Etiologia
A toxicidade resulta quase exclusivamente da inalação ou ingestão de partículas de chumbo de fontes ambientais, alimentos ou água. Compostos de chumbo orgânico hoje são raros, exceto onde a gasolina com chumbo está disponível e é inalada.
As fontes de exposição incluem as seguintes:
Moradias antigas: vários levantamentos indicaram que a maioria dos casos de exposição domiciliar ao chumbo ocorre em casas construídas antes de 1950.
Deterioração de superfícies pintadas: há uma forte associação entre a condição da pintura em casas antigas e a exposição ao chumbo. Superfícies em deterioração que descascam e se soltam. A deterioração de superfícies pintadas contamina a poeira dentro de casa e o solo ao seu redor.[6]
Exposição ocupacional: indivíduos que trabalham em determinados setores (por exemplo, produção de baterias, construção pesada, mineração, reparo automotivo, reciclagem de metais/eletrônicos) apresentam alto risco de exposição ao chumbo transportado pelo ar.[12] Trabalhadores de pequenas empresas, como pintores e encanadores terceirizados, também correm risco.[9][13]
Hobbies: a construção de objetos de vitral soldados com materiais que contêm chumbo e a fabricação de projéteis (armamentos) e pesos de pesca em casa geralmente expõem o indivíduo a altos níveis de chumbo transportado pelo ar.[6][13]
Tiro ao alvo: a exposição ao chumbo ocorre por inalação do chumbo transportado pelo ar ou por contaminação de roupas e outros objetos com chumbo. É um risco principalmente para instrutores e outras pessoas que trabalham na linha de tiro. A exposição pode ser limitada por uma boa filtração e renovação de ar, pelo uso apropriado de roupas de proteção e restrições em comer e beber na linha de tiro.[14]
Medicamentos tradicionais de grupos culturais: medicamentos tradicionais mexicanos (por exemplo, azarcon e greta), pay-loo-ah (medicamento tradicional dos Hmong) e medicina ayurvédica.[10][11][15][16] Uma lista detalhada das fontes de exposição está disponível nos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.[6]
Água contaminada com chumbo: canos de chumbo e canos de cobre soldados com chumbo apresentam um risco significativo de exposição quando a água ácida (agressiva) entra em contato com o chumbo.[17] O conteúdo de chumbo no abastecimento de água diminui significativamente com a água corrente e com a elevação do pH. Na maioria dos países desenvolvidos, não é permitido o uso de soldas de chumbo no abastecimento de água de edifícios comerciais e residenciais, e os canos de fornecimento de água feitos de chumbo estão sendo substituídos.[18][19][20]
Brinquedos e outros objetos: o chumbo em objetos e brinquedos domiciliares é uma preocupação considerável porque pode oferecer riscos às crianças. Embora diversos casos de tais exposições tenham sido relatados, eles constituem uma minoria das exposições significativas.[6]
Fragmentos de bala ou estilhaços retidos: podem constituir uma fonte persistente de exposição ao chumbo.[9]
Exposição fetal: os depósitos de chumbo materno são mobilizados para o feto durante a gestação. Essa mobilização é um fator de risco para a perda fetal e para a subsequente deficiência neurológica do bebê após o parto.[21]
Fisiopatologia
Pequenas partículas de chumbo são bem absorvidas pelos pulmões. As partículas ingeridas não são tão bem absorvidas. A absorção de chumbo é inversamente proporcional ao tamanho da partícula à qual o indivíduo foi exposto.[22]
Dietas com baixo teor de minerais, especialmente cálcio e ferro, ou com alto teor de gordura provavelmente aumentam a absorção do chumbo. A deficiência preexistente de ferro e outros minerais também aumenta a absorção do chumbo no trato gastrointestinal.[23]
A maioria do chumbo circulante se liga aos eritrócitos (99%), e apenas uma pequena fração fica no plasma (1%).[22] A ligação saturável de chumbo às proteínas de eritrócitos contribui para uma relação curvilínea entre a concentração de chumbo no sangue e a concentração de chumbo no plasma (de maneira que, em grandes níveis de exposição, uma pequena alteração na concentração de chumbo no sangue total corresponde a uma alteração relativamente maior na concentração de chumbo no plasma). O chumbo na fração do plasma é lentamente distribuído pelos tecidos, e a maior parte é excretada na urina. Devido ao fato desse processo ser lento, a toxicidade clínica geralmente requer uma exposição em longo prazo ao longo de meses ou anos. Os ossos são o maior depósito de chumbo, abrigando a grande maioria da carga de chumbo no corpo (>90%). O chumbo reside nos ossos por décadas e representa uma fonte que pode continuar afetando os tecidos, mesmo após a interrupção da exposição e/ou a administração da terapia de quelação.[24]
A proporção distribuída aos órgãos-alvo, particularmente o sistema nervoso, a medula óssea e os rins, é responsável pela toxicidade observada. O chumbo também é uma potente toxina para os túbulos renais proximais nos rins, com acúmulo de inclusões intracelulares de chumbo em altos níveis de exposição. Isso pode resultar na síndrome de Fanconi renal, com fosfatúria, glicosúria e aminoacidúria.[25] O chumbo produz uma variedade de toxicidades cardiovasculares em pacientes adultos. A principal toxicidade é a hipertensão, mas também podem ser observados doença arterial coronariana, aumento da mortalidade por acidente vascular cerebral (AVC) e doença arterial periférica. A etiologia desses efeitos é desconhecida. Alguns estudos sugerem causas renais decorrentes de taxas de filtração glomerular reduzidas ou da estimulação do sistema renina-angiotensina. Outras hipóteses propostas sugerem um efeito mais direto no tônus vascular.[26]
A intoxicação por chumbo causa disfunção neurodesenvolvimental em crianças, apesar da relação entre resposta e dose não ser linear.[27][28][29][30] Os níveis de chumbo no sangue em crianças atingem a intensidade máxima na idade de 18 a 24 meses.[6] Esse é um período crítico do desenvolvimento neurológico com rápida aquisição de habilidades e altos níveis de atividade. Também é um período de rápida sinaptogênese. Modelos in vivo e de cultura celular sugerem que a exposição ao chumbo altera a sinaptogênese.[31][32]
A fisiopatologia exata não é clara. O chumbo compete com outros minerais, particularmente com o cálcio e o zinco, nos sistemas celulares e subcelulares. Dessa forma, ele inibe vários processos dependentes de cálcio e zinco.
O chumbo interfere na função mitocondrial in vitro afetando a captação de cálcio.[33]
A proteína quinase C é uma enzima dependente do cálcio que é fundamental para a função cerebral, e sua inibição pelo chumbo pode contribuir para a neurotoxicidade.
O chumbo interfere no controle dependente do cálcio da função dos neurotransmissores nos terminais nervosos pré-sinápticos.[34][35]
O chumbo inibe duas enzimas-chave da síntese do heme ao competir com o zinco. Isso pode causar efeitos difusos em uma variedade de processos dependentes do heme.[36]
Alguns estudos sugerem que o chumbo pode induzir alterações epigenéticas que podem afetar a toxicidade induzida por chumbo.[37][38]
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