Abordagem

A antibioticoterapia é a base do tratamento.

Profilaxia pós-exposição

Recomenda-se a profilaxia pós-exposição com uma dose única de doxiciclina para exposições significativas nas seguintes circunstâncias:[25]

  • Picada de carrapato de alto risco: uma picada de carrapato Ixodes; pelo menos cerca de 36 horas de fixação; e em uma área altamente endêmica para a doença de Lyme.

  • Início da profilaxia dentro de 72 horas após a remoção do carrapato.

  • A doxiciclina não é contraindicada. A doxiciclina não é recomendada durante a gravidez e lactação. Em alguns países fora dos EUA, a doxiciclina não é recomendada para crianças pequenas (veja abaixo).

Uma área com prevalência de Borrelia burgdorferi de >20% em carrapatos locais é considerada uma área altamente endêmica.[25]

Os pacientes que não podem tomar doxiciclina para profilaxia pós-exposição devem iniciar o tratamento caso ocorra desenvolvimento dos sintomas iniciais.

Eritema migratório

O tratamento da doença de Lyme associado ao eritema migratório na ausência de manifestações cardiovasculares e neurológicas é o seguinte:[25][38][39][40][41][42][43][44][45]

  • Doxiciclina por 10 dias; ou amoxicilina ou cefuroxima por 14 dias. No Reino Unido, são recomendados ciclos mais longos de doxiciclina e amoxicilina (21 dias).[33]

  • Um ensaio clínico aberto e randomizado com 300 adultos na Eslovênia com eritema migratório solitário concluiu que a doxiciclina oral por 7 dias não foi inferior a 14 dias, aumentando a possibilidade de um ciclo de tratamento mais curto. Estudos maiores de diferentes locais são necessários para validar esse achado.[46]

  • A doxiciclina não é recomendada em gestantes ou lactantes; amoxicilina por 14 dias é o tratamento recomendado.

  • A doxiciclina, a amoxicilina ou a cefuroxima podem ser usadas nas crianças.[25][47] Em alguns países fora dos EUA, a doxiciclina não é recomendada para crianças pequenas (veja abaixo).

  • Não se recomenda macrolídeos como tratamento de primeira linha; eles são reservados para pacientes intolerantes a todos os antibióticos de primeira linha. Nesses casos, a azitromicina pode ser usada por 7-10 dias. Nos EUA, os macrolídeos são geralmente considerados menos eficazes que a amoxicilina, com base nos achados de um ensaio clínico randomizado que demonstrou melhor resolução dos sintomas e redução do risco de recidiva em pacientes tratados com amoxicilina em comparação com aqueles tratados com azitromicina.[48] No Reino Unido, são recomendados ciclos mais longos de azitromicina (17 dias).[33]

  • Quando o eritema migratório não puder ser distinguido da celulite adquirida na comunidade, recomenda-se cefuroxima ou amoxicilina/ácido clavulânico, eficazes para ambas as doenças.

Envolvimento cardíaco

Hospitalização, antibióticos intravenosos e monitoramento contínuo de ECG são recomendados para pacientes com ou em risco de complicações cardíacas graves, incluindo aqueles com dor torácica, síncope, dispneia, bloqueio atrioventricular, intervalo PR de 300 milissegundos ou mais, outras arritmias ou manifestações clínicas de miopericardite.[25] A ceftriaxona é o medicamento de primeira escolha para adultos e crianças. Os agentes alternativos incluem a cefotaxima ou a benzilpenicilina. A doxiciclina é um agente alternativo para os pacientes com complicações cardíacas que forem intolerantes a penicilinas ou cefalosporinas, mas não é recomendada durante a gravidez e a lactação. Em alguns países fora dos EUA, a doxiciclina não é recomendada para crianças pequenas (veja abaixo). Os pacientes podem passar a receber antibióticos por via oral quando houver evidências de melhora clínica.

Recomenda-se a estimulação temporária para pacientes com bradicardia sintomática que não podem receber tratamento medicamentoso.[25]​​ Os pacientes com cardite de Lyme que não precisam ser hospitalizados são tratados com antibióticos orais.[25] As opções de antibióticos orais são doxiciclina, amoxicilina ou cefuroxima.

A duração recomendada da antibioticoterapia para cardite de Lyme é de 14-21 dias.

Artrite de Lyme

O tratamento depende do tipo e da extensão da infecção:[25]

  • Os pacientes com artrite de Lyme são tratados com antibióticos orais, incluindo doxiciclina, amoxicilina ou cefuroxima por 28 dias; os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) podem ser utilizados conjuntamente para aliviar os sintomas.

  • Os pacientes com edema recorrente ou persistente nas articulações após um ciclo inicial de antibióticos orais devem receber 2-4 semanas de terapia parenteral com ceftriaxona intravenosa, em vez de um segundo ciclo de antibióticos orais.

Os pacientes com artrite que não respondem ao tratamento com antibióticos devem ser encaminhados a um reumatologista para realizar uma investigação adicional e o tratamento adequado de outras causas.[25]

Doença de Lyme neurológica (neuroborreliose)

Os pacientes com manifestações neurológicas agudas da doença de Lyme devem ser tratados com um dos seguintes quatro antibióticos: ceftriaxona intravenosa, cefotaxima, benzilpenicilina ou doxiciclina oral por 2-3 semanas.[25] Embora os antibióticos parenterais geralmente sejam preferíveis para pacientes com complicações neurológicas, a doxiciclina oral tem mostrado ser igualmente efetiva na doença em estágio inicial.[34]

Os pacientes com a doença de Lyme neurológica precoce confinada na meninge, nervos craniano, raízes nervosas ou nervos periféricos (síndrome de Bannwarth) podem ser tratados com um ciclo de 2 semanas de antibiótico oral (doxiciclina) ou um antibiótico intravenoso (ceftriaxona, cefotaxima ou benzilpenicilina).[34]

Embora raro, o envolvimento do parênquima cerebral em pacientes, como aqueles com achados focais ou de RNM, deve ser tratado com antibióticos intravenosos por 2 a 4 semanas.[25] Com base em estudos de pequeno porte, os pacientes com neuroborreliose precoce com manifestações como mielite, encefalite e vasculite requererem antibióticos intravenosos por 2 semanas.[34]

No caso de doença de Lyme tardia com neuropatia periférica e acrodermatite crônica atrofiante, o tratamento com doxiciclina oral ou ceftriaxona intravenosa é recomendado.[25][34] No entanto, se os pacientes tiverem manifestações no sistema nervoso central (SNC), como mielite, encefalite e vasculite, eles deverão ser tratados com ceftriaxona intravenosa.

Os pacientes com paralisia facial associada à doença de Lyme devem ser tratados com antibióticos; as diretrizes dos EUA recomendam doxiciclina oral.[25] O tratamento com corticosteroides pode ter sido iniciado, pois são usados para tratar paralisia idiopática do nervo facial; no entanto, podem ser descontinuados se a causa for identificada como borreliose.[25]

O tratamento prolongado com antibióticos (14 semanas) em pacientes com sintomas persistentes atribuídos à borreliose de Lyme não demonstrou ter um efeito benéfico no desempenho cognitivo, em comparação com o tratamento de curto prazo (2 semanas).[49]

Doxiciclina em crianças

Anteriormente, o uso de doxiciclina era limitado às crianças ≥8 anos, mas dados comparativos sugerem que não é provável que ela cause manchas visíveis nos dentes ou hipoplasia do esmalte nas crianças mais novas.[50]​ Uma revisão sistemática de 2023 também concluiu que a exposição à doxiciclina na primeira infância não está associada a manchas dentárias ou defeitos no esmalte.[51]​ Embora a doxiciclina seja agora recomendada nos EUA para crianças <8 anos para certas indicações (incluindo a doença de Lyme), em outros países ainda pode haver restrições de idade em vigor e você deve consultar as orientações locais

Doença de Lyme na gravidez

Os dados de transmissão vertical da doença de Lyme na gravidez são inconclusivos e as evidências sobre desfechos adversos do parto são inconsistentes. Uma metanálise de nove estudos mostrou que a prevalência de desfechos adversos no parto foi significativamente menor em mulheres que foram tratadas para doença de Lyme gestacional, em comparação com aquelas que não foram tratadas durante a gravidez (11% vs. 50%). Portanto, o diagnóstico imediato e o tratamento da doença de Lyme durante a gravidez são recomendados.[52] A doxiciclina não é recomendada durante a gestação ou lactação; a amoxicilina é o tratamento recomendado.

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