Abordagem

Os objetivos do tratamento são restaurar a função neurológica perdida durante o evento agudo de mielite transversa (MT); iniciar estratégias preventivas para as complicações da MT e o alívio sintomático destas; e iniciar terapias para evitar a recidiva da doença, quando for aplicável.

Deficits neurológicos agudos

Depois de descartar lesões compressivas, infecções agudas e outros distúrbios não relacionados à MT, o tratamento de primeira linha dos deficits neurológicos agudos relacionados à MT consiste em metilprednisolona intravenosa, geralmente administrada diariamente por 3 a 5 dias consecutivos.[23] Não foram feitos ensaios clínicos controlados de corticosteroides para MT, porém a abordagem é extrapolada do tratamento de ataques agudos de esclerose múltipla (EM).

Pacientes com graves deficits que não respondem à corticoterapia ou aqueles com agravamento do deficit, apesar do tratamento, são candidatos à terapia de resgate com plasmaférese.[23][76][77]

Pode ser considerado o uso de imunoglobulina intravenosa, mas não houve ensaios clínicos randomizados e controlados que tenham avaliado sua eficácia.[23][76][8]

Terapia de suporte e reabilitação aguda

A terapia de suporte para sintomas individuais, como dificuldade respiratória, espasticidade e retenção urinária pode ser adicionada ao esquema de tratamento, de acordo com a necessidade.

  • Insuficiência respiratória: em uma minoria de pacientes com MT cervical, a lesão se estende para o interior da medula e pode causar insuficiência respiratória neurogênica.[4] A observação estrita de parâmetros respiratórios, incluindo a medição das pressões respiratórias máximas e da capacidade vital forçada, e o comprometimento de uma equipe de cuidados intensivos qualificada são recomendados em casos de mielite cervical ascendente.

  • Espasticidade: tratada com exercícios de alongamento, medicamentos antiespasmódicos (por exemplo, baclofeno, tizanidina), injeção de toxina botulínica terapêutica.[78]

  • Retenção urinária aguda: pode ser controlada por cateterismo vesical. Os sintomas vesicais neurogênicos residuais podem incluir incontinência de urgência, retenção ou um distúrbio misto, cada um deles necessitando de tratamento específico.[78]

  • Prevenção de trombose venosa profunda (TVP): pacientes imobilizados apresentam aumento do risco. A extrapolação de dados de pacientes de clínica geral e de cirurgia ortopédica indica que heparina subcutânea ou enoxaparina associada ao uso de meias ou dispositivos de compressão para os membros inferiores reduz o risco de TVP.

A reabilitação aguda consiste na terapia passiva e ativa para manter a amplitude de movimentos dos membros, reduzir os espasmos e o risco de contraturas e reduzir o risco de úlcera de decúbito.

Terapia preventiva para pacientes com risco de evoluir para esclerose múltipla (EM) ou mielite transversa (MT) recorrente

Caso o paciente receba o diagnóstico de MT idiopática, não é necessária qualquer terapia preventiva.

A terapia modificadora da doença da EM, com o objetivo de reduzir o risco de recidiva de EM e deficiência progressiva, pode ser indicada para pacientes com MT parcial aguda que apresentam risco de desenvolver EM pela presença de lesões desmielinizantes típicas mostradas na ressonância nuclear magnética (RNM).[47][48][79][80]

A terapia imunossupressora de duração indefinida é recomendada para pacientes soropositivos para autoanticorpos antiaquaporina-4, devido ao alto risco persistente de recidiva.[5]

Também há alto risco de recidiva se os pacientes continuarem soropositivos para glicoproteína mielina-oligodendrócito (IgG-MOG). A abordagem do tratamento inclui um esquema de retirada gradual estendido de prednisolona oral ao longo de 4 a 6 meses, com reavaliação sorológica e iniciação da terapia imunossupressiva preventiva (como azatioprina, micofenolato ou rituximabe) se o anticorpo IgG-MOG persistir ou se houver recidiva clínica temporária.[59][60]

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