A complicação mais comum do priapismo é a disfunção erétil (DE) completa, que foi relatada em >50% dos pacientes com priapismo que dura 24-48 horas.[36]Zacharakis E, Raheem AA, Freeman A, et al. The efficacy of the T-shunt procedure and intracavernous tunneling (snake maneuver) for refractory ischemic priapism. J Urol. 2014 Jan;191(1):164-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23892191?tool=bestpractice.com
Logo, o fator mais crítico para manter a função erétil é o tratamento imediato do homem com priapismo e a prevenção de futuros episódios. Os principais objetivos da terapia medicamentosa para o priapismo isquêmico são aliviar a dor e descomprimir os corpos cavernosos reduzindo, assim, a isquemia e o risco de necrose ou lesão no tecido.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O manejo depende da diferenciação entre priapismo isquêmico, não isquêmico e formas recorrentes (stuttering). Embora o priapismo isquêmico com duração >4 horas seja uma emergência médica e demande tratamento imediato, episódios de priapismo isquêmico ou stuttering com duração <4 horas não devem ser ignorados. Atrasos no tratamento e episódios repetitivos de priapismo do tipo stuttering causam alterações celulares, moleculares e morfológicas no corpo cavernoso que, com o tempo, resultam em lesão tecidual que coloca o paciente em risco de desenvolvimento de disfunção erétil.[21]Bivalacqua TJ, Burnett AL. Priapism. In: Graham SD, Glen JF, eds. Glenn’s urologic surgery. 7th ed. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; 2010:487-91. O objetivo deve ser tratamento imediato de todos os episódios de priapismo isquêmico.
Priapismo isquêmico
Para priapismo isquêmico com duração de até 4 horas, observação ou tratamento são opções aceitáveis de manejo, dependendo da preferência do médico ou do paciente.[21]Bivalacqua TJ, Burnett AL. Priapism. In: Graham SD, Glen JF, eds. Glenn’s urologic surgery. 7th ed. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; 2010:487-91. No entanto, atrasos no tratamento predispõem o paciente a lesão tecidual, que o coloca em risco de desenvolver disfunção erétil. Logo, encoraja-se o tratamento imediato de todos os episódios de priapismo isquêmico ou de "stuttering".
O priapismo isquêmico com duração >4 horas é uma emergência e exige tratamento imediato.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O manejo do priapismo isquêmico é abordado de forma gradual para atingir resolução imediata.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/sexual-and-reproductive-health#9
Tratamento clínico
O tratamento de primeira linha definitivo consiste na evacuação/aspiração do sangue e irrigação dos corpos cavernosos junto com injeção intracavernosa de um agente simpatomimético alfa-adrenérgico.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Para fins anestésicos, deve ser realizado o bloqueio prévio do nervo dorsal ou bloqueio da haste peniana.[5]Berger R, Billups K, Brock G, et al. Report of the American Foundation for Urologic Disease (AFUD) Thought Leader Panel for evaluation and treatment of priapism. Int J Impot Res. 2001 Dec;13(suppl 5):S39-43.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11781746?tool=bestpractice.com
O sangue peniano é aspirado usando uma seringa não heparinizada. A aspiração terapêutica pode ser feita simultaneamente com amostras de gasometria do sangue cavernoso após a inserção de uma agulha para veia tipo scalp (calibre 16 ou 18) diretamente no corpo cavernoso.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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Deve-se realizar a irrigação concomitante com soro fisiológico ou um agente simpatomimético para remover sangue do corpo cavernoso.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O uso de pressão para baixo na glande do pênis ereto também facilita a evacuação do sangue das agulhas colocadas para irrigação e aspiração. É necessário prestar atenção para não desalojar as agulhas enquanto é feita pressão para baixo e compressão da glande. Caso estas sejam desalojadas, será necessário recorrer ao uso de agulhas de seringa adicionais para permitir evacuar o sangue.
