Etiologia

A etiologia exata é desconhecida. A artrite idiopática juvenil é considerada uma doença autoimune, iniciada e sustentada por fatores ambientais em indivíduos geneticamente suscetíveis.[12]

No entanto, evidências diretas e indiretas apontam para o papel de respostas imunes aberrantes, sugerindo que a artrite idiopática juvenil seja um distúrbio autoimune.

A concordância entre gêmeos monozigóticos é de 25% a 40%.[13][14] A prevalência de probandos de artrite idiopática juvenil entre irmãos é de 15 a 30 vezes maior que a prevalência da população.[14][15][16] Os pares de irmãos afetados têm uma alta concordância de idade de início e subtipo, o que também dá suporte a teorias de predisposições genéticas.[17][18] Não há associação entre ordem de nascimento e artrite idiopática juvenil.[19]

Em um estudo realizado com 110 famílias com probandos de artrite idiopática juvenil, 74% tinham pelo menos um parente com autoimunidade em comparação com apenas 33% de famílias de probandos de controle.[20] Parentes de primeiro e segundo grau de crianças com artrite idiopática juvenil apresentam prevalência de autoimunidade três vezes acima do normal, principalmente doença tireoidiana autoimune.[20] Esse aumento parece ser mais evidente nos familiares maternos do sexo feminino comparados com os familiares paternos.[21]

Polimorfismos nos genes que codificam antígenos leucocitários humanos foram associados a diferentes subtipos de artrite idiopática juvenil.[12] Na região do antígeno leucocitário humano (HLA) de classe I, o HLA A2 está associado à artrite idiopática juvenil de início precoce.[22][23] O alelo HLA B27 está associado à artrite idiopática juvenil relacionada à entesite.[24] A artrite idiopática juvenil oligoarticular está associada aos alelos HLA DRB1*01, DRB1*08, DRB1*11, DRB1*13, DPB1*02 e DQB1*04.[22][23][25][26][27][28] Os alelos HLA DRB1*04 e DRB1*07 parecem atuar como protetores contra artrite idiopática juvenil oligoarticular.[23][28] A artrite idiopática juvenil poliarticular com fator reumatoide (FR) negativo está associada aos alelos DRB1*08 e DPB1*03.[27][28] A artrite idiopática juvenil poliarticular com FR positivo, que é fenotipicamente similar à artrite reumatoide no adulto, está associada aos alelos DRB1*04, DQA1*03 e DQB1*03.[27][28] Poucos estudos confirmaram associações entre polimorfismos do HLA e artrite psoriática ou artrite idiopática juvenil de início sistêmico.

Variantes dos genes codificadores de PTPN22, TNFA e MIF também demonstraram associação com artrite idiopática juvenil.[12]

Fatores ambientais que podem influenciar o desenvolvimento de artrite idiopática juvenil incluem infecção em indivíduos geneticamente suscetíveis (nenhum agente infeccioso específico foi identificado de forma conclusiva), exposição a antibióticos na infância e tabagismo materno durante a gravidez (um estudo sugeriu um risco aumentado de poliartrite inflamatória em filhos do sexo feminino, mas isto não foi confirmado por outros estudos).[29][30][31]

Fisiopatologia

A inflamação crônica da membrana sinovial (manifestada por acúmulo de líquido sinovial e espessamento da cápsula articular) é comum em todos os subtipos de artrite idiopática juvenil.

O tecido sinovial contém diversas células inflamatórias, incluindo neutrófilos, plasmócitos, células dendríticas, e uma alta proporção de células T ativadas.[32][33][34] Acredita-se que o recrutamento de células pró-inflamatórias na membrana sinovial seja mediado por quimiocinas que atraem seletivamente as células T auxiliares do tipo 1. É caracterizado pela produção de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina (IL)-2, gamainterferona e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa).[35][36][37] Diversos estudos demonstraram que citocinas Th1 também são predominantes no tecido sinovial e no líquido sinovial em crianças com artrite idiopática juvenil.[38][39][40][41] Citocinas pró-inflamatórias, incluindo IL-1beta, IL-6, TNF-alfa, IL-2R, IL-8 e sCD154, se encontram significativamente elevadas no soro de crianças afetadas.[42] Essas observações suportam o uso de agentes biológicos direcionados contra TNF-alfa, IL-1 e IL-6 para tratar artrite idiopática juvenil. IL-17 é um indutor de uma potente cascata de citocinas pró-inflamatórias e da citocina do receptor ativador de fator nuclear kappa-B (RANKL). O RANKL está presente em quantidades elevadas na membrana sinovial de crianças com artrite idiopática juvenil e está associado à reabsorção óssea e a danos na cartilagem.[43][44][45]

Classificação

Classificação de artrite idiopática juvenil da International League of Associations for Rheumatology (ILAR)[1]

Sete subtipos são reconhecidos; alguns apresentam características clínicas e patológicas de outras doenças crônicas autoimunes:

  • Artrite sistêmica

  • Oligoartrite

  • Poliartrite (fator reumatoide [FR]-negativo)

  • Poliartrite (FR-positivo)

  • Artrite psoriática

  • Artrite relacionada à entesite

  • Artrite não diferenciada.

Critérios do American College of Rheumatology para artrite reumatoide juvenil[2]

  • Artrite pauciarticular

  • Artrite poliarticular

  • Artrite de início sistêmico.

Critérios da The European League Against Rheumatism para artrite crônica juvenil[3]

  • Artrite sistêmica

  • Artrite poliarticular

  • Artrite reumatoide juvenil

  • Artrite pauciarticular

  • Espondilite anquilosante juvenil

  • Artrite psoriática juvenil.

Classificação proposta pela Pediatric Rheumatology International Trials Organization[4]

Esta classificação é proposta como sucessora da classificação da ILAR.

  • A. Artrite idiopática juvenil sistêmica

  • B. Artrite idiopática juvenil positiva para FR

  • C. Artrite idiopática juvenil relacionada com espondilite/entesite

  • D. Artrite idiopática juvenil positiva para fator antinuclear de início precoce

  • E. Outra artrite idiopática juvenil

  • F. Artrite idiopática juvenil não classificada

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