Etiologia

Pouco se sabe sobre a etiologia exata da tetralogia de Fallot. É mais provável que seja uma interação entre fatores ambientais e genéticos, a qual ainda não foi completamente definida. Um estudo de gestantes com um parente de primeiro grau com cardiopatia congênita (CC) revelou 178 em cada 6640 (2.7%) gestações com CC.[6]

Existe uma associação bem aceita entre determinados defeitos genéticos e a CC. Os pacientes com trissomia do cromossomo 21, 18 ou 13 possuem uma maior incidência de tetralogia de Fallot que as crianças sem a trissomia.[7] Uma análise retrospectiva em pacientes com tetralogia de Fallot aparentemente não sindrômica revelou que 10 dos 21 pacientes apresentavam deleções do cromossomo 22q11 (síndrome de DiGeorge e outras síndromes associadas), sugerindo que uma região nesse cromossomo pode abrigar um gene que confere susceptibilidade à tetralogia de Fallot.[8] Em um estudo anterior comparando pacientes que possuíam tetralogia de Fallot com e sem deleção do cromossomo 22q11, descobriu-se que todo paciente com tetralogia de Fallot e deleção do 22q11 possuía uma anomalia conotroncular adicional.[9] Descobriu-se que a síndrome de Alagille, uma síndrome com fenótipos cardiovasculares variando de estenose pulmonar leve até a tetralogia de Fallot com obstrução pulmonar grave, é causada por mutações no gene Jagged1.[10] Ainda, as mutações no Jagged1 foram associadas a formas não sindrômicas da tetralogia de Fallot.[11] Um estudo prospectivo em busca de mutações no NKX2.5 em pacientes com tetralogia de Fallot conhecida revelou que aproximadamente 4% dos pacientes com tetralogia de Fallot não sindrômica apresentam uma mutação no NKX2.5.[12]

Um número cada vez maior de evidências sugere que fatores ambientais podem ter uma função significativa em alguns casos de CC.[13] Diabetes maternal, fenilcetonúria materna e ingestão de ácidos retinoicos ou trimetadiona pela mãe foram associadas a um aumento do risco de CC.[14][15][16]

Fisiopatologia

Na tetralogia de Fallot, a fisiopatologia e o tratamento são determinados por 3 fatores anatômicos específicos:

1. Grau da obstrução da via de saída do ventrículo direito

  • Ocorre geralmente em múltiplos níveis, inclusive abaixo da valva pulmonar (estenose subvalvar ou infundibular), no nível da valva (estenose pulmonar valvar) e acima da valva (estenose supravalvar). O grau da obstrução pulmonar determina se a criança ficará cianótica ou acianótica por afetar a quantidade de sangue desviado da direita para a esquerda no defeito do septo ventricular (DSV).

  • A tetralogia de Fallot com obstrução pulmonar leve não é uma lesão tipicamente cianótica. Não existe restrição significativa ao fluxo de sangue nas artérias pulmonares e, portanto, a criança está bem saturada.

  • A tetralogia de Fallot e a obstrução pulmonar significativa resultam em uma criança cianótica. Isso porque o sangue no ventrículo direito precisa superar uma resistência maior para entrar na circulação pulmonar. O sangue é derivado do ventrículo direito para a aorta pelo DSV e para a circulação sistêmica sem ser oxigenado na circulação pulmonar.

2. Anatomia da artéria pulmonar

  • A anatomia da artéria pulmonar pode afetar drasticamente a fisiologia.

  • A atresia pulmonar com DSV (tetralogia de Fallot com atresia pulmonar) e a síndrome da valva pulmonar ausente (tetralogia de Fallot com valva pulmonar ausente) são fisiologicamente muito diferentes e são consideradas como processos diferentes da tetralogia de Fallot. Por esse motivo, elas não são discutidas aqui.

3. DSV não restritivo com desalinhamento

  • O DSV com desalinhamento anterior na tetralogia de Fallot é quase sempre não restritiva. Com um grande DSV não restritivo, a pressão no ventrículo direito e ventrículo esquerdo se equaliza. Nesse caso, o DSV não determina o grau de derivação. O grau de desvio na tetralogia de Fallot é, portanto, devido à resistência relativa ao fluxo da circulação pulmonar em relação à circulação sistêmica.

  • Podem ocorrer outros DSVs e devem ser investigados, pois podem complicar a evolução pós-operatória.

As crises hipercianóticas são episódios de cianose grave associada a hiperpneia. Elas são resultado de uma maior obstrução da via de saída do ventrículo direito, causando uma redução no fluxo sanguíneo pulmonar e um aumento na derivação circulatória direita-esquerda no DSV. A etiologia exata das crises hipercianóticas é incerta, mas se acredita serem iniciadas por aumentos na contratilidade infundibular do ventrículo direito. As crises hipercianóticas podem ser autolimitadas. Porém, se mantidas, podem resultar em isquemia cerebral ou óbito.[17][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Anatomia e fisiopatologia da tetralogia de Fallot: estrutura cardíaca normal (a) promove fluxo unidirecional do sangue desoxigenado (azul) para os pulmões e do sangue oxigenado (vermelho) para a aorta; na tetralogia de Fallot (b) a estenose pulmonar e o estreitamento