O diagnóstico é feito, primeiro, pela detecção da presença de ascite, depois pela busca de sinais e sintomas consistentes com irritação peritoneal ou sinais de infecção sistêmica e, finalmente, pela confirmação com teste de líquido peritoneal.
Anamnese e exame físico
Os pacientes com doença hepática em estágio terminal que apresentam encefalopatia hepática, cirrose descompensada, aumento no volume e/ou frequência da ascite ou sangramento gastrointestinal estão particularmente em alto risco de peritonite bacteriana espontânea (PBE). Os pacientes que fizeram recentemente endoscopia terapêutica também correm risco. Ascite devido a malignidade, insuficiência renal ou insuficiência cardíaca congestiva também carregam um risco, apesar de serem menos descritas que o risco em pacientes com doença hepática em estágio terminal.[78]Makharia GK, Sharma BC, Bhasin DK, et al. Spontaneous bacterial peritonitis in a patient with gastric carcinoma. J Clin Gastroenterol. 1998 Oct;27(3):269-70.
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A apresentação típica da PBE inclui dor abdominal, febre, aumento da ascite, íleo paralítico e/ou estado mental alterado em um paciente com doença hepática conhecida; no entanto, um terço dos pacientes também pode ser assintomático ou apresentar apenas sintomas leves.[1]Rimola A, Garcia-Tsao G, Navasa M, et al; International Ascites Club. Diagnosis, treatment and prophylaxis of spontaneous bacterial peritonitis: a consensus document. J Hepatol. 2000 Jan;32(1):142-53.
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[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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[79]Long B, Gottlieb M. Emergency medicine updates: spontaneous bacterial peritonitis. Am J Emerg Med. 2023 Aug;70:84-9.
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A ampla gama de possíveis achados no exame físico inclui sintomas de peritonite (por exemplo, vômitos, diarreia, íleo paralítico, desconforto abdominal), inflamação sistêmica (por exemplo, hipotermia, hipertermia, taquicardia, taquipneia), choque, encefalopatia hepática, insuficiência renal e sangramento gastrointestinal.[80]European Association for the Study of the Liver. EASL clinical practice guidelines on the management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis, and hepatorenal syndrome in cirrhosis. J Hepatol. 2010 Sep;53(3):397-417.
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O teste do fluido peritoneal é a única forma de confirmar ou descartar a PBE; sinais, sintomas e "gestalt" do clínico não são confiáveis.[81]Chinnock B, Afarian H, Minnigan H, et al. Physician clinical impression does not rule out spontaneous bacterial peritonitis in patients undergoing emergency department paracentesis. Ann Emerg Med. 2008 Sep;52(3):268-73.
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[82]Chinnock B, Hendey GW, Minnigan H, et al. Clinical impression and ascites appearance do not rule out bacterial peritonitis. J Emerg Med. 2013 May;44(5):903-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23473819?tool=bestpractice.com
Detecção de ascite
Há diversas manobras para se detectar ascite, incluindo exame em busca de macicez no flanco, macicez móvel, onda de fluidos e percussão na ausculta.
A macicez no flanco é identificada pela percussão da parede abdominal começando na região periumbilical e indo para fora para as áreas dependentes dos flancos. Se a ascite estiver presente, há uma alteração do timpanismo para macicez.
Para detectar macicez móvel, o abdome deve ser percutido a partir do umbigo lateralmente e observado o nível no qual o timpanismo vira macicez. Depois, o paciente deve ser colocado em posição de decúbito lateral direito. O abdome é percutido novamente, iniciando no lado esquerdo e indo em direção ao direito. Se a ascite estiver presente, o nível no qual o timpanismo muda para macicez terá mudado.
É necessária assistência para detectar uma onda de fluidos. O paciente deve estar na posição supina, e a lateral ulnar da mão e do antebraço do assistente é colocada longitudinalmente na linha média da parede abdominal anterior. As mãos do médico examinador são então colocadas em um dos lados do abdome. Quando uma mão atinge o abdome, uma onda de fluidos é sentida pela outra mão em um paciente com ascite.
