Prevenção primária
Treinamento do médico da unidade básica de saúde
Pessoas que morrem por suicídio frequentemente consultam profissionais das unidades básicas de saúde durante o mês que antecede a morte.[87] Embora alguns tenham se autolesionado, muitos desses pacientes apresentam queixas somáticas inespecíficas (por exemplo, cefaleia, desconforto gastrointestinal, dorsalgia, preocupação com uma infecção sexualmente transmissível) mascarando sua condição de saúde mental subjacente.[88]
O tratamento precoce efetivo da depressão é associado à redução das taxas de suicídio e de incidência de episódios de lesão autoprovocada.[52][89][90][91][92] O conhecimento e a confiança na avaliação e manejo dos indivíduos que podem estar em risco de suicídio varia entre os profissionais de atenção primária.[93][94] Uma abordagem promissora na prevenção de suicídio é o treinamento dos médicos da unidade básica de saúde (também conhecidos como clínicos gerais), para que possam reconhecer, tratar e, se necessário, encaminhar os pacientes com doença mental, principalmente a depressão.[95][96][97][98] A formação e a entrega de recursos adequados podem melhorar a confiança e as competências na prevenção do suicídio. Entretanto, a incerteza continua quanto à eficácia das estratégias de prevenção do suicídio oferecidas pelos clínicos gerais.[99][100]
Treinamento de indivíduos e profissionais de linha de frente (gatekeepers)
Profissionais de linha de frente são pessoas em contato com pessoas ou populações de alto risco de suicídio, incluindo clero, primeiros atendentes, farmacêuticos, cuidadores geriátricos, equipe e funcionários institucionais, incluindo escolas, prisões e o exército.[52] A finalidade do treinamento dos profissionais de linha de frente é facilitar o reconhecimento de risco de suicídio, transtorno mental ou níveis altos de sofrimento, e melhorar os vínculos entre a pessoa e os serviços de saúde mental. O treinamento dos profissionais de linha de frente tem sido bem-sucedido para melhorar o conhecimento, atitudes e habilidades dos aprendizes, e os programas implementados no Exército Norueguês e na Força Aérea dos EUA, bem como o programa de Prevenção do Suicídio na Juventude do Garrett Lee Smith Memorial, tiveram sucesso em diminuir as taxas de suicídio.[52][97][101][102][103][104]
Programas de prevenção de suicídio baseados em escolas
Programas de conscientização sobre o suicídio são amplamente empregados em escolas de muitos países, apesar das poucas evidências que dão suporte à sua implementação.[82][105][106][107][108][109][110] No entanto, uma grande metanálise de 2016 concluiu que os programas de conscientização nas escolas reduziram as tentativas de suicídio (razão de chances [RC] 0.45, IC de 95% 0.24 a 0.85; P=0.014) e ideação suicida (RC 0.5, IC de 95% 0.27 a 0.92; P=0.025).[99] Um estudo basado na escola europeia também é promissor, usando uma intervenção baseada em currículo ligada ao treinamento do tipo de profissional de linha de frente com acesso adicional aos cuidados de saúde mental para aqueles considerados em risco.[111]
Programas de prevenção baseados na comunidade
Outros programas de prevenção de suicídio baseados na comunidade, como aqueles fundamentados na ideologia de melhorar os fatores protetores ou fortalecer a coesão da comunidade, não se mostraram eficazes para diminuir e manter uma redução significante nas taxas de suicídio. Frequentemente, não ocorre uma avaliação adequada dos riscos em potencial (por exemplo, um aumento no suicídio após a implementação de um programa) nem do custo-efetividade das abordagens.[108][112]
A educação da mídia para relatar o suicídio de forma responsável se mostrou capaz de reduzir as taxas de suicídio na Áustria,[113] mas, a qualidade do estudo limitou as conclusões de uma metanálise.[114]
Embora as linhas de atendimento por telefone estejam amplamente disponíveis, existem poucas evidências substanciais de sua eficácia na prevenção do suicídio.[52][105][115]
Os benefícios e riscos dos anúncios do serviço público para reduzir a ideação suicida, tentativa de suicídio ou morte por suicídio não são claros.[116]
Restringindo o acesso aos métodos letais de lesão autoprovocada
O acesso aos métodos de lesão autoprovocada é um fator de risco modificável. Construir barreiras de segurança nas pontes, remover a toxicidade do gás de cozinha e dos escapamentos de carros, limitar as quantidades de paracetamol e restringir as armas de fogo foram medidas citadas como estratégias eficazes na prevenção do suicídio.[52][82][105][117][118]
Prevenção secundária
Em pacientes que já tiveram uma tentativa de suicídio, um consentimento informado deve ser obtido dos pacientes, para permitir que os médicos e os membros da família se comuniquem se o risco de suicídio for preocupante. Os membros da família devem ser instruídos a entrar em contato com o médico do paciente se suspeitarem que a adesão aos tratamentos foi comprometida; se o paciente começar a discutir ideias ou planos suicidas; ou se o quadro clínico do paciente piorar.
Os meios letais, como armas, devem ser removidos da residência. A estimulação das alianças familiares e o aumento da disponibilidade de apoios externos podem ser importantes para reduzir o risco de tentativa de suicídio em adolescentes com lesões autoprovocadas.[220]
Serviços de cuidados aprimorados
Acompanhar as intervenções de saúde mental para jovens analisados para risco de suicídio quando recebem alta do pronto-socorro, leva a uma redução dos desfechos relacionados ao suicídio e a uma melhora na adesão ao tratamento após a alta.
Um ensaio clínico randomizado de jovens de 13 a 17 anos de idade que foram internados após uma tentativa de suicídio, com pensamentos suicidas, ou ambos, mostrou que a intervenção de apoio social psico-educacional Youth-Nominated Support Team Intervention for Suicidal Adolescents-Version II reduziu as taxas de suicídio.[154]
Em pacientes idosos, vários estudos mostraram benefícios das intervenções reforçadas. O estudo The Prevention of Suicide in Primary Care Elderly: Collaborative Trial (PROSPECT, Prevenção de suicídio em idosos na unidade básica de saúde: teste colaborativo) avaliou o impacto de uma intervenção no manejo do atendimento (incluindo o uso de terapia psicológica e/ou farmacológica) sobre a ideação suicida e a depressão em pacientes ≥60 anos de idade na unidade básica de saúde.[221] Um achado semelhante foi relatado em um estudo da Austrália.[222] As intervenções reforçadas no pronto-socorro junto com o acompanhamento contínuo durante o intervalo de espera antes das consultas ambulatoriais de saúde mental exibiram uma diminuição do risco de suicídio em pacientes que não tinham sintomas basais de depressão.[223]
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