Complicações

Complicação
Período de ocorrência
Probabilidade
curto prazo
baixa

A maioria das gestantes tem apresentação autolimitada da doença. Gestantes infectadas podem exigir hospitalização com mais frequência que gestantes não infectadas; no entanto, importantes desfechos obstétricos, como sangramento obstétrico, número de cesáreas, nascimentos pré-termo, baixo peso ao nascer, natimortos, malformações congênitas e internação de neonatos pareceram não ter sido afetados pela presença da infecção pelo vírus da chikungunya. O estudo histológico de placentas em mulheres infectadas não mostrou evidências de infecção (somente 1 placenta infectada entre as 624 estudadas).[108]

Houve relatos isolados de neonatos infectados no último trimestre da gestação e nascidos com doença neurológica ou miocárdica e com complicações hemorrágicas.[108]

curto prazo
baixa

Manifestações hemorrágicas são incomuns e mais sutis que na dengue. Casos de gengivorragia, epistaxe, hematêmese e melena foram descritos em uma série antiga, predominantemente em crianças. A trombocitopenia, se ocorrer, em geral é leve.[68]

variável
Médias

A uveíte anterior é considerada a complicação ocular mais comum. Foram descritas duas variantes: uma forma granulomatosa e uma não granulomatosa. Em alguns casos, podem ocorrer infiltrados dendríticos semelhantes aos observados na ceratite herpética. Precipitados e sinéquias podem se desenvolver na câmara anterior do olho e a pressão intraocular pode estar elevada. Os corticosteroides tópicos, agentes cicloplégicos e medicamentos para aliviar a pressão intraocular são úteis na uveíte anterior. Os sintomas geralmente são de curta duração.

A conjuntivite também é comum e pode ser mais frequente que a uveíte anterior; contudo, em virtude da apresentação leve habitual, muitas vezes é menos reportada.

O envolvimento do segmento posterior do olho é menos frequente, mas pode ocorrer e incluir retinite, coroidite e neurite óptica. A fundoscopia e a angiografia na retinite assemelham-se a infecção herpética com evidência de vazamento vascular e áreas de não perfusão capilar. Suspeita-se que o mimetismo antigênico entre os antígenos do vírus da chikungunya e as proteínas do tecido do hospedeiro causem uma resposta imune tardia que explica as manifestações clínicas. O tratamento com esteroides sistêmicos é indicado nessas situações. A recuperação é mais longa e, em caso de neurite óptica, podem ocorrer danos oculares permanentes.

Episclerite, panuveíte, panoftalmite, oftalmoplegia externa bilateral e várias hemianopsias foram descritas, mas são incomuns.[67]

variável
Médias

Uma revisão sistemática constatou que mais da metade dos infectados apresentará sintomas articulares crônicos.[107] Os pacientes podem desenvolver poliartrite simétrica que, em geral, é incapacitante e se assemelha a artrite reumatoide, mas monoartrite ou oligoartrite crônica também podem ocorrer após a infecção aguda. A evolução pode ser contínua ou recidivante. No geral, a dor associada a essas artrites tende a diminuir com o tempo, mas pode persistir por meses e anos. Exames radiológicos podem mostrar erosões ósseas focais, derrames articulares e bursite. As manifestações clínicas podem estar associadas à persistência de anticorpos IgM (imunoglobulina M) e aos níveis de interleucina-6 no soro e, às vezes, a fator reumatoide ou a anticorpos antipeptídeos citrulinados cíclicos positivos.

Atualmente não há evidências de uma relação definitiva entre a infecção inicial e o desenvolvimento de artrite crônica.[103] No entanto, 3 fatores foram associados à progressão para a doença crônica em um estudo: idade 45 a 59 anos (RC [razão de chances] ajustada: 6.4, intervalo de confiança [IC] de 95%: 1.8, 22.1) ou ≥60 anos (RC ajustada: 22.3, IC de 95%: 6.3, 78.1), envolvimento articular inicial grave (RC ajustada: 5.5, IC de 95%: 2.2, 13.8) e altos títulos de IgG para o vírus da chikungunya no início da doença (RC ajustada: 6.2, IC de 95%: 2.8, 13.2, por aumento de 1 unidade).[5][104][105]​​​[106]

Um caso de síndrome do túnel do carpo foi relatado.[109]

variável
Médias

Além dos sintomas reumatológicos, os pacientes podem apresentar dor neuropática que afeta os membros superiores e inferiores, cefaleia crônica, fadiga, astenia e depressão até 6 anos após a infecção aguda, em associação a escores significativamente baixos em diferentes escalas da qualidade de vida (como a pesquisa de saúde em formulário curto com 36 itens [SF-36], Arthritis Impact Measurement Scales 2 [AIMS2-SF, Escala 2 de medição do impacto da artrite] e General Health Questionnaire [GHQ-12, Questionário de saúde geral]).[67][106]

variável
baixa

Assim como com outros alfavírus, o vírus da chikungunya pode ter avidez neurotrópica. Em modelos experimentais, o vírus pode se disseminar para o sistema nervoso central, com preferência particular pelos plexos coroides e leptomeninges. Talvez por causa dessa tendência, as complicações neurológicas mais comuns incluem meningoencefalite, meningoencefalomielorradiculite, mielorradiculite, mielite e mieloneuropatia. Essas manifestações tendem a ocorrer na fase aguda da doença e coincidem com o pico da viremia. Outras complicações podem ter uma apresentação tardia, mas geralmente não além de 2 semanas do início da doença, incluindo síndrome de Guillain-Barré, paralisia facial, oftalmoplegia e neurite óptica.[58][59][66]

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