Pode ser necessário realizar aspirações ou irrigações repetidas e injeções simpatomiméticas por várias horas, e elas devem ser feitas antes de iniciar-se a intervenção cirúrgica.[34]Burnett AL. Priapism. In: Wein AJ, Kavoussi LR, Novick AC, et al, eds. Campbell-Walsh urology. 9th ed. Philadelphia PA: Saunders Elsevier; 2007:839-49.
Muitos médicos optam por realizar injeções intracavernosas sem aspiração prévia.
A fenilefrina é o agente simpatomimético preferido, pois apresenta menor risco de efeitos adversos cardiovasculares que outros agentes e está associada a uma taxa maior de detumescência.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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No entanto, se a fenilefrina não estiver disponível, outros agonistas alfa-adrenérgicos poderão ser usados, como a efedrina, a adrenalina, a noradrenalina ou o metaraminol.
Durante e após a injeção intracavernosa de qualquer agente simpatomimético, o paciente deve ser monitorado quanto aos efeitos adversos conhecidos (por exemplo, hipertensão aguda, cefaleia, bradicardia reflexa, taquicardia, palpitações e arritmias cardíacas). Recomenda-se monitoração da pressão arterial (PA) e realização de eletrocardiograma (ECG) em todos os pacientes submetidos a um processo de aspiração com irrigação, especialmente aqueles com risco cardiovascular alto.
Se após uma duração razoável (alguns sugerem 1 hora) e progressão da dose de fenilefrina (alguns sugerem administrar 1000 microgramas de fenilefrina diluída ao longo de 1 hora) o pênis continuar intumescido, deve-se considerar uma ultrassonografia com Doppler para avaliar o estado do fluxo arterial cavernoso no pênis.[2]Burnett AL, Bivalacqua TJ. Priapism: current principles and practice. Urol Clin North Am. 2007 Nov;34(4):631-42.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17983902?tool=bestpractice.com
[5]Berger R, Billups K, Brock G, et al. Report of the American Foundation for Urologic Disease (AFUD) Thought Leader Panel for evaluation and treatment of priapism. Int J Impot Res. 2001 Dec;13(suppl 5):S39-43.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11781746?tool=bestpractice.com
O inchaço e edema após uma detumescência apropriada com aspiração e irrigação podem apresentar-se como priapismo isquêmico e, portanto, uma ultrassonografia pode confirmar ou descartar se o sangue foi devidamente evacuado dos corpos cavernosos.
Para priapismo especificamente relacionado à doença falciforme, podem-se realizar terapias medicamentosas, como hidratação intravenosa, oxigenação, alcalinização e exsanguineotransfusão. No entanto, essas intervenções não devem preceder o tratamento de primeira linha para todos os episódios de priapismo isquêmico: aspiração/irrigação em combinação com uma injeção alfa-agonista intracavernosa.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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[37]National Heart, Lung, and Blood Institute. Evidence-based management of sickle cell disease: expert panel report, 2014. Sep 2014 [internet publication].
https://www.nhlbi.nih.gov/health-topics/evidence-based-management-sickle-cell-disease
[38]Mantadakis E, Ewalt DH, Cavender JD, et al. Outpatient penile aspiration and epinephrine irrigation for young patients with sickle cell anemia and prolonged priapism. Blood. 2000 Jan 1;95(1):78-82.
https://ashpublications.org/blood/article/95/1/78/180834/Outpatient-penile-aspiration-and-epinephrine
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10607688?tool=bestpractice.com
As diretrizes europeias e dos EUA diferem em relação à implementação das terapias de primeira linha durante episódios de priapismo isquêmico de duração estendida (>48 horas).[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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É improvável que os tratamentos de primeira linha sejam bem-sucedidos nessas circunstâncias, e eles devem ser tentados a critério do cirurgião.