A percussão na ausculta é conduzida com o paciente na posição ortostática. A ausculta é iniciada logo acima da sínfise púbica enquanto se faz a percussão da margem costal para baixo até a pelve. Normalmente, há uma transição brusca de silêncio para barulho na borda pélvica. Em um paciente com ascite, a transição ocorre mais acima.
As sensibilidades e especificidades desses sinais de ascite são amplamente variáveis. A percussão da parede abdominal é a mais sensível de todas as manobras para ascite, com uma sensibilidade de 84%.[83]McGibbon A, Chen GI, Peltekian KM, et al. An evidence-based manual for abdominal paracentesis. Dig Dis Sci. 2007 Dec;52(12):3307-15.
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A ultrassonografia é o exame definitivo para a detecção de ascite. Até 25% dos pacientes com suspeita de ascite através de técnicas de exame físico e que depois fazem ultrassonografia abdominal são diagnosticados como não tendo ascite ou com ascite mínima.[84]Nazeer SF, Dewbre H, Miller AH. Ultrasound-assisted paracentesis performed by emergency physicians versus the traditional technique: a prospective, randomized study. Am J Emerg Med. 2005 May;23(3):363-7.
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A ultrassonografia pode determinar a adequação de fluidos para paracentese e pode ajudar a localizar o procedimento.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Ultrassonografia abdominal mostrando grande quantidade de ascite com alças intestinaisDo acervo pessoal do Dr. Brian Chinnock, MD; usado com permissão [Citation ends].
Investigações iniciais
Os exames laboratoriais iniciais devem incluir:[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
https://www.doi.org/10.1002/hep.31884
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33942342?tool=bestpractice.com
[85]Miller JM, Binnicker MJ, Campbell S, et al. Guide to utilization of the microbiology laboratory for diagnosis of infectious diseases: 2024 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society for Microbiology (ASM). Clin Infect Dis. 2024 Mar 5:ciae104.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae104/7619499
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38442248?tool=bestpractice.com
Hemograma completo, que pode mostrar uma contagem de leucócitos elevada; anemia pode ser uma pista para um sangramento gastrointestinal.
Creatinina, já que a síndrome hepatorrenal pode ocorrer concomitantemente.
Testes da função hepática, para estabelecer exames laboratoriais básicos e monitorar a saúde do fígado.
TP/INR devem ser realizados se houver sangramento gastrointestinal ou outro sangramento.
Hemocultura, que pode ajudar na identificação do organismo patogênico quando o resultado da cultura do líquido peritoneal for insatisfatória. A Infectious Diseases Society of America (IDSA) recomenda 2 a 3 conjuntos de hemoculturas para identificação de bacteremia concomitante.
Paracentese diagnóstica
Devido à alta prevalência de PBE em pacientes hospitalizados com cirrose e ascite, a paracentese diagnóstica deve ser realizada em todos os pacientes com essas duas condições, mesmo na ausência de sintomas sugestivos de infecção.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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[64]European Association for the Study of the Liver. EASL clinical practice guidelines for the management of patients with decompensated cirrhosis. J Hepatol. 2018 Aug;69(2):406-60.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29653741?tool=bestpractice.com
Pacientes com ascite conhecida que apresentam sangramento gastrointestinal ou encefalopatia hepática também devem geralmente ser avaliados para PBE. A paracentese diagnóstica mostrou-se segura em pacientes com coagulopatia significativa ou trombocitopenia; não se indica transfusão de plasma fresco congelado ou de plaquetas antes da paracentese diagnóstica em pacientes com coagulopatia.
