História e exame físico
Principais fatores diagnósticos
comuns
tentativa anterior de suicídio ou lesão autoprovocada
Frequência, contexto (por exemplo, momento, preparações, planejamento, uso de substâncias, impulsividade, testemunhas), método (letalidade do método, ideia sobre a letalidade), consequências (gravidade médica, tratamento resultante, consequências psicossociais) e intenção (expectativa da letalidade do método, atitude para com a vida, sensações sobre descoberta e sobrevivência) são características importantes dos comportamentos suicidas prévios e que devem ser identificadas durante a avaliação inicial.[119]
plano suicida atual
Em geral, planos suicidas premeditados e bem elaborados envolvem a escolha de um método altamente letal e são desenvolvidos visando a um local e horário em que a descoberta é improvável. A presença de um plano desta natureza deve aumentar a preocupação com a segurança de um paciente. Levantamentos mundiais sobre saúde mental realizados pela Organização Mundial da Saúde (n = 84,850) constataram que 29% das pessoas com pensamentos suicidas tentaram se matar, geralmente em até um ano após o início desses pensamentos. A probabilidade de suicídio aumentou para 56% quando também havia um plano de suicídio (15.4% de probabilidade de uma tentativa de suicídio se não houvesse um plano).[122]
acesso a meios letais
história de doença psiquiátrica, incluindo abuso de substâncias
A doença mental é um componente importante do suicídio, com até 90% das pessoas que morrem por suicídio tendo um diagnóstico psiquiátrico, mais comumente transtorno depressivo maior ou uso indevido de substâncias.[51][52][53]
O suicídio também está associado a outros transtornos do humor (por exemplo, transtorno bipolar I e II, transtorno esquizoafetivo), transtornos de ansiedade, anorexia nervosa e transtornos psicóticos.[127] A descontinuação do tratamento aumenta o risco.
história familiar de suicídio ou transtorno mental
Os fatores de risco de suicídio incluem tentativa de suicídio e suicídio por um parente de primeiro grau, transtorno psiquiátrico no parente de primeiro grau, transtorno de uso de substâncias da família, violência/abuso doméstico e/ou alto nível de conflito familiar.
Outros fatores diagnósticos
comuns
afecção clínica crônica, incapacidade ou deformidade
A presença de diagnósticos clínicos atuais ou desafios físicos, como doença terminal ou crônica, dor, comprometimento funcional ou cognitivo, perda de visão ou audição, deformidade ou perda de independência/dependência elevada dos outros, pode aumentar o risco de suicídio.[53][65][66][67][68][69][70][71]
fatores psicossociais significativos
Perda interpessoal real/percebida ou luto, humilhação percebida, dificuldades legais ou financeiras, alterações no status socioeconômico (por exemplo, a perda do emprego), problemas em casa, no trabalho, na escola, com a família, conjugais/de relacionamento, interpessoais/nos grupos de amigos e violência doméstica aumentam o estresse de um indivíduo e ele pode pensar em suicídio.
características pessoais desfavoráveis
Pouca habilidade para resolução de problemas, pouca capacidade de percepção, fraco controle afetivo, pensamento rígido, dependência e impulsividade podem afetar a capacidade de enfrentamento e potencialmente aumentar a vulnerabilidade à autolesão ou ao suicídio.
