Etiologia

A dor crônica pode ocorrer após algumas lesões agudas, como parte de doenças degenerativas ou consequência de uma afecção primária (por exemplo, enxaqueca e fibromialgia). As causas da dor crônica são variadas, podendo-se considerar que se devam a causas musculoesqueléticas (mecânicas), causas neurológicas, causas de cefaleia, causas psicológicas ou doenças localizadas, ou como parte de um processo de doença generalizada.

Causas musculoesqueléticas (mecânicas):

  • Dor miofascial

  • Osteoartrite

  • Artrite reumatoide

  • Osteomielite

  • Osteoporose

  • Espondilite anquilosante

  • Fraturas

  • Uso excessivo crônico ou repetitivo

  • Distensões musculares

  • Postura incorreta

  • Lombalgia mecânica

  • Polimialgia reumática

  • Polimiosite.

Causas neurológicas:

  • Neuralgia pós-herpética: dor que persiste por mais de 1 mês após o início do herpes-zóster (ocorre em cerca de 30% dos pacientes após um zóster aguda e dura 1 ano em cerca de 10%)[19]

  • Síndrome da dor regional complexa: desenvolve-se após uma lesão identificada ou um período de imobilização de membro (por exemplo, engessamento) e pode ser dividida em tipo 1 (ocorre na ausência de lesão do nervo; antes chamada de distrofia simpático-reflexa) e tipo 2 (ocorre após lesão de um nervo grosso específico; antes chamada de causalgia).

  • Polineuropatia diabética sensório-motora (até 25% das pessoas com diabetes)

  • Estenose da coluna vertebral

  • Lesão por tração do plexo braquial

  • Síndrome do desfiladeiro torácico

  • Neuralgia do trigêmeo

  • Alcoolismo

  • Doença tireoidiana

  • Anemia perniciosa

  • Infecções (por exemplo, vírus da imunodeficiência humana [HIV])

  • Polineuropatias

  • Polirradiculopatias.

Causas da cefaleia:

  • Enxaqueca

  • Neuralgia do trigêmeo

  • Arterite (temporal) de células gigantes

  • Glaucoma

  • Tabagismo

  • Bebidas alcoólicas

  • Disfunção da articulação temporomandibular

  • Uso excessivo de medicamentos.

Causas psicológicas:

  • Depression

  • Ansiedade

  • Transtornos de personalidade

  • Perturbações do sono.

Dor localizada ou regional pode envolver locais ou regiões específicos:

  • Abdominal (úlcera péptica, síndrome do intestino irritável, pancreatite, hérnias, doença diverticular, etc.)

  • Sistema reprodutor feminino (gestação, endometriose, salpingite crônica, etc.)

  • Sistema reprodutor masculino (prostatite, torção testicular, etc.)

  • Urológico (urolitíase, cistite intersticial, etc.)

  • Cardiovascular (angina, doença vascular periférica, etc.)

Pode ocorrer dor generalizada em conjunção com uma ampla variedade de doenças sistêmicas:

  • Condições reumatológicas:

    • Espondilite anquilosante

    • Fibromialgia

    • Osteoartrite

    • Osteomalácia

    • Polimialgia reumática

    • Artrite reumatoide

    • Síndrome de Sjögren

    • Lúpus eritematoso sistêmico (LES).

  • Condições endocrinológicas:

    • Diabetes

    • Hiperparatireoidismo

    • Hipotireoidismo.

  • Doenças infecciosas:

    • Hepatite C crônica

    • Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)

    • Doença de Lyme.

  • Câncer:

    • Câncer metastático

    • Mieloma múltiplo

    • Síndrome paraneoplásica

    • Efeitos da radiação, da quimioterapia ou de tratamento cirúrgico para câncer.

Fisiopatologia

Dois tipos de fibras periféricas transmitem a dor para a medula espinhal (fibras A-delta e fibras C). Duas vias transmitem da medula espinhal para as áreas supraespinhais: (1) a via sensorial da lâmina V no corno dorsal da medula espinhal ao hipotálamo e ao córtex somatossensorial, e (2) a via afetiva da lâmina I no corno dorsal da medula espinhal ao hipotálamo, à amígdala e à área cingulada. A dor pode ser modulada no nível da periferia ou da medula espinhal, ou a partir de áreas supraespinhais mais elevadas.

