Etiologia

Acredita-se que a CBP seja uma doença autoimune. Há uma incidência muito alta de autoanticorpos, sendo a maioria direcionada contra antígenos mitocondriais (anticorpos antimitocondriais). Esses anticorpos, que estão presentes em mais de 95% dos pacientes, são direcionados principalmente contra a subunidade E2 do complexo piruvato desidrogenase (PDC-E2), embora também seja observada uma reatividade em menor grau contra outros componentes do complexo piruvato desidrogenase e de subunidades E2 de complexos enzimáticos relacionados.[16] Os pacientes com colangite biliar primária (CBP) também apresentam uma incidência mais alta de autoanticorpos direcionados contra antígenos nucleares específicos da doença (fator antinuclear [FAN]).[17] Os anticorpos FAN mais comuns observados na CBP são anti-sp100 e anti-gp210.[14]

Existe uma predisposição genética para desenvolver CBP; um parente de primeiro grau afetado aumenta o risco em quase dez vezes, e a concordância entre gêmeos monozigóticos é de 63%.[18]​ Certos antígenos HLA também foram associados ao desenvolvimento de CBP; acredita-se que eles modulam a reação do indivíduo aos estímulos ambientais e os processos biológicos envolvidos na patogênese da doença.[18][19]​​​​ Acredita-se que a perda de tolerância ao PDC-E2 e o desenvolvimento de CBP sejam desencadeados por uma exposição ambiental em indivíduos geneticamente suscetíveis. Os gatilhos ambientais putativos incluem tabagismo, exposição a compostos voláteis, tintura de cabelo, esmalte de unhas, uso de terapias de reposição hormonal, herpes-zóster e infecções do trato urinário.[13][20][21][22]

Fisiopatologia

O processo fisiopatológico clássico na CBP consiste em dano e destruição progressiva das células epiteliais biliares que revestem os pequenos ductos biliares intra-hepáticos. Há perda de imunotolerância às células epiteliais biliares, levando a inflamação, coléstase e fibrose progressiva.[18]​ Nos estágios terminais da doença, pode haver uma perda completa dos pequenos ductos intra-hepáticos. A perda da área transversal do ducto biliar dentro do fígado causa colestase com retenção variável e progressiva de ácidos biliares. O acúmulo de ácidos biliares predominantemente hidrofóbicos pode, quando retidos dessa maneira, provocar dano secundário dentro do fígado, contribuindo ainda mais para a perda progressiva dos ductos biliares. Portanto, há um elemento autossustentado para o processo de dano.

A fibrose ocorre dentro do fígado como consequência do dano progressivo, e isso pode causar cirrose ao longo de um período de tempo variável. No momento, não são claros os fatores que determinam a taxa de desenvolvimento da fibrose e o risco de cirrose (ambos parecem variar de modo significativo entre os pacientes). Isso significa que, na prática, nos primeiros estádios da doença, é difícil prever o risco de evoluir para a doença hepática avançada em qualquer paciente.

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