Fatores de risco
Fortes
plano de suicídio atual
Em geral, os planos de suicídio premeditados e bem pensados indicam um alto risco de suicídio.[42] Em uma amostra de pacientes hospitalizados em um hospital psiquiátrico britânico, as chances de morte por suicídio aumentaram 11 vezes com a presença de um plano de suicídio (razão de chances 11.8, IC de 95% 1.3 a 111.3).[43] Por outro lado, a não divulgação de um plano suicida não significa a ausência do risco.[44]
autolesão
Embora a maioria das pessoas que se lesiona possa não ter a intenção de dar fim à sua vida, a autolesão está associada com um aumento de 50 a 100 vezes no risco de futuro suicídio.[45] O preditor mais importante da autolesão futura é a autolesão pregressa.[46][47] Com cada repetição da autolesão o risco de suicídio aumenta.[48] O uso continuado de analgésicos fracos para autoenvenenamento é um indicador particularmente forte de futuro suicídio. Após um primeiro episódio de lesão autoprovocada, 20% das pessoas que comparecem ao hospital repete a autolesão em até um ano (muitas voltam para o mesmo hospital).[4][49] Para crianças e jovens, a ligação entre a lesão autoprovocada e o suicídio é maior do que se acreditava e no primeiro ano após a autolesão os adolescentes e jovens (de até 24 anos de idade) correm um risco acentuadamente maior de suicídio, especialmente os que usaram inicialmente métodos violentos de autolesão.[21] O sítio da lesão autoprovocada também pode ser um determinante importante do risco de suicídio subsequente.[50]
história de transtorno mental, incluindo abuso de substâncias
Até 90% das pessoas que morrem por suicídio têm um diagnóstico psiquiátrico, mais comumente transtorno depressivo maior e uso indevido de substâncias (tanto álcool quanto substâncias ilícitas).[51][52][53] Em pessoas jovens, a relação entre transtorno mental e suicídio é mais fraca, com apenas uma minoria de jovens que morrem por suicídio tendo um transtorno mental diagnosticado. No entanto, todos os diagnósticos de um transtorno mental carregam um risco[51] O uso recente de álcool na população geral está associado com um risco significativamente maior de suicídio. O risco aumenta em relação à quantidade de álcool consumido.[54]
disponibilidade de meios letais
O acesso aos meios letais aumenta significativamente o risco de morte por suicídio. Uma pesquisa de acompanhamento nacional da mortalidade nos EUA mostrou que a chance de suicídio aumenta 28 vezes com a existência de uma arma de fogo em casa (razão de chances 27.9, IC de 95% 18.7 a 41.4).[55] O meio mais letal de suicídio são as armas de fogo, com taxas de letalidade de aproximadamente 90%, seguidas por enforcamento e sufocamento.[56] A overdose de drogas e os cortes são métodos menos letais, com taxas de letalidade de 2% e 3%, respectivamente.[56]
história de abuso ou abandono na infância
Um estudo de coorte retrospectivo observou que a probabilidade de história de tentativas de suicídio ao longo de toda a vida triplicou entre os pacientes que relataram abuso sexual ou físico na infância (razão de chances [RC] 3.4, IC de 95% de 2.9 a 4.0).[57] Uma metanálise sobre as consequências para a saúde no longo prazo do abuso físico, do abuso emocional e negligência na infância relatou um risco elevado similar para tentativa de suicídio (abuso físico [RC = 3.40; IC de 95% de 2.17 a 5.32], abuso emocional [RC = 3.37; IC de 95% de 2.44 a 4.67] e negligência [RC = 1.95; IC de 95% de 1.13 a 3.37]).[58]
O abuso emocional na infância parece transmitir um risco particularmente elevado de autolesão na vida adulta.[59]
história familiar de morte por suicídio
Constatou-se que história de tentativa de suicídio ou morte por suicídio de um dos pais associam-se a um risco quase duas vezes maior de morte por suicídio nos descendentes.[60] Um estudo de caso-controle dinamarquês demonstrou um risco elevado de suicídio para pacientes com história familiar de morte por suicídio (razão de chances 2.58, IC de 95% de 1.84 a 3.61).[61] A predisposição familiar das tentativas de suicídio parece ser explicada por uma história de transtornos mentais entre os que tentam o suicídio.[62]
sexo masculino
A morte por suicídio é geralmente mais comum em homens que em mulheres. No entanto, a taxa de episódios de autolesão ao longo da vida é maior nas mulheres que nos homens.[20] Os homens são menos propensos a revelar a extensão de sua angústia e procuram menos os cuidados de saúde para tratar o sofrimento emocional.[63] A morte por suicídio é geralmente mais comum em homens que em mulheres. Em 2019, nos EUA, a taxa de suicídios em homens foi 34 vezes maior que a das mulheres.[12] No entanto, a taxa de tentativas de suicídio ao longo da vida é maior nas mulheres que nos homens.[20]
A discrepância entre homens e mulheres no que se refere à morte por suicídio pode resultar da escolha do método, porque os homens tendem a escolher métodos mais letais como armas de fogo e enforcamento, e não a intoxicação e os cortes, que são os mais escolhidos pelas mulheres.[20] Além disso, a taxa mais alta de tentativas de suicídio pelas mulheres pode ser, parcialmente, decorrente de comportamentos de lesão autoprovocada (mais comum entre mulheres) sendo codificados como tentativas de suicídio.