Procedimentos de shunt cirúrgico
O priapismo isquêmico e recorrente refratário à terapia medicamentosa pode exigir intervenção cirúrgica. Devem-se considerar derivações cirúrgicas para o priapismo isquêmico somente se a injeção intracavernosa de simpatomiméticos falhar.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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O objetivo da cirurgia é criar um canal ou fístula que permitam que o sangue desoxigenado seja drenado dos corpos cavernosos.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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Existem quatro subdivisões de shunts: shunts distais percutâneos, shunts distais a céu aberto, shunts proximais a céu aberto e anastomoses/shunts venosos.[39]Burnett AL. Surgical management of ischemic priapism. J Sex Med. 2012 Jan;9(1):114-20.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22221308?tool=bestpractice.com
Os shunts distais devem ser realizados antes dos shunts proximais, potencialmente depois que um shunt distal tiver falhado.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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Um shunt corporoglanular distal percutâneo é a primeira escolha, já que é mais simples de se realizar e tem menores taxas de complicação que as demais abordagens.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
No procedimento de shunt com agulha de biópsia (Winter), uma agulha de biópsia de grande diâmetro é colocada por via percutânea através da glande peniana.
Se os shunts distais previamente mencionados não tiverem êxito, um shunt distal a céu aberto será o próximo passo. O shunt de Al-Ghorab envolve a excisão de um pedaço da túnica albugínea da ponta do corpo cavernoso. Foram descritas modificações na cirurgia de shunt de Al-Ghorab corpoglanular.[40]Burnett AL, Pierorazio PM. Corporal "snake" maneuver: corporoglanular shunt surgical modification for ischemic priapism. J Sex Med. 2009 Apr;6(4):1171-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19207268?tool=bestpractice.com
Deve-se considerar o tunelamento corporal (por exemplo, modificação de Burnett) nos pacientes com priapismo isquêmico persistente após um shunt corpoglanular distal.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O shunt distal com tunelamento corporal está associado a um sucesso considerável no alívio do priapismo, mas pode afetar a função erétil pós-procedimento em maior nível que o shunt distal isolado.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Quando os shunts distais falharem, um shunt proximal a céu aberto será a próxima linha de tratamento. No entanto, o shunt proximal é considerado, por alguns especialistas, um procedimento histórico que foi amplamente substituído pelo shunt distal com procedimentos de tunelamento.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Pode-se considerar shunts proximais, como o shunt de Quackels ou de Sacher (criando uma janela entre os corpos cavernosos e o corpo esponjoso).
Deve-se realizar anastomoses/shunts venosos como último recurso. A técnica de Grayhack cria uma janela no corpo cavernoso fazendo uma anastomose com a veia safena, enquanto a técnica do shunt de Barry cria uma janela no corpo cavernoso fazendo uma anastomose com a veia dorsal profunda.
Para todos os procedimentos de shunt, o paciente deve receber antibióticos perioperatórios e pós-operatórios.[21]Bivalacqua TJ, Burnett AL. Priapism. In: Graham SD, Glen JF, eds. Glenn’s urologic surgery. 7th ed. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; 2010:487-91.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Técnica de aspiração do sangue peniano (colocação de agulha nos corpos cavernosos para sua máxima irrigação)Arthur L. Burnett, MD, FACS [Citation ends].
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Tipos de procedimentos de shunt cirúrgico para o tratamento do priapismo isquêmicoHelen R. Levey, DO, MPH [Citation ends].
