Etiologia

Os transtornos do espectro alcoólico fetal (TEAF) são causados por danos ao cérebro fetal em decorrência da exposição pré-natal ao álcool.[8][9][10][11][12]​ O álcool é teratogênico, atravessa rapidamente a placenta e pode causar uma ampla variedade de malformações congênitas estruturais envolvendo o sistema nervoso central, a face e outros órgãos, além de problemas funcionais do neurodesenvolvimento.[11] O uso de bebidas alcoólicas é um dos poucos fatores de risco modificáveis para desfechos desfavoráveis da gestação e do feto.

Nem todos os fetos expostos são prejudicados, e o risco para o feto depende da quantidade, da frequência e do padrão de consumo materno de bebidas alcoólicas e do período de consumo durante a gestação.[8] Nenhum nível "seguro" de consumo de bebidas alcoólicas durante a gestação foi estabelecido.[8] Acredita-se que o nível máximo de álcool no sangue fetal determina os danos fetais. Os níveis de álcool no sangue fetal são semelhantes aos níveis de álcool no sangue materno que, por sua vez, são determinados pela quantidade e pelo padrão de ingestão de álcool, além de outros fatores maternos, incluindo o genótipo de álcool desidrogenase. O tempo de exposição durante o primeiro trimestre da gestação é fundamental para determinar o padrão das malformações congênitas. Danos cerebrais que resultam em disfunção neurológica podem ocorrer com a exposição em qualquer fase da gestação.[13][14]

O risco para o feto individual pode ser modificado por fatores fetais e maternos, incluindo idade da mãe, estado nutricional, saúde, paridade, composição corporal, genótipo de álcool desidrogenase e uso prévio de bebidas alcoólicas.[15]

Fisiopatologia

O álcool interfere em todos os estágios de desenvolvimento do sistema nervoso central (SNC) no embrião e no feto, e os problemas funcionais observados em crianças mais velhas podem ocorrer devido a uma combinação de anomalias induzidas pelo álcool em alguns ou todos os estágios de desenvolvimento do SNC. O neocórtex, o hipocampo e o cerebelo são particularmente suscetíveis. O álcool tem efeitos adversos no desenvolvimento glial, que podem ser a origem de heterotopias neurogliais, agenesia do corpo caloso e da comissura anterior e migração neuronal anormal.[16]

Vários sistemas neurotransmissores que influenciam o desenvolvimento do SNC são afetados pela exposição alcoólica pré-natal, diminuindo a quantidade de neurônios, os níveis de serotonina, dopamina, noradrenalina, glicina e histamina e a quantidade de locais de captação de neurotransmissores e de alguns receptores de neurotransmissores. A exposição alcoólica pré-natal também altera os hormônios que influenciam o desenvolvimento do SNC, incluindo a tiroxina, e a regulação do eixo hipotálamo-hipofisário-gonadal.

O álcool pode causar danos diretamente por meio de alterações na função celular glial, diminuição de fatores e receptores neurotróficos e diminuição das moléculas de adesão celular. A diminuição do suporte neurotrófico altera a sobrevida e a diferenciação dos neurônios. A alta concentração de álcool no sangue também pode causar hipóxia e isquemia em áreas como o hipocampo, além de danos cerebrais estruturais.[16]

O álcool pode causar danos indiretamente por meio da má nutrição materna, resultando na diminuição da disponibilidade de nutrientes essenciais, antioxidantes e fatores tróficos. O álcool também pode induzir danos celulares e membranosos por meio da geração de radicais livres e da peroxidação lipídica.[16]

A alteração no desenvolvimento cerebral frontal afeta o desenvolvimento das vesículas ópticas, o que afeta o tamanho e/ou o posicionamento das fendas palpebrais e o posicionamento dos placódios olfatórios. O subdesenvolvimento dos processos nasais mediais resulta em um filtro labial longo e suave e uma borda fina do vermelhão do lábio superior. As anomalias esqueléticas observadas podem refletir o comprometimento do desenvolvimento cerebral (isto é, o desenvolvimento normal da articulação depende da atividade fetal).[11]

As alterações na estrutura (diminuição do peso placentário, infarto viloso) e na função (alterações nos hormônios e em outras influências endógenas reguladoras importantes, nas citocinas e no fornecimento nutricional) placentárias mediadas pela vasoconstrição placentária, as alterações na proporção tromboxano/prostaciclina e o estresse oxidativo podem prejudicar o crescimento pré-natal e contribuir para os danos no SNC.[17]

Classificação

Classificação Internacional de Doenças (CID)-11[2]​​

LDF.0: embriofetopatias tóxicas ou relacionadas ao uso de medicamentos

LD2F.00: síndrome alcoólica fetal.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5-TR)[3]

O transtorno do neurodesenvolvimento associado à exposição pré-natal ao álcool (ND-PAE) está incluído no apêndice da quinta edição do DSM-5-TR da American Psychiatric Association.[3] O ND-PAE é usado como um exemplo de "Outro transtorno do neurodesenvolvimento especificado" e está listado como uma condição que requer estudos mais detalhados e inclui os critérios propostos. O DSM-5-TR determinou que não havia evidências suficientes para garantir a inclusão dessas propostas como diagnósticos oficiais de transtorno mental na Seção II do DSM-5.

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