Deve-se realizar um diagnóstico por paracentese o mais rápido possível.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33942342?tool=bestpractice.com
A paracentese precoce em pacientes hospitalizados com ascite foi associada à menor mortalidade por todas as causas, à mortalidade por PBE e à taxa de reinternação em 30 dias em um grande estudo com dados de pacientes hospitalizados.[90]Rosenblatt R, Tafesh Z, Shen N, et al. Early Paracentesis in high-risk hospitalized patients: time for a new quality indicator. Am J Gastroenterol. 2019 Dec;114(12):1863-9.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31688022?tool=bestpractice.com
Análise laboratorial do líquido ascítico
Os testes decisivos no líquido peritoneal para a análise de PBE são a celularidade e a cultura.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
https://www.doi.org/10.1002/hep.31884
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33942342?tool=bestpractice.com
Um mínimo de 10 mL (e até 50 mL, se disponível) de líquido peritoneal deve ser cultivado assepticamente à beira do leito em frascos de hemocultura aeróbia e anaeróbia antes da administração de antibióticos.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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[85]Miller JM, Binnicker MJ, Campbell S, et al. Guide to utilization of the microbiology laboratory for diagnosis of infectious diseases: 2024 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society for Microbiology (ASM). Clin Infect Dis. 2024 Mar 5:ciae104.
https://academic.oup.com/cid/advance-article/doi/10.1093/cid/ciae104/7619499
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38442248?tool=bestpractice.com
Os exames laboratoriais adicionais devem incluir análise de líquidos para proteína, lactato desidrogenase (LDH) e pH.[85]Miller JM, Binnicker MJ, Campbell S, et al. Guide to utilization of the microbiology laboratory for diagnosis of infectious diseases: 2024 update by the Infectious Diseases Society of America (IDSA) and the American Society for Microbiology (ASM). Clin Infect Dis. 2024 Mar 5:ciae104.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38442248?tool=bestpractice.com
A aparência macroscópica do líquido também pode ser examinada pela equipe do laboratório.
Celularidade
Uma contagem absoluta de neutrófilos (ANC) no líquido peritoneal >250 células/mm³ é o critério aceito para o diagnóstico de PBE.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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Embora uma ANC >500 células/mm³ seja mais específica para o diagnóstico, um índice de fracasso no diagnóstico de PBE em pacientes com ANC entre 250-500 células/mm³ é inaceitavelmente alto.[1]Rimola A, Garcia-Tsao G, Navasa M, et al; International Ascites Club. Diagnosis, treatment and prophylaxis of spontaneous bacterial peritonitis: a consensus document. J Hepatol. 2000 Jan;32(1):142-53.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10673079?tool=bestpractice.com
Portanto, um paciente aceite como de alto risco para peritonite bacteriana espontânea (PBE) deve ser considerado para tratamento.
Descobriu-se que as celularidades por métodos automatizados são equivalentes às celularidades por métodos manuais no exame do líquido ascítico.[91]Angeloni S, Nicolini G, Merli M, et al. Validation of automated blood cell counter for the determination of polymorphonuclear cell count in the ascitic fluid of cirrhotic patients with or without spontaneous bacterial peritonitis. Am J Gastroenterol. 2003 Aug;98(8):1844-8.
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[92]Riggio O, Angeloni S, Parente A, et al. Accuracy of the automated cell counters for management of spontaneous bacterial peritonitis. World J Gastroenterol. 2008 Oct 7;14(37):5689-94.
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[93]Cereto F, Genesca J, Segura R. Validation of automated blood cell counters for the diagnosis of spontaneous bacterial peritonitis. Am J Gastroenterol. 2004 Jul;99(7):1400.
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Cultura
A cultura do líquido ascítico, mesmo em pacientes com PBE evidente, proporciona um baixo resultado devido à baixa concentração de bactérias comparada às infecções em outros líquidos orgânicos (por exemplo, urina).
A inoculação do líquido ascítico diretamente em frascos de hemocultura à beira do leito demonstrou um resultado significativamente elevado e deve ser o método padrão de coleta.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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[94]Runyon BA, Canawati HN, Akriviadis EA. Optimization of ascitic fluid culture technique. Gastroenterology. 1988 Nov;95(5):1351-5.
