Abordagem

Devido à natureza dessa doença (ou seja, pênis ereto na ausência de excitação sexual), o priapismo é prontamente reconhecido. O diagnóstico deve focar na natureza do tipo subjacente (ou seja, isquêmico, não isquêmico ou recorrente) e na identificação dos fatores predisponentes/contribuintes.

Avaliação clínica

Quando um paciente apresenta uma ereção prolongada, deve-se levantar sua história médica detalhada e realizar exame físico.[1] Isso deve incluir:

  • Informações sobre a duração do priapismo

  • Existência de fatores precedentes (por exemplo, uso de medicamentos vasoativos)

  • Qualquer manobra de alívio ou tratamento clínico usado

  • Episódios prévios de priapismo

  • Presença de dor

  • Existência de condições etiológicas ou comorbidades (por exemplo, hemoglobinopatias), e

  • Estado da função erétil antes do episódio de priapismo.

O exame físico direto do pênis permite a avaliação da extensão da ereção, grau de envolvimento do corpo cavernoso (por exemplo, priapismo tricorporal) e presença e gravidade da sensibilidade. No priapismo isquêmico, o pênis e os corpos cavernosos são rígidos e sensíveis à palpação. Por outro lado, no priapismo não isquêmico, o pênis não fica dolorido e geralmente não fica rígido. Exames abdominais, perineais e retais podem revelar sinais de trauma, neoplasia ou infecção pélvica.[1] Quando houver suspeita de ferimento ou lesão na medula espinhal, pode-se indicar um exame neurológico completo.[34]

Alguns pacientes podem apresentar priapismo recorrente (às vezes chamado de "gagueira" [stuttering]). Os pacientes com priapismo em gagueira normalmente se queixam de episódios dolorosos de priapismo que duram <4 horas e podem ocorrer uma vez por semana ou a cada 2 semanas. As ereções geralmente desintumescem sozinhas, embora em alguns casos possa haver a permanência do edema peniano e de ereção parcial.

Investigações laboratoriais

Devem-se solicitar um hemograma completo, diferencial de leucócitos e contagem plaquetária como exames iniciais em todos os pacientes com priapismo a fim de avaliar a presença de quaisquer anormalidades hematológicas ou de alguma infecção aguda.[1][4] A contagem leucocitária pode estar elevada, sugerindo infecção (por exemplo, um abscesso pélvico) ou discrasia sanguínea; pode haver anemia e aumento dos reticulócitos em pacientes com doença falciforme.

O status para anemia falciforme deve ser apurado nos pacientes em que houver incerteza ou suspeita. Nesses pacientes, pode-se obter um diagnóstico rápido usando-se um teste de solubilidade falciforme. Esse teste detecta qualquer hemoglobina (Hb) falciforme; logo, será positivo tanto nos pacientes com traço falciforme quanto nos com doença falciforme. A confirmação subsequente do status requer uma eletroforese de Hb. Um exame toxicológico da urina e um perfil da coagulação também podem ser obtidos.[1][4]

Diagnósticos penianos

Após levantar cuidadosamente a história, é útil realizar uma gasometria do sangue cavernoso para diferenciar priapismo isquêmico e não isquêmico.[1] O sangue aspirado do corpo cavernoso oferece a oportunidade da visualização direta e avaliação do sangue peniano.[35] Nos pacientes com priapismo isquêmico, o sangue aspirado é hipóxico e escuro, enquanto no priapismo não isquêmico o sangue é oxigenado e, portanto, vermelho vivo.

A gasometria do sangue cavernoso oferece uma distinção imediata entre as divisões clássicas do priapismo. A gasometria do sangue cavernoso para o priapismo isquêmico geralmente mostra uma pO₂ de <30 mmHg, pCO₂ de >60 mmHg e pH de <7.25. Inversamente, os valores de gasometria do sangue cavernoso para priapismo não isquêmico são pO₂ >90 mmHg, pCO₂ <40 mmHg e pH de 7.40, consistentes com sangue arterial normal em ar ambiente.[1][4]

Para fins de comparação, os níveis normais de gasometria do sangue cavernoso do pênis flácido são semelhantes aos do sangue venoso misto normal nas condições de ar ambiente (pO₂ de 40 mmHg, pCO₂ de 50 mmHg e pH de 7.35).[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Técnica de aspiração do sangue peniano (colocação de agulha nos corpos cavernosos para sua máxima irrigação).Da biblioteca de fotografias clínicas do autor. [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@74e5a15

Exames de imagem

A ultrassonografia Doppler-duplex colorida não é um exame diagnóstico de primeira linha para o priapismo, mas pode ser útil para diferenciar entre doença isquêmica e não isquêmica nos casos não agudos.[1] No priapismo isquêmico, observa-se um fluxo sanguíneo mínimo ou ausente nas artérias cavernosas, bem como dentro dos corpos cavernosos; pacientes com priapismo não isquêmico apresentam velocidade de fluxo sanguíneo normal a alta nas artérias cavernosas, com evidência de fluxo sanguíneo nos corpos cavernosos.[1][2][32]

A ultrassonografia também pode mostrar anormalidades anatômicas, como fístulas arteriais cavernosas ou pseudoaneurismas, que ajudariam a confirmar o diagnóstico de priapismo não isquêmico. O estudo deve ser realizado com o paciente na posição de litotomia ou pernas em "posição de rã" para examinar primeiro o períneo e, depois, toda a haste peniana.[2]

Pode-se considerar a RNM para avaliar uma eventual necrose do músculo liso corporal nos pacientes com priapismo prolongado que são considerados para colocação de prótese peniana.[4] É improvável que haja um papel no diagnóstico inicial do priapismo.[1]

A arteriografia peniana foi amplamente suplantada pela ultrassonografia Doppler-duplex colorida. No entanto, ela desempenha uma função como parte de um procedimento de embolização para o priapismo não isquêmico.[4]

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