Em geral, acredita-se que a dor crônica ocorre em resposta a alterações na sensibilização das vias periféricas e centrais de dor, junto com alterações em uma variedade de neurotransmissores importantes, incluindo a serotonina, a noradrenalina e a dopamina.[20]

Classificação

Classificação Internacional de Doenças, 11ª revisão (CID-11): dor crônica[1]

A dor crônica é aquela que persiste ou recorre por mais de 3 meses. A dor crônica é multifatorial: fatores biológicos, psicológicos e sociais contribuem para a síndrome dolorosa.

Dor crônica primária: dor crônica em uma ou mais regiões anatômicas que se caracteriza por sofrimento emocional significativo (ansiedade, raiva/frustração ou humor depressivo) ou incapacidade funcional (interferência nas atividades da vida diária e redução da participação em papéis sociais).

Dor crônica relacionada ao câncer: dor causada pelo câncer primário em si ou por suas metástases (dor oncológica crônica), ou pelo seu tratamento (dor crônica pós-tratamento oncológico).

Dor crônica pós-cirúrgica ou pós-traumática: dor que se desenvolve ou aumenta de intensidade após um procedimento cirúrgico ou uma lesão tecidual (envolve qualquer trauma, incluindo queimaduras) e persiste além do processo de cicatrização (ou seja, pelo menos 3 meses após a cirurgia ou o trauma tecidual).

Dor musculoesquelética secundária crônica: dor proveniente de ossos, articulações, músculos, coluna vertebral, tendões ou tecidos moles afins.

Dor visceral secundária crônica: dor persistente ou recorrente originada em órgãos internos da região da cabeça/pescoço e das cavidades torácica, abdominal e pélvica.

Dor neuropática crônica: dor causada por uma lesão ou doença do sistema nervoso somatossensorial.

Cefaleia ou dor orofacial secundária crônica: compreende todas as cefaleias e distúrbios da dor orofacial que têm causas subjacentes e ocorrem em pelo menos 50% dos dias durante pelo menos 3 meses. A duração da dor por dia é de, pelo menos, 2 horas.

Outra dor crônica específica: usada se a condição de dor persistir ou recorrer por mais de 3 meses.

Dor crônica, inespecífica: usada se a condição de dor persistir ou recorrer por mais de 3 meses.

Categorização de prática clínica das síndromes de dor crônica, com base nas principais características da dor

A dor crônica pode ser localizada (regional) ou generalizada e, geralmente, divide-se em 5 possíveis categorias principais, com base nos sintomas e na etiologia presumida.

  • Dor miofascial (músculos esqueléticos e fáscia/tecido conjuntivo que envolve o músculo):

      • Epicondilite lateral (cotovelo de tenista)

      • Síndrome do quadrado lombar (uma causa comum de lombalgia não radicular)

      • Síndrome do piriforme (uma causa de dor nas nádegas e no quadril).

  • Dor musculoesquelética (mecânica):

      • Osteoartrite

      • Artrite reumatoide

      • Dorsalgia.

  • Dor neuropática:

      • Neuropatia periférica

      • Neuralgia pós-herpética (herpes-zóster)

      • Síndrome da dor regional complexa

      • Dor central – dor pós-acidente vascular cerebral (AVC) e dor da esclerose múltipla.

  • Fibromialgia:

      • Crônica, dor generalizada com vários pontos-gatilho.

  • Cefaleia crônica:[2]

      • Em salvas (idiopática; intermitente; estritamente unilateral; orbital, supraorbital, temporal ou em qualquer combinação desses locais; com duração de 15 a 180 minutos; ocorre de uma vez em dias alternados a oito vezes por dia)

      • Tipo tensional (cefaleia primária; normalmente bilateral; constante [não pulsante]; com duração de minutos a dias; definida como episódica [1-14 dias/mês, em média] ou crônica [≥15 dias/mês, em média, por >3 meses])

      • Cefaleia persistente atribuída a lesão traumática da cabeça ou pescoço (cefaleia pós-traumática; relatada como tendo se desenvolvido em até 7 dias após uma lesão e persistindo por mais de 3 meses após o início)

      • Enxaqueca crônica (cefaleia primária; unilateral ou bilateral; pulsátil; com duração de até 72 horas; com ou sem aura)

      • Uso excessivo de medicamentos (cefaleia que ocorre ≥15 dias por mês, com histórico de distúrbio de cefaleia primária preexistente e que se desenvolve como consequência de um uso excessivo regular de medicamentos para cefaleia sintomática ou aguda por mais de 3 meses).

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