] e escores de baixa autoestima[37][57] demonstraram ser preditores fracos a moderados de depressão pós-parto. Entretanto, não há evidências que esses traços ou estilos atribuam um risco específico para o início pós-parto de episódios depressivos.[58]

  • Fatores genéticos e familiares

    • A vulnerabilidade à depressão pós-parto em até 8 semanas do parto pode ser hereditária; entre mulheres com história de depressão maior, 42% das que tinham história familiar de episódios depressivos pós-parto apresentaram depressão após o primeiro parto, em comparação com 15% daquelas sem história familiar.[2] Entretanto, para mulheres sem uma história pessoal de depressão maior, a importância de uma história familiar positiva é menos clara.[59]

    • Um estudo australiano em gêmeas[60] relatou que fatores genéticos são responsáveis por 26% a 49% da variação nos sintomas depressivos pós-parto, enquanto em uma coorte baseada na população da Suécia, com 580,006 irmãs, a hereditariedade da depressão perinatal foi estimada entre 44% e 54%, com 33% da variação genética exclusiva para depressão perinatal (ou seja, não compartilhada com depressão em outras ocasiões).[61]

    • Um estudo de registro dinamarquês indicou que a história familiar de transtornos psiquiátricos, principalmente transtorno bipolar, em parentes de primeiro grau é um fator de risco importante para transtornos psiquiátricos pós-parto de maneira geral.[62]

    • As evidências genéticas moleculares são esparsas.[63]​ No geral, parece haver semelhanças nos polimorfismos genéticos associados ao transtorno depressivo maior na população não perinatal.[63][64]​​​ Há também algumas evidências de que a depressão pós-parto pode ter componentes genéticos únicos, distintos daqueles que aumentam a suscetibilidade ao transtorno depressivo maior na população não perinatal.[65]

    • Um estudo de ligação genômica sugere que a variação genética nos cromossomos 1q e 9p pode aumentar a susceptibilidade a sintomas de humor pós-parto amplamente definidos em uma amostra de mulheres com transtorno unipolar e transtorno bipolar.[66]

  • Privação de sono

    • Alterações no sono durante a gestação estão associados com sintomas depressivos no período pós-parto, o que sugere que a regulação do tempo de sono pode ser um fator de risco modificável para o desenvolvimento da depressão pós-parto.[67][68]​ Foi sugerida uma forte associação entre os padrões de sono do lactente, fadiga materna e sintomas depressivos iniciais no período pós-parto. Existem estudos verificando o efeito de intervenções terapêuticas na redução da privação do sono nas primeiras semanas pós-parto,[69] mas os resultados não são conclusivos.[70]

  • Complicações da gestação e do parto

    • Podem ter um efeito pequeno, mas significativo, sobre o início da depressão pós-parto.[37][38][71]

  • Idade materna jovem

    • Um estudo constatou que mães com menos de 16 anos apresentam maior risco de depressão pós-parto.[39]

Fisiopatologia

A fisiopatologia exata é desconhecida, mas há evidências que sugerem que fatores hormonais, a genética e a função imune podem desempenhar um papel.​[35][72]​​[73]​​ A depressão pós-parto pode abranger vários fenótipos depressivos distintos, uma vez que existe uma variação substancial nos fatores de risco e nos quadros clínicos entre os pacientes, como o momento de início e a história de depressão.[74]​ Sugere-se que um subgrupo de mulheres que tornam-se depressivas após o parto pode ter uma sensibilidade anormal às alterações fisiológicas normais do parto.[33] Também foi sugerido que a resposta inflamatória após o trabalho de parto e o parto em si pode ser exagerada em mulheres que desenvolvem depressão pós-parto.[75]

Classificação

Mais comuns

Os transtornos afetivos pós-parto são tipicamente divididos em três categorias.

  • Distúrbios secundários do humor

    • A "melancolia pós-parto" ou "baby blues" é uma condição comum, mas transitória, que afeta de 30% a 80% das mulheres após o parto.[8] As mulheres também podem apresentar sintomas de humor hipomaníaco (o humor "elevado") nesse momento.[9][10]

    • A mãe tipicamente se apresenta com oscilações de humor, que vão desde a elação até tristeza, insônia, choro frequente, crises de choro, irritabilidade, ansiedade e diminuição da concentração. Os sintomas se desenvolvem dentro de 2 a 3 dias após o parto, atingindo a intensidade máxima no quinto dia, e se resolvem em até 2 semanas.

    • Os transtornos de humor secundários não necessitam de tratamento, mas podem indicar um aumento do risco de evoluir para um transtorno de humor clinicamente significativo mais tarde no período pós-parto.​[11]

  • Depressão pós-parto

    • Os episódios de depressão clínica ocorrem comumente após o parto e podem causar perturbações significativas para a mulher e sua família. Aproximadamente 10% das mães apresentam sintomas depressivos clinicamente significativos durante os primeiros 6 meses após o parto, embora nem todas recebam tratamento.

    • Em relação aos transtornos de humor secundários, os episódios de depressão pós-parto podem durar meses ou até anos, com prejuízos significativos e consequências graves em longo prazo.

  • Psicose pós-parto

    • As formas mais graves de transtornos de humor pós-parto são denominadas tradicionalmente como psicoses pós-parto (ou puerperais). Embora o transtorno não seja de fácil definição, a principal característica é o início agudo de uma psicose maníaca, mista ou depressiva no período imediatamente pós-parto.

    • A psicose pós-parto ocorre em 1 a cada 1000 partos e é uma emergência psiquiátrica.[12][13]​​ A psicose pós-parto pode ocorrer raramente na depressão unipolar, mas está mais tipicamente associada ao transtorno bipolar.[13]

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