detento em prisão
O suicídio é frequentemente relatado como a causa mais comum de morte em instituições correcionais. Como grupo, os detentos apresentam taxas de suicídio mais altas que seus equivalentes na comunidade. Uma revisão sistemática dos fatores de risco de suicídio em prisioneiros identificou a ocupação de uma célula individual, a ideação suicida recente, a história de tentativa de suicídio, o diagnóstico psiquiátrico e a história de problemas com bebidas alcoólicas como sendo os mais importantes.[29] Além disso, a International Association for Suicide Prevention Task Force on Suicide in Prisons relata que o risco de suicídio entre os presos antes do julgamento é associado ao sexo masculino, idade jovem (20 a 25 anos), estado civil solteiro e ser um réu primário, preso por um delito secundário, geralmente relacionado a substâncias e intoxicação no momento da prisão.[64] Em prisioneiros condenados, os fatores associados com suicídio incluem a idade avançada (30 a 35 anos), crime violento, ter permanecido um tempo considerável sob custódia (muitas vezes 4 a 5 anos), conflito dentro da instituição ou família, uma ruptura ou um desfecho negativo relacionado ao seu status legal.[64]
Fracos
história familiar de doença psiquiátrica
doença física
Maiores taxas de suicídios foram relatadas após neurocirurgias e em diagnósticos médicos ou desafios físicos como doenças neurodegenerativas, epilepsia, transtornos mentais orgânicos não especificados, doença terminal, câncer, dor, asma, diabetes mellitus do tipo 1, comprometimento funcional, comprometimento cognitivo, perda de visão ou audição, deformidade (incluindo afecções cutâneas crônicas) ou perda de independência/dependência elevada de outrem.[53][65][66][67][68][69][70][71] Todos os distúrbios físicos, especialmente os de natureza crônica ou degenerativa, ou que perturbam o sono, aumentam o risco de suicídio.[53][66][72]
estado civil (divorciado, solteiro, viúvo)
Um estudo longitudinal de mortalidade nacional baseado nos EUA demonstrou um risco elevado de suicídio entre divorciados, especialmente nos homens (risco relativo de 2.47, IC de 95% 1.84 a 3.30).[73] Um estudo italiano sobre a relação entre suicídio e estado civil concluiu que ser solteiro, divorciado ou separado estava associado a uma taxa mais alta de suicídio (razão de chances 2.00, IC de 95% 1.87 a 2.16).[74] Por exemplo, em alguns países em desenvolvimento, o risco de suicídio é mais alto para mulheres casadas, ao passo que, em países desenvolvidos, o risco de suicídio é mais alto para homens viúvos ou divorciados.[18]
profissões/ocupações (desempregados, autônomos, agrícolas, profissionais médicos e dentistas)
Em geral, as ocupações menos qualificadas provavelmente têm um maior risco de suicídio do que as do grupo de ocupações mais qualificadas.[75] A taxa de suicídio tende a ser mais alta entre pessoas desempregadas que entre aquelas que trabalham.[76] Um estudo na Nova Zelândia observou que as pessoas que trabalham com agricultura, pescaria, silvicultura e ações apresentaram taxas de suicídio mais altas que as pessoas em outras ocupações.[76] Estudos na Inglaterra e no País de Gales também apontam para os profissionais médicos e dentistas, além da ocupação agrícola. Os fazendeiros na Índica têm um risco de suicídio particularmente elevado.[77] Um estudo dinamarquês observou que o risco de suicídio era reduzido em todas as ocupações após um ajuste na história de admissão psiquiátrica e fatores socioeconômicos (status do emprego, estado civil, receita bruta), com a exceção de médicos e enfermeiros.[78]
As classes sociais mais altas tendem a ter uma taxa de suicídio menor do que as classes socioeconômicas mais baixas.[75] Além disso, o desemprego e o subemprego também têm sido associados a aumentos da mortalidade por suicídio.[79]
estressores psicossociais
Fatores de risco de suicídio associados à história psicossocial incluem perda interpessoal real/percebida ou luto, humilhação percebida, dificuldades legais ou financeiras, alterações no status socioeconômico (por exemplo, a perda do emprego), problemas em casa, no trabalho, na escola, com a família, conjugais/de relacionamento, interpessoais/nos grupos de amigos e violência doméstica. Em idosos, a solidão, os maus-tratos e a falta de apoio social parecem aumentar o risco de suicídio.[80] Desvantagem social, separação da família, psicopatologia parental e história de abuso físico ou sexual na infância também foram estudadas como fatores de risco de suicídio, principalmente entre os jovens.[81][82][83] Nos países de renda baixa e média, a presença de pobreza (por exemplo, diminuição da riqueza e desemprego) está positivamente correlacionada com pensamentos suicidas e lesão autoprovocada.[84]
Há novas evidências de que o luto recente pode aumentar o risco, especialmente em jovens.[14][85][86]
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