Prótese peniana
As diretrizes dos EUA declaram que a colocação de prótese peniana pode ser considerada em caso de priapismo isquêmico agudo não tratado >36 horas ou naqueles refratários ao shunt, com ou sem tunelização.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
As indicações relativas das diretrizes europeias para prótese peniana em pacientes com priapismo isquêmico incluem duração >48 horas, falha do tratamento clínico, RNM ou biópsia corporal com evidências de necrose do músculo liso, ou falha dos procedimentos de shunt.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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A colocação de implante peniano deve ocorrer até 3 semanas após o episódio de priapismo isquêmico agudo, embora os pacientes submetidos a shunts penianos distais possam precisar esperar mais para a cicatrização adequada do tecido corporal distal.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/sexual-and-reproductive-health#9
O implante peniano depende do quadro clínico do paciente e do nível de experiência do cirurgião. Um implante peniano maleável pode oferecer menor risco cirúrgico e pós-cirúrgico.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/sexual-and-reproductive-health#9
Em homens que se apresentam com episódios refratários recorrentes de priapismo isquêmico, submetidos previamente a manejo cirúrgico de priapismo, seja aspiração e irrigação repetidas ou procedimentos de shunt repetitivos mais invasivos, a prótese peniana é uma alternativa adequada, melhor que submeter o paciente a procedimentos de shunt adicionais futuros.[41]Ralph DJ, Garaffa G, Muneer A, et al. The immediate insertion of a penile prosthesis for acute ischaemic priapism. Eur Urol. 2009 Dec;56(6):1033-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18930579?tool=bestpractice.com
[42]Monga M, Broderick GA, Hellstrom WJ. Priapism in sickle cell disease: the case for early implantation of the penile prosthesis. Eur Urol. 1996;30(1):54-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8854068?tool=bestpractice.com
[43]Montague DK, Angermeier KW. Corporeal excavation: new technique for penile prosthesis implantation in men with severe corporeal fibrosis. Urology. 2006 May;67(5):1072-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16581112?tool=bestpractice.com
[44]Rees RW, Kalsi J, Minhas S, et al. The management of low-flow priapism with the immediate insertion of a penile prosthesis. BJU Int. 2002 Dec;90(9):893-7.
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[45]Tausch TJ, Evans LA, Morey AF. Immediate insertion of a semirigid penile prosthesis for refractory ischemic priapism. Mil Med. 2007 Nov;172(11):1211-2.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18062399?tool=bestpractice.com
Priapismo não isquêmico
O tratamento inicial do priapismo não isquêmico é a observação, com uma opção para o tratamento conservador.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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Abordagens conservadoras
As diretrizes dos EUA recomendam 4 semanas como um período de observação razoável, a menos que o paciente apresente desconforto significativo. Após o período de monitoramento de 4 semanas, a fístula deve ser reavaliada com ultrassonografia Doppler-duplex colorido para verificar se começou a fechar. Caso a fístula esteja inalterada, ou caso o paciente sinta desconforto constante, a intervenção pode ser considerada.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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Os métodos de tratamento conservador incluem aplicar gelo no períneo ou compressão perineal, com ou sem orientação por ultrassonografia.[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
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A remissão espontânea é observada na maioria dos casos, embora a disfunção erétil possa ocorrer de alguma forma em alguns pacientes.[46]Moussa M, Abou Chakra M, Papatsoris A, et al. An update on the management algorithms of priapism during the last decade. Arch Ital Urol Androl. 2022 Jun 30;94(2):237-47.
https://www.pagepressjournals.org/index.php/aiua/article/view/aiua.2022.2.237/10206
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35775354?tool=bestpractice.com
embolização
Intervenções invasivas podem ser realizadas a pedido do paciente, mas a probabilidade de remissão espontânea, os riscos de disfunção erétil relacionados ao tratamento e o risco relativamente baixo de complicações, caso não seja realizado nenhum tratamento ativo, devem ser discutidos com o paciente antes de se realizar qualquer procedimento.
O fracasso da observação ou do tratamento conservador justifica a discussão do tratamento com embolização arterial seletiva.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/sexual-and-reproductive-health#9
Materiais de embolização absorvíveis (ou seja, coágulo autólogo, gel em espuma) e não absorvíveis (ou seja, microespirais, partículas de álcool polivinil) estão disponíveis para uso e alcançam resultados similares.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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Alguns estudos sugerem que o coágulo autólogo está associado com uma taxa de recorrência mais alta, e que as partículas de álcool polivinil oferecem a melhor recuperação da função erétil; no entanto, os dados continuam inconclusivos.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
[4]European Association of Urology. Guidelines: sexual and reproductive health. 2022 [internet publication].
https://uroweb.org/guidelines/sexual-and-reproductive-health#9
Caso a tentativa inicial de embolização falhe, os pacientes devem receber uma segunda tentativa, idealmente com partículas de álcool polivinil não reabsorvíveis.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Estudos sugerem que a embolização causa resolução do priapismo não isquêmico em 85% dos pacientes, com 80% mantendo ereções funcionais. No entanto, a embolização representa um risco para disfunção erétil; pode haver recorrência do priapismo.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
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http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Cirurgia
O manejo cirúrgico do priapismo não isquêmico deve ser considerado somente se as tentativas de repetição da embolização tiverem falhado. Geralmente, isso envolve a ligadura cirúrgica direta das fístulas sinusoidais ou pseudoaneurismas cavernosos. A cirurgia deve ser realizada com ultrassonografia Doppler-duplex colorida intraoperatória.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Priapismo recorrente (stuttering)
O tratamento deve focar na prevenção de futuros episódios; o manejo de episódios individuais deve ser feito após o manejo do priapismo isquêmico.
Estratégias de prevenção
Os dados de eficácia e de segurança continuam sendo insuficientes para recomendar estratégias de prevenção ideais com certeza.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O baclofeno, a dutasterida (um inibidor de 5-alfa redutase), a tadalafila ou a sildenafila (inibidores de fosfodiesterase-5) o, cetoconazol com prednisolona, a pseudoefedrina, a ciproterona (um antiandrogênico) e aspirina orais foram todos usados com graus de sucesso variados. A etilefrina, a hidroxiureia e a exsanguineotransfusão automática podem ser consideradas em associação com essas terapias nos indivíduos com priapismo recorrente e anemia falciforme.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
Uma metanálise de diferentes tratamentos medicamentosos, incluindo a sildenafila e a efedrina, não constatou nenhum efeito significativo atribuível a qualquer um dos tratamentos, em comparação com o placebo, em relação à redução na frequência do priapismo em "stuttering" em pacientes com doença falciforme.[47]Chinegwundoh FI, Smith S, Anie KA. Treatments for priapism in boys and men with sickle cell disease. Cochrane Database Syst Rev. 2020 Apr 6;(4):CD004198.
https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD004198.pub4/full
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32251534?tool=bestpractice.com
O cetoconazol com prednisolona parece ser a intervenção farmacológica mais efetiva para a prevenção do priapismo isquêmico (stuttering) recorrente.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
A orientação de um especialista é necessária; o cetoconazol pode causar lesão hepática grave e insuficiência adrenal.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O fígado e a função adrenal devem ser monitorados antes e durante o tratamento.
Agentes hormonais, como o cetoconazol e a ciproterona, não devem ser usados em pacientes que não tiverem atingido a maturação sexual completa e a estatura adulta.
Autoinjeção em casa
A autoinjeção intracavernosa de fenilefrina ou outros simpatomiméticos (por exemplo, efedrina, adrenalina, noradrenalina ou metaraminol) pode ser considerada nos pacientes refratários ao tratamento sistêmico ou que o rejeitem; no entanto, ela não é uma estratégia de prevenção.[1]Bivalacqua TJ, Allen BK, Brock GB, et al. The diagnosis and management of recurrent ischemic priapism, priapism in sickle cell patients, and non-ischemic priapism: an AUA/SMSNA guideline. J Urol. 2022 Jul;208(1):43-52.
https://www.auajournals.org/doi/10.1097/JU.0000000000002767
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35536142?tool=bestpractice.com
O paciente deve ser aconselhado em relação à administração e aos efeitos adversos dos agentes simpatomiméticos. Caso ocorra um episódio de priapismo, o paciente pode tomar uma injeção em casa após ter aprendido a fazê-lo no hospital. No entanto, é essencial que ele seja instruído a buscar cuidados médicos se o priapismo durar >3 horas, pois é necessário um tratamento médico imediato.