Etiologia
Evidências de alta qualidade sustentam o ponto de vista que o cérebro das pessoas afetadas por enxaqueca é hiperexcitável a vários estímulos. No entanto, os resultados dos estudos neurofisiológicos são ambíguos. Pode ser mais adequado ver a enxaqueca como um transtorno de excitabilidade caracterizado pela regulação deficiente do equilíbrio cortical excitatório e inibitório.[13][14]
A enxaqueca tem um componente genético forte. Os genes associados com a enxaqueca aumentam ou alteram a excitabilidade neuronal por meio de uma variedade de mecanismos.[15][16]
Fisiopatologia
A enxaqueca é um distúrbio neurovascular no qual eventos neurológicos antecedem e iniciam a cefaleia.
A cefaleia da enxaqueca resulta da inflamação neurogênica dos neurônios sensoriais trigeminais da primeira divisão que enervam os grandes vasos e as meninges do cérebro. Isto causa uma mudança na forma como a dor é processada pelo cérebro.[17] Um aumento da atividade neuronal pode ser demonstrado em áreas do tronco encefálico durante a enxaqueca, e este quadro persiste mesmo quando a cefaleia é aliviada por triptanos. É desconhecido se esta ativação do tronco encefálico reflete a causa da enxaqueca (o chamado gerador de tronco encefálico) ou significa a ativação de sistemas endógenos de controle da dor.[18]
Quando ativados, os neurônios trigeminais liberam substâncias que causam a dilatação dos vasos sanguíneos meníngeos, vazamento de proteínas do plasma para o tecido adjacente e ativação das plaquetas. Peptídeos que incluem o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, substância P, e bradicinina são liberados, resultando em sensibilização dos nociceptores periféricos. Essa sensibilização periférica resulta no aumento de estímulos nociceptivos no núcleo sensorial do trigêmeo e, por fim, na sensibilização central, de forma que nenhum estímulo indolor (por exemplo, sensibilidade tátil) seja interpretado como dor.[19][20][21] O peptídeo relacionado ao gene da calcitonina tem um papel importante na transmissão da dor e na enxaqueca.[22][23][24]
A aura é causada por uma disfunção neuronal.[25] Uma onda de excitação neuronal dissemina-se anteriormente no córtex a uma taxa de 3-5 mm/minuto (o que possui correlação temporal com o índice relatado de mudanças nos sintomas visuais). Isto é seguido por um período prolongado de redução na atividade neuronal e, finalmente, pela recuperação neuronal. A depressão cortical provoca a liberação de aminoácidos excitatórios e outros mediadores de excitação, resultando na ativação de nociceptores na dura-máter e vasos sanguíneos adjacentes, o que leva, por sua vez, à ativação dos núcleos sensitivos do trigêmeo.[21] Não se sabe como estes neurônios são acionados na enxaqueca sem aura, mas uma hipótese é que a depressão alastrante cortical na enxaqueca sem aura ocorre em “áreas silenciosas” do cérebro que não produzem sintomas reconhecíveis de aura.[26]
Classificação
Classificação internacional dos distúrbios de cefaleia, 3a edição (ICHD-3)[3]
1.1 Enxaqueca sem aura: distúrbio de cefaleia recorrente manifestado em ataques com duração de 4 a 72 horas. As características típicas da cefaleia são localização unilateral, qualidade pulsátil, intensidade moderada ou grave, agravamento pelas atividades físicas de rotina e associação a náuseas e/ou fotofobia e fonofobia.
1.2 Enxaqueca com aura: ataques recorrentes, que duram alguns minutos, de sintomas visuais, sensoriais ou outros sintomas do sistema nervoso central unilaterais completamente reversíveis que, em geral, se desenvolvem gradualmente e, depois, costumam ser seguidos por cefaleia e sintomas associados a enxaqueca
1.2.1 Enxaqueca com aura típica: enxaqueca com aura, na qual a aura consiste em sintomas visuais e/ou sensitivos ou de fala/linguagem, mas sem fraqueza motora, e é caracterizada por desenvolvimento gradual, duração de cada sintoma de até 1 hora, uma combinação de características positivas e negativas e reversibilidade completa
1.2.1.1 Aura típica com cefaleia
1.2.1.2 Aura típica sem cefaleia
1.2.2 Enxaqueca com aura tronco-encefálica: sintomas de enxaqueca com aura claramente provenientes do tronco encefálico, mas sem fraqueza motora
1.2.3 Enxaqueca hemiplégica: enxaqueca com aura, incluindo fraqueza motora
1.2.3.1 Enxaqueca hemiplégica familiar (EHF)
1.2.3.1.1 Enxaqueca hemiplégica familiar de tipo 1 (EHF1)
1.2.3.1.2 Enxaqueca hemiplégica familiar de tipo 2 (EHF2)
1.2.3.1.3 Enxaqueca hemiplégica familiar de tipo 3 (EHF3)
1.2.3.1.4 Enxaqueca hemiplégica familiar, outros loci
1.2.3.2 Enxaqueca hemiplégica esporádica (EHE)
1.2.4 Enxaqueca retiniana: ataques repetidos de distúrbio visual monocular, incluindo cintilações, escotoma ou cegueira, associados a cefaleia enxaquecosa.
1.3 Enxaqueca crônica: cefaleia que ocorre 15 dias por mês ou mais por mais de 3 meses que, em pelo menos 8 dias/mês, apresenta as características de cefaleia enxaquecosa.
1.4 Complicações da enxaqueca
1.4.1 Estado de mal enxaquecoso: ataque de enxaqueca debilitante com duração superior a 72 horas
1.4.2 Aura persistente sem infarto: sintomas de aura que persistem por 1 semana ou mais, sem evidências de infarto na neuroimagem
1.4.3 Infarto enxaquecoso: um ou mais sintomas de aura de enxaqueca que ocorrem em conjunto com uma lesão cerebral isquêmica no território apropriado demonstrada por neuroimagem, com início durante o ciclo de uma enxaqueca típica com ataque de aura
1.4.4 Convulsão desencadeada por enxaqueca com aura: convulsão desencadeada por um ataque de enxaqueca com aura.
1.5 Enxaqueca provável: ataques semelhantes aos da enxaqueca com ausência de uma das características necessárias para preencher todos os critérios de um tipo ou subtipo de enxaqueca descrito acima e sem preencher os critérios de outro distúrbio de cefaleia.
1.5.1 Provável enxaqueca sem aura
1.5.2 Provável enxaqueca com aura
1.6 Síndromes episódicas que podem estar associadas a enxaqueca
1.6.1 Distúrbios gastrointestinais recorrentes
1.6.1.1 Síndrome do vômito cíclico
1.6.1.2 Enxaqueca abdominal
1.6.2 Vertigem paroxística benigna
1.6.3 Torcicolo paroxístico benigno.
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