Abordagem
A avaliação concentra-se nas informações históricas sobre a localização da dor (localizada ou disseminada), desencadeadores, fatores modificadores e afecções clínicas comórbidas.
Avaliação inicial
A localização da dor é mais bem identificada usando-se um diagrama de dor preenchido pelo paciente.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Deve-se pedir que o paciente preencha um desenho da localização da dor para determinar se ela é localizada ou generalizada, sombreando todas as áreas doloridas, usando-se a seguinte legenda: ///// = dor; ::::: = dormência; *** = queimação ou hipersensibilidade ao toqueDe Marcus DA. Chronic pain. A primary care guide to practical management. Totowa, NJ: Humana Press; 2005 [Citation ends].
Recursos da história de dor aguda que podem predispor ao desenvolvimento da dor crônica:
Dorsalgia com flexão lombar limitada
Exames neurológicos anormais
Dor não localizada
Início insidioso
Dorsalgia irradiando para os membros inferiores.
Diversos fatores predispõem ao desenvolvimento da dor crônica, e eles devem ser procurados na história do paciente:[5][6][24][25][26][27]
Sexo feminino
História pessoal de trauma ou de dor crônica; história familiar de dor crônica
Transtorno de humor comórbido ou sofrimento psíquico
Falta de apoio social
Insatisfação no trabalho
Uso de nicotina
Fatores genéticos (aumentam a predisposição ao desenvolvimento de enxaqueca e fibromialgia)
Ocupações de alto risco (tais como algumas profissões da saúde, como assistentes de saúde, profissionais de enfermagem, dentistas e quiropráticos; profissionais com atividade manual pesada; mecânicos de automóveis; empregadas domésticas/zeladores; cabeleireiros; outras ocupações que envolvam permanência prolongada em pé; ocupações que envolvam movimentos contínuos específicos; soldados)
Desemprego ou mudança de emprego anterior devida à dor.
História detalhada
Com base na história inicial, talvez seja possível determinar se o paciente apresenta dor miofascial, musculoesquelética ou neuropática; fibromialgia; ou uma síndrome de cefaleia crônica. Depois disso, pode-se obter uma história mais detalhada.
Consulte a abordagem de diagnóstico em: Osteoartrite, Artrite reumatoide, Dor musculoesquelética na coluna lombar, Síndrome da dor regional complexa, Neuropatia diabética, Infecção por herpes-zóster, Fibromialgia, Cefaleia enxaquecosa em adultos, Cefaleia em salvas e Cefaleia do tipo tensional.
Dor miofascial
História de sensibilidade ou dor muscular relacionada à atividade física, aos espasmos musculares e a limitação da amplitude de movimento (ADM) é importante.
Distúrbios do sono e do humor são comuns.
Dor musculoesquelética
A dorsalgia crônica é comum, e pode estar associada a sintomas sensoriais e motores, uma história de lesão ou episódio prévio de dorsalgia aguda.
Dores durante caminhadas prolongadas, aliviadas ao parar ou ao se sentar, podem indicar estenose da coluna lombar decorrente de hérnia de disco.
Mulheres idosas com história de dor nas articulações e nos ossos podem apresentar fraturas associadas à osteoporose.
A história pode ajudar a distinguir osteoartrite (OA) de artrite reumatoide (AR).
A OA geralmente afeta grandes articulações bastante utilizadas e que suportam peso de forma assimétrica. As características da OA incluem dor nas articulações, rigidez matinal nas articulações e crepitação com o movimento das articulações.
As características da AR incluem dor e/ou inchaço em várias articulações; rigidez articular significativa pela manhã ou após o repouso; perda progressiva da função articular; comprometimento simétrico das articulações; e uma boa resposta aos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs).[36]
A polimialgia reumática (pacientes do sexo feminino com mais de 50 anos de idade, com dor no pescoço, ombro e quadril, resposta rápida à prednisolona) e a polimiosite (fraqueza simétrica nas cinturas escapular e pélvica) são afecções musculoesqueléticas importantes que devem ser diferenciadas da fibromialgia.
Dor neuropática
O diagnóstico da dor neuropática depende dos sintomas clínicos e da distribuição da dor. As características incluem sensação de queimação, hiperalgesia e alodinia.
Os pacientes também podem relatar áreas de dormência ou perda de sensibilidade nas distribuições dérmicas ou em um padrão de meias/luvas. Pode haver história de diabetes mellitus ou de herpes-zóster.
A síndrome da dor regional complexa geralmente exibe rigidez excessiva da extremidade dolorosa e é diagnosticada com base nos critérios diagnósticos da International Association for the Study of Pain.[37]
Fibromialgia
Diagnosticada usando-se os critérios do American College of Rheumatology:[38]
Índice de dor disseminada (WPI) ≥7 e escore na escala de gravidade de sintomas (SS) ≥5 ou WPI de 3 a 6 e escore na escala SS ≥9
Sintomas presentes em um nível semelhante por, no mínimo, 3 meses
O paciente não apresenta um distúrbio que, de alguma forma, explicaria a dor.
Além de dor disseminada, os pacientes com fibromialgia podem apresentar sintomas somáticos, incluindo cefaleia crônica, perturbação do sono, depressão e/ou ansiedade, síndrome do intestino irritável, distúrbios geniturinários e/ou distúrbios sensoriais difusos.
Cefaleias crônicas
Asn cefaleias recorrentes cronicamente benignas são diagnosticadas revisando-se as características da cefaleia. Os fatores mais importantes na história são a frequência das cefaleias; a duração dos ataques; a intensidade dos ataques; se a cefaleia é constante ou intermitente, unilateral ou bilateral; associações (náusea, sensibilidade à luz ou ao barulho); e a presença de fatores desencadeantes ou associações com lesões ou uso excessivo de medicamentos.
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Algoritmo de diagnóstico da cefaleiaMarcus DA. Chronic pain. A primary care guide to practical management. Totowa, NJ: Humana Press; 2005 [Citation ends].
O tipo de cefaleia é identificado com base nos critérios da Classificação Internacional das Cefaleias - 3ª edição (ICHD-3).[2]
Sintomas de alerta da cefaleia crônica que sugerem a necessidade de investigações adicionais:
Nova cefaleia ou mudança significativa no caráter da cefaleia em 2 anos
Dor cervical ou na parte posterior da cabeça (pode significar trauma ou dissecção da artéria vertebral)
Pacientes com mais de 50 anos de idade
Sintomas neurológicos anormais.
Exame
A avaliação da capacidade física revela facetas específicas de incapacidade por dor crônica, é útil para preparar programas de reabilitação e é particularmente benéfica nos pacientes que se esforçam para voltar com êxito ao trabalho.
Os pacientes com dor localizada são avaliados por exames físicos dos músculos e dos tecidos moles (dor miofascial), articulações (dor musculoesquelética) e nervos (dor neuropática), a fim de determinar a necessidade de testes adicionais para identificar a categoria diagnóstica.
A dor generalizada pode ocorrer juntamente com uma ampla variedade de doenças sistêmicas. Os pacientes sem doença sistêmica associada devem ser avaliados para se diferenciar a dor miofascial generalizada da fibromialgia.
Dor miofascial
O diagnóstico é realizado com base no exame físico e caracterizado por ADM ativa limitada, ADM passiva normal e músculos encurtados, sensíveis e localizados com faixas tensas e pontos-gatilho.
Banda tensa:
Grupo contraído de fibras musculares do tipo cordão palpável
Sensibilidade pontual na banda tensa
Resposta de contração local: contração involuntária da banda tensa após ser fisicamente estimulada ou depois que se insere uma agulha.
Pontos-gatilho:
Ativos se a palpação resultar em dor irradiada à área da dor crônica
Latentes se estiverem localmente sensíveis, mas sem dor referida.
Dor musculoesquelética
Caracterizada por limitação na ADM passiva, crepitação, inflamação e instabilidade das articulações. Características do exame físico na dor musculoesquelética causada por AR.
Inflamação das articulações (inchaço, ardor, sensibilidade)
ADM limitada das articulações
Geralmente afeta pequenas articulações de forma simétrica.
Dor neuropática
Dormência, fraqueza, alteração nos reflexos em distribuições condizentes com anormalidade da coluna, da raiz espinhal ou de nervos, elevação anormal e reta da perna. Alodinia, hiperalgesia e perda da sensação de frio.
Fibromialgia
Sensibilidade à palpação em pontos preestabelecidos que podem não estar dentro das áreas de queixas de dor; ADM passiva e ADM ativa completas.
Cefaleia crônica
São necessários mais exames para os pacientes com sintomas preocupantes de cefaleia:[39]
Revisão completa dos sistemas
Exame na coluna cervical
Postura de repouso
ADM ativa
Palpação
Avaliação neurológica
Marcha
Fundoscopia para papiledema
Avaliação da simetria dos movimentos da face e dos olhos
Testes de força e de reflexo
Sensibilidade ao toque.
Exames por imagem
Pacientes com ADM limitada cuja relação com a dor musculoesquelética/mecânica tenha sido identificada devem ser avaliados com radiografias simples, que podem ajudar a distinguir a OA (esporões ósseos, osteófitos e erosão cartilaginosa) da AR (alterações inflamatórias e cartilaginosas reduzidas), a detectar fraturas e tumores e a mostrar alterações relacionadas a espondilite anquilosante, fraturas associadas à osteoporose e alterações de osteomalácia.
Às vezes a ressonância nuclear magnética (RNM) é necessária para os pacientes com suspeita de radiculopatia ou plexopatia ou para os pacientes com novo episódio de cefaleia ou com cefaleias preocupantes para descartar causas secundárias (por exemplo, tumor, lesões isquêmicas).
Outras investigações
Geralmente não são necessárias outras investigações, mas elas podem ser necessárias em pacientes com dor neuropática, a fim de determinar afecções clínicas subjacentes que podem estar contribuindo com a neuropatia periférica.
Eletromiografia e estudos de velocidade de condução nervosa: podem ser úteis para identificar mononeuropatias, como a radiculopatia e neuropatias compressivas (por exemplo síndrome do túnel do carpo). Frequentemente também estão presentes anormalidades na neuropatia periférica.
Testes sensoriais quantitativos e teste quantitativo do reflexo axonal sudomotor: ferramentas utilizadas com frequência, com baixas sensibilidade e especificidade diagnósticas.[40] Logo, essas ferramentas não são recomendadas como parte de uma avaliação clínica típica.
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