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No entanto, as culturas são ainda negativas em aproximadamente 50% dos pacientes com uma ANC de ascite >250 células/mm³.[1]Rimola A, Garcia-Tsao G, Navasa M, et al; International Ascites Club. Diagnosis, treatment and prophylaxis of spontaneous bacterial peritonitis: a consensus document. J Hepatol. 2000 Jan;32(1):142-53.
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[19]Boixeda D, De Luis DA, Aller R, et al. Spontaneous bacterial peritonitis: clinical and microbiological study of 233 episodes. J Clin Gastroenterol. 1996 Dec;23(4):275-9.
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O crescimento polimicrobiano pode ser sugestivo de peritonite secundária.
Aparência do líquido
Descrições subjetivas do líquido ascítico por técnicos de laboratório como anormal com os descritores "turvo", "nebuloso" ou "sanguinolento" têm uma sensibilidade entre 72% e 98% para a detecção de PBE.[82]Chinnock B, Hendey GW, Minnigan H, et al. Clinical impression and ascites appearance do not rule out bacterial peritonitis. J Emerg Med. 2013 May;44(5):903-9.
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[95]Chinnock B, Hendey GW. Can clear ascitic fluid appearance rule out spontaneous bacterial peritonitis? Am J Emerg Med. 2007 Oct;25(8):934-7.
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A impressão clínica, incluindo uma avaliação da aparência de líquido ascítico, não deve ser usada para descartar o diagnóstico.[82]Chinnock B, Hendey GW, Minnigan H, et al. Clinical impression and ascites appearance do not rule out bacterial peritonitis. J Emerg Med. 2013 May;44(5):903-9.
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Outros exames que podem ser realizados no líquido ascítico incluem glicose, coloração e cultura para bactérias álcool-ácido resistentes (BAAR), cultura de fungos e microscopia para ovos e parasitas, dependendo do contexto clínico.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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[96]Neungton N, Kachintorn U, Chinapak O, et al. Significance of ascitic fluid white blood cells, pH, lactate, and other chemistry in immediate diagnosis of spontaneous bacterial peritonitis. J Med Assoc Thai. 1994 May;77(5):266-70.
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A dosagem do antígeno carcinoembriogênico e da fosfatase alcalina pode ser realizada para ajudar a diferenciar a PBE da peritonite secundária.[97]Wu SS, Lin OS, Chin YY, et al. Ascitic fluid carcinoembryonic antigen and alkaline phosphatase levels for the differentiation of primary from secondary bacterial peritonitis with intestinal perforation. J Hepatol. 2001 Feb;34(2):215-21.
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A medição do gradiente de albumina soro-ascite (GASA) e da concentração de proteína ascítica total deve ser considerada para um primeiro episódio de ascite, com a medição de GASA recomendada se houver suspeita de uma causa de ascite diferente da cirrose.[61]Biggins SW, Angeli P, Garcia-Tsao G, et al. Diagnosis, evaluation, and management of ascites, spontaneous bacterial peritonitis and hepatorenal syndrome: 2021 practice guidance by the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2021 Aug;74(2):1014-48.
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A lactoferrina no líquido ascítico também pode ser medida. Além de ajudar a identificar a PBE em um paciente cirrótico com ascite, a lactoferrina elevada em um paciente cirrótico sem PBE pode indicar um carcinoma hepático em desenvolvimento.[98]Lee SS, Min HJ, Choi JY, et al. Usefulness of ascitic fluid lactoferrin levels in patients with liver cirrhosis. BMC Gastroenterol. 2016 Oct 13;16(1):132.
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O teste da tira reagente altamente sensível para esterase leucocitária (Periscreen), um teste criado para examinar o líquido peritoneal de diálise em busca de infecção, foi estudado no líquido ascítico para descartar PBE e pode ser útil se o exame laboratorial do líquido peritoneal não estiver disponível. Em um estudo multicêntrico que avaliou 84 amostras de líquido ascítico de 9 pacientes ambulatoriais (17 amostras de líquido ascítico) e 31 pacientes hospitalizados (67 amostras de líquido ascítico) diagnosticados com PBE, o teste da tira reagente para esterase leucocitária teve uma sensibilidade de 92% e especificidade de 57%.[99]Thévenot T, Briot C, Macé V, et al; CFEHTP, ANGH and the PerDRISLA Study Group. The Periscreen strip is highly efficient for the exclusion of spontaneous bacterial peritonitis in cirrhotic outpatients. Am J Gastroenterol. 2016 Oct;111(10):1402-9.
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Um estudo baseado em pronto-socorro demonstrou uma sensibilidade de 95%.[100]Chinnock B, Woolard RE, Hendey GW, et al. Sensitivity of a bedside reagent strip for the detection of spontaneous bacterial peritonitis in ED patients with ascites. Am J Emerg Med. 2019 Dec;37(12):2155-8.
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As tiras reagentes para esterase leucocitária à beira do leito (urina padrão) do líquido ascítico têm sido estudadas na avaliação de PBE. A tira reagente é mergulhada no líquido ascítico e, após 60-120 segundos, o resultado é analisado de acordo com a escala colorimétrica daquela tira reagente. A maioria dos estudos usou uma cor de tira que dá um resultado positivo correspondente à faixa de 15 (1+) e 125 leucócitos/mL (3+). Uma metanálise encontrou sensibilidades variando de 45% a 100% e especificidades variando de 81% a 100%.[101]Koulaouzidis A, Leontiadis GI, Abdullah M, et al. Leukocyte esterase reagent strips for the diagnosis of spontaneous bacterial peritonitis: a systematic review. Eur J Gastroenterol Hepatol. 2008 Nov;20(11):1055-60.
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A baixa sensibilidade nesses estudos demonstrou que o teste da tira reagente para esterase leucocitária à beira do leito não é adequado para descartar rapidamente a PBE. Atualmente, ele não é amplamente utilizado nem recomendado nas diretrizes atuais da EASL ou AASLD. No entanto, ele pode desempenhar um papel na facilitação da administração rápida de antibioticoterapia, particularmente em ambientes sem testes de microscopia de líquido ascítico disponíveis.
tomografia computadorizada abdominal
Se houver suspeita de perfuração intra-abdominal, a TC deve ser fortemente considerada.[102]Ross JT, Matthay MA, Harris HW. Secondary peritonitis: principles of diagnosis and intervention. BMJ. 2018 Jun 18;361:k1407.
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A TC também deve ser considerada em pacientes com achados sugestivos de peritonite secundária (como líquido com presença de bile, crescimento de múltiplos micro-organismos na cultura do líquido ascítico, ausência de melhora clínica apesar de antibióticos apropriados por 48 horas e ausência de história de doença hepática ou neoplasia maligna para explicar a ascite), pois pode demonstrar ar livre.[103]American College of Radiology. ACR appropriateness criteria: acute nonlocalized abdominal pain. 2018 [internet publication].
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Escore de decisão clínica
A avaliação por meio do escore de insuficiência hepática crônica e determinação da falência orgânica sequencial (CLIF-SOFA) pode ajudar a determinar a gravidade da doença em pacientes que apresentam PBE. É semelhante ao escore SOFA, o escore preditivo que avalia a gravidade da doença em pacientes com sepse. Foi demonstrado que o CLIF-SOFA tem melhor valor preditivo para mortalidade intra-hospitalar em pacientes cirróticos com infecção em comparação aos critérios Sepsis-3 ou qSOFA.[104]Kim JH, Jun BG, Lee M, et al. Reappraisal of sepsis-3 and CLIF-SOFA as predictors of mortality in patients with cirrhosis and infection presenting to the emergency department: a multicenter study. Clin Mol Hepatol. 2022 Jul;28(3):540-52.
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Os pacientes com escore CLIF-SOFA ≥7 apresentam mortalidade >20% e, portanto, podem se beneficiar de uma antibioticoterapia empírica mais ampla.[105]Moreau R, Jalan R, Gines P, et al. Acute-on-chronic liver failure is a distinct syndrome that develops in patients with acute decompensation of cirrhosis. Gastroenterology. 2013 Jun;144(7):1426-37.
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