Etiologia

A causa da hipertensão arterial pulmonar idiopática (HAPI) é desconhecida. Sua patogênese provavelmente envolve a interação da predisposição genética e os fatores de risco que causam danos vasculares pulmonares.[3]​ As mutações no gene que codifica o receptor da proteína morfogenética óssea tipo 2 (BMPR2), um membro da superfamília do fator de transformação de crescimento beta (TGF beta), são responsáveis pelos casos familiares de hipertensão arterial pulmonar.[12] No entanto, somente 20% dos portadores das mutações do BMPR2 desenvolvem a doença ao longo da vida.[13] As mutações em BMPR2 também têm sido encontradas em 11% a 40% dos casos não familiares de hipertensão pulmonar primária. Essas mutações causam alterações nas vias de sinalização intracelular que resultam em efeitos proliferativos e antiapoptóticos na vasculatura pulmonar. Os outros fatores genéticos predisponentes incluem mutações e variantes nos genes: ACVRL1 (que codifica a quinase tipo receptor de ativina 1, um receptor tipo 1 das proteínas da família TGF beta); ENG (que codifica a endoglina, uma glicoproteína); SMAD9 (que codifica uma proteína da família SMAD, que faz a transdução de sinais dos membros da família TGF beta); CAV1 (que codifica a proteína caveolina 1) e o gene KCNK3 (que codifica um canal de potássio).[14] Os fatores de risco ambientais exatos da HAPI continuam desconhecidos, mas as possibilidades incluem infecções, medicamentos como redutores de apetite e injúrias inflamatórias.[15][16][17]

Fisiopatologia

As principais alterações vasculares são vasoconstrição, proliferação de células de músculo liso e de células endoteliais, e trombose. Essas alterações sugerem a predominância de fatores trombogênicos, mitogênicos, pró-inflamatórios e vasoconstritores, provavelmente como uma consequência de lesão ou disfunção das células endoteliais pulmonares.[18] Os níveis de um metabólito da prostaciclina, um potente vasodilatador com atividade antiproliferativa e antiplaquetária, encontram-se reduzidos na urina de pacientes com hipertensão pulmonar. No entanto, os níveis dos metabólitos do tromboxano A2 (um vasoconstritor e agonista plaquetário) estão elevados.[19] Além disso, a expressão da sintase da prostaciclina está reduzida na árvore vascular pulmonar de pacientes com hipertensão pulmonar grave, principalmente hipertensão arterial pulmonar idiopática (HAPI).[20]

Outro potente vasoconstritor e mediador pró-proliferativo é a endotelina 1. Seus níveis plasmáticos estão elevados na hipertensão pulmonar e apresentam correlação com a gravidade da HAPI.[21][22] Também existe uma expressão elevada de endotelina 1 nas células endoteliais vasculares em pacientes com hipertensão pulmonar.[23]

O terceiro mediador importante na HAPI é o óxido nítrico (NO), um potente vasodilatador e inibidor da ativação plaquetária e da proliferação das células musculares lisas.[24]​ Os níveis de óxido nitroso (NO) são mais baixos nos pulmões dos pacientes com HAPI em comparação com controles saudáveis.[25][26]​​ Inicialmente, acreditava-se que esses níveis baixos eram decorrentes da menor expressão da sintetase endotelial de NO no pulmão, mas parece que esses níveis são secundários ao consumo aumentado de NO ou à menor síntese de NO decorrente da menor disponibilidade de substrato.[27][28]

Também foram descritas alterações na serotonina, adrenomedulina, peptídeo intestinal vasoativo, fator de crescimento endotelial vascular, fator de crescimento derivado das plaquetas e canais de potássio.[18][29][30]

Um estado pró-coagulante e uma trombose vascular pulmonar in situ foram demonstrados na HAPI e se refletem pelos níveis elevados de fibrinopeptídeo A, dímero D, fator de von Willebrand e inibidor do ativador de plasminogênio tipo 1.[31]

Essas alterações causam o estreitamento vascular pulmonar com o consequente aumento da resistência vascular pulmonar (RVP) que causa sobrecarga do ventrículo direito e, finalmente, insuficiência do ventrículo direito e morte.

Classificação

Classificação clínica atualizada da hipertensão pulmonar​ (HP)[2][3]

1. Hipertensão arterial pulmonar (HAP)

  • 1.1 HAP idiopática

    • 1.1.1 Teste de vasorreatividade sem resposta clínica

    • 1.1.2 Teste de vasorreatividade com resposta clínica aguda

  • 1.2 HAP hereditária

  • 1.3 HAP induzida por medicamentos e toxinas

  • 1.4 Associada a:

    • 1.4.1 Doença do tecido conjuntivo

    • 1.4.2 Infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV)

    • 1.4.3 Hipertensão portal

    • 1.4.4 Cardiopatias congênitas

    • 1.4.5 Esquistossomose

  • 1.5 Doença veno-oclusiva pulmonar e/ou hemangiomatose capilar pulmonar

  • 1.6 Hipertensão pulmonar persistente do neonato (HPPN)

2. Hipertensão pulmonar atribuída a cardiopatia esquerda

  • 2.1 Insuficiência cardíaca

    • 2.1.1 Com fração de ejeção preservada

    • 2.1.2 Com fração de ejeção reduzida ou levemente reduzida

  • 2.2 Valvopatia cardíaca

  • 2.3 Doenças cardiovasculares congênitas/adquiridas que causam hipertensão pulmonar pós-capilar

3. Hipertensão pulmonar atribuída a doenças pulmonares e/ou hipóxia

  • 3.1 Doença pulmonar obstrutiva ou enfisema

  • 3.2 Doença pulmonar restritiva

  • 3.3 Outras doenças pulmonares com padrão misto restritivo e obstrutivo

  • 3.4 Síndromes de hipoventilação

  • 3.5 Hipóxia sem doença pulmonar

  • 3.6 Distúrbios do desenvolvimento pulmonar

4. HP causada por obstruções da artéria pulmonar

  • 4.1 HP tromboembólica crônica

  • 4.2 Outras obstruções da artéria pulmonar

5. Hipertensão pulmonar com mecanismos multifatoriais incertos

  • 5.1 Disfunções hematológicas: anemia hemolítica crônica, doenças mieloproliferativas, esplenectomia

  • 5.2 Disfunções sistêmicas: vasculite, sarcoidose, histiocitose pulmonar de células de Langerhans, linfangioleiomiomatose, neurofibromatose

  • 5.3 Alterações metabólicas: doença de depósito de glicogênio, doença de Gaucher, disfunções da tireoide

  • 5.4 Insuficiência renal crônica com ou sem hemodiálise

  • 5.5 Microangiopatia trombótica de tumor pulmonar

  • 5.6 Mediastinite fibrosante

O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal