História e exame físico

Principais fatores diagnósticos

comuns

mal-estar/fadiga pós-esforço (PEM; exaustão por esforço)

O mal-estar pós-esforço (PEM) é um achado característico na EM/SFC.[6] Baixos níveis de esforço físico e/ou mental são mal tolerados. Baixos níveis de atividade física ou cognitiva ou estressores emocionais causam exacerbações da fadiga, dor e disfunção cognitiva. Tais exacerbações podem ter início imediato ou serem proteladas por várias horas, e podem persistir por 24 horas ou mais.

O mal-estar pós-esforço (PEM) é um sintoma obrigatório para o diagnóstico de acordo com as diretrizes de 2021 do National Institute for Health and Care Excellence (NICE) do Reino Unido, para a definição pelo Institute of Medicine dos EUA da doença sistêmica de intolerância ao esforço, e para a definição do grupo de trabalho canadense de síndrome da fadiga crônica (SFC)/EM.[5][6][8]

fadiga incapacitante persistente

Não aliviada por sono, repouso ou restrição de atividade. O padrão de fadiga pode ser persistente ou recidivante e remitente e pode estar presente por mais de 6 meses em adultos. As diretrizes NICE sugerem reduzir esse período de ocorrência para 3 meses.[8]

A fadiga pode mostrar leves remissões, mas sem retorno ao estado usual e prévio de saúde e atividade. A fadiga deve ser de moderada a grave e persistir por mais de 50% do tempo.[6]

disfunção cognitiva

O comprometimento da memória de trabalho é comum.[6] No entanto, o comprometimento da memória de longo prazo é incomum.

Dificuldade de atenção ou de concentração, dificuldade em achar as palavras e lentidão no processamento de informações também podem estar aparentes.[6]

Pode ocorrer disfunção cognitiva induzida por esforço que afeta a memória de trabalho.

O comprometimento da memória não é permanente nem progressivo, como ocorre no comprometimento cognitivo leve ou na doença de Alzheimer.

faringite

Desconforto episódico que pode estar associado a queixas semelhantes às da gripe e linfonodos sensíveis à palpação (sem linfadenopatia palpável).[6]

cefaleia

Novos episódios de cefaleias ou mudança significativa no local ou na intensidade da cefaleia.

Cefaleias enxaquecosa e tensional comórbidas são comuns, mas muitas vezes não tratadas.

alteração do sono

O sono é caracteristicamente "não restaurador" ou "não revigorante".[10]

O distúrbio no sono pode ser caracterizado por insônia, hipersonia ou sono fragmentado.

O distúrbio no sono pode ser agravado por alterações comportamentais em relação ao ciclo do sono (por exemplo, aumento do repouso e cochilos durante horas de vigília normal).

Pode ocorrer má higiene do sono, com reversão dos ciclos de sono e vigília.

intolerância ortostática

Tontura, aturdimento, desorientação espacial ou mal-estar após levantar-se da posição de decúbito ou repouso.[6][107]

Pode limitar as atividades, como ficar de pé em uma fila ou fazer compras. Alterações posturais nos sinais vitais podem não ser encontradas, mesmo permanecendo de pé por 1 ou 2 minutos. Embora os sintomas de intolerância ortostática costumem estar associados com a taquicardia ortostática postural significativa e hipotensão, muitos pacientes apresentam sintomas incapacitantes sem essas perturbações autonômicas

dor e hiperalgesia

A dor crônica e a hiperalgesia que afetam músculos, articulações, tecidos subcutâneos, superfícies mucosas e qualquer outro local inervado por neurônios sensoriais simpáticos e somáticos são sintomas que se manifestam comumente na EM/SFC.[3]

Tipicamente, não há sinais de inflamação nas articulações.

Incomuns

linfonodos sensíveis à palpação

Pode haver linfonodos axilares, cervicais e/ou subauriculares sensíveis à palpação.[6]

Linfonodos discretos e palpáveis sugerem um diagnóstico alternativo (por exemplo, infecção ou neoplasia maligna).

Outros fatores diagnósticos

comuns

idade de início (adolescência e 30-50 anos)

As idades de pico para início são a adolescência e entre 30 e 50 anos.[22][23][24]

sintomas tipo gripe (mal-estar, mialgia, sensação de febre)

Aumento e diminuição frequente de sintomas tipo gripe, inclusive mal-estar, mialgia e sensação de febre.[10]

ansiedade, transtorno afetivo

Cerca de 40% dos pacientes com EM/SFC têm depressão clínica e/ou ansiedade, de forma semelhante a várias outras afecções clínicas crônicas.[160] Ansiedade, afeto depressivo e habilidades de enfrentamento desadaptativas podem preceder ou ocorrer concomitantemente com a EM/SFC.

Outros estigmas da depressão, como anedonia, agitação ou retardo psicomotores, sensação de falta de valor ou culpa excessiva ou inadequada, e pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, não são típicos da EM/SFC, mas indicam transtorno depressivo comórbido.

sensações de temperatura alterada ou febril

Podem ocorrer sintomas como intolerância de temperaturas ambientes quentes ou frias, sensação febril, sudorese, calafrios ou necessidade de usar roupas a mais em comparação com outras pessoas.[10]

Incomuns

sensibilidade a substâncias irritantes

Alguns pacientes com EM/SFC ficam mais sensíveis a agentes químicos adstringentes e odores, como produtos de limpeza doméstica, alvejantes/lixívia, fumaça de cigarro e gasolina.[10]​ Os sintomas das vias aéreas podem ser semelhantes a vários distúrbios de sensibilidade química. Congestão nasal e rinorreia podem ser decorrentes de rinopatia não alérgica, com reflexos colinérgicos hiperativos, que podem ter resposta clínica aos sprays nasais anticolinérgicos, como ipratrópio ou brometo de tiotrópio. As taxas de testes cutâneos de alergia positivos e intervalos de níveis de IgE parecem ser semelhantes em pacientes com e sem EM/SFC.[161]

Fatores de risco

Fortes

sexo feminino

A frequência em mulheres é aproximadamente 2-3 vezes maior que em homens.[18][25]​​​​ Poucas pesquisas investigaram as diferenças entre sexos na EM/SFC. As diferenças na prevalência de EM/SFC em homens e mulheres sugerem um papel potencial dos distúrbios endócrinos; no entanto, as pesquisas atuais são limitadas pelo tamanho reduzido das amostras e pelo uso de critérios de inclusão menos específicos.[129]

Infecção por Epstein-Barr em adolescentes

A infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV) (mononucleose infecciosa) evolui para EM/SFC em 13% dos adolescentes após 6 meses.[36] A taxa cai para cerca de 4% em 24 meses, indicando uma alta taxa de remissão em adolescentes.

doença do coronavírus 2019 (COVID-19)

Indivíduos com síndrome pós-COVID-19 (ou seja, COVID longa) apresentam fadiga incapacitante crônica e outros sintomas que se sobrepõem à EM/SFC.[49]​ Estudos longitudinais determinarão o índice de melhora da síndrome pós-COVID-19 (ou seja, COVID longa), a prevalência da EM/SFC crônica em pacientes pós-COVID-19 e as diferenças em suas patogêneses.[51]

Fracos

história familiar positiva de EM/SFC

As taxas de EM/SFC são mais altas entre parentes de primeiro grau.[55][130]​ Um estudo em mulheres gêmeas revelou taxas de concordância de 38% e 11% entre gêmeas monozigóticas e dizigóticas, respectivamente.[131]

fatores genéticos

Há algumas evidências de um componente genético para EM/SFC, embora múltiplos estudos de associação genômica ampla não tenham constatado associações consistentemente significativas até o momento.[130]

doenças infecciosas específicas em adultos

Até o momento, não existem evidências consistentes para dar suporte a nenhum agente viral individual ou infeccioso de outro tipo na maioria dos casos de EM/SFC, e os medicamentos antivirais não foram bem-sucedidos no tratamento do amplo espectro da EM/SFC.​[31][52][53]​​​[54]​ É provável que a COVID longa seja exceção a esse achado.

No entanto, doenças infecciosas em adultos são relatadas antes do início da EM/SFC, inclusive febre Q, parvovírus, vírus do Nilo Ocidental, SARS, gripe (influenza) e outras infecções.[32][39][40][41]

autoimunidade

Anticorpos contra receptores adrenérgicos foram encontrados na EM/SFC e na síndrome da taquicardia ortostática postural.[68][69]​ No entanto, o potencial papel da autoimunidade não encontra suporte em outra pesquisa.

disfunção do microbioma intestinal

O microbioma intestinal tem uma diversidade reduzida na EM/SFC e, após o exercício, os micróbios intestinais parecem entrar no sangue periférico mais prontamente do que em pacientes controle.[94][95]​ No entanto, os dados parecem inconsistentes em geral.[96]

transtorno depressivo maior

Embora exista uma forte relação entre fadiga e depressão quando medida pela Escala de Depressão do Centro de Estudos Epidemiológicos (Center for Epidemiologic Studies Depression Scale, CES-D), a fadiga não é sensível nem específica para o diagnóstico de depressão.[132]

A depressão antes dos 36 anos foi associada ao desenvolvimento subsequente de EM/SFC (razão de chances de 2.65).[133] No entanto, a relação da depressão com a EM/SFC deve ser atenuada pelos critérios usados para diagnosticar a EM/SFC (por exemplo, o transtorno depressivo maior nos últimos 5 anos é uma condição excludente para os critérios canadenses de EM/SFC) e pela alta taxa de doenças de saúde mental na população em geral.[4] A fadiga é uma manifestação comum do transtorno depressivo maior na maior parte da população em geral, e essa combinação não é sinônimo de EM/SFC.[132]

ascendência

Estudos na comunidade revelaram que brancos norte-americanos falantes do inglês tinham um risco menor de EM/SFC que latinos, afro-americanos ou índios norte-americanos.[22][26][27]​​​ Na Inglaterra, constatou-se que a prevalência da EM/SFC em pessoas de ascendência paquistanesa é de 3.5%, enquanto sua prevalência em pessoas brancas é de 0.8%.[28]

hipermobilidade/frouxidão articular

A hipermobilidade articular está associada à fadiga em crianças, EM/SFC (21%), ansiedade, síndrome da taquicardia ortostática postural, síndrome do intestino irritável, outras síndromes somáticas funcionais e alterações no tronco encefálico na ressonância nuclear magnética.[134][135][136] A amplitude de movimentos comprometida na coluna e nos membros foi relatada em adolescentes com EM/SFC.[137]

achados cardíacos

Redução de débito cardíaco, VO₂ máx e vasodilatação periférica com shunt esquerda-direita podem ser encontrados no teste de esforço cardiopulmonar invasivo, mas precisarão de avaliação clínica para diagnosticar EM/SFC versus outras doenças cardiopulmonares.[111][119][120][121]​​[122]​​​​

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