Etiologia
A hemofilia congênita tem um padrão de herança recessiva ligada ao cromossomo X.[9] Portanto, a condição acomete exclusivamente meninos/homens, embora muitas portadoras do sexo feminino apresentem níveis de fator de coagulação na faixa de hemofilia em razão de lionização (inativação aleatória do cromossomo X normal) e possam apresentar sintomas de sangramento que requeiram controle adequado. São raros os casos de meninas/mulheres com hemofilia grave por conta da lionização extrema, da homozigosidade, do mosaicismo ou da síndrome de Turner. Até um terço dos pacientes com hemofilia congênita não apresenta história familiar, pois a condição também pode resultar de mutações espontâneas das linhas germinativas e/ou de mosaicismo somático durante a fase inicial da embriogênese.[10] Mutações genéticas no gene do fator VIII resultam na redução dos níveis de circulação do fator de coagulação VIII, e mutações genéticas no gene do fator IX resultam na redução dos níveis de circulação do fator de coagulação IX.[11][12]
Os genes dos fatores VIII e IX estão localizados no braço longo do cromossomo X. Cerca de 50% dos casos graves de hemofilia A decorrem de inversões intracromossômicas que envolvem as regiões dos íntrons 1 e 22 do gene do fator VIII.[13] Os demais casos são causados por outras alterações genéticas, como deleções, inserções, splicing anormal ou mutações pontuais missense ou nonsense. A maioria dos casos de hemofilia B deve-se a deleções e mutações pontuais.
Há bancos de dados disponíveis de variantes genéticas nos fatores de coagulação humanos VIII e IX; o acesso pode variar de acordo com a localidade.[14] EAHAD Factor VIII Variant Database Opens in new window Factor VIII Variant Database Opens in new window EAHAD Factor IX Variant Database Opens in new window Factor IX Mutation Database Opens in new window
A hemofilia adquirida é uma condição muito mais rara, com etiologia relacionada a doenças autoimunes, sem um padrão de herança genética. Ela resulta do desenvolvimento de autoanticorpos contra fatores de coagulação, mais comumente o fator VIII. A causa da hemofilia adquirida é desconhecida; no entanto, ela pode ocorrer em associação com doenças autoimunes, doença inflamatória intestinal, diabetes, hepatite, gestação e período pós-parto, neoplasia maligna, gamopatia monoclonal e o uso de determinados medicamentos.[3][15][16][17] A hemofilia adquirida ocorre mais comumente no pós-parto e em idosos.[3]
Fisiopatologia
A coagulação do sangue normalmente ocorre por meio de uma série de reações enzimáticas. Ambos os fatores VIII e IX são cruciais para a geração de trombina pela via intrínseca de coagulação. Em pacientes com hemofilia, a formação de coágulos ocorre tardiamente como resultado da geração reduzida de trombina. Isso leva à formação de um coágulo instável, que é facilmente deslocado, causando sangramento excessivo.[18]
Classificação
Tipos de hemofilia de acordo com a herança
Hemofilia congênita: doença hereditária com padrão de herança recessiva ligada ao cromossomo X
Hemofilia adquirida: doença rara com etiologia autoimune e sem padrão de herança genética
Tipos de hemofilia de acordo com o tipo de deficit de fator
Hemofilia A: fator VIII reduzido ou ausente
Hemofilia B: fator IX reduzido ou ausente
Gravidade da hemofilia A e B com base nos níveis plasmáticos de atividade do fator VIII ou IX[1][2]
Gravidade:
Grave (nível do fator de coagulação [CFL] <1%): sangramento espontâneo frequente (ocorrendo sem causa ou trauma aparente), principalmente nas articulações e nos músculos; sangramento intenso com trauma e cirurgia.
Moderada (CFL de 1% a 5%): sangramento espontâneo ocasional (ocorrendo sem causa ou trauma aparente); sangramento intenso com trauma e cirurgia.
Leve (CFL >5% a 40%): sangramento intenso com trauma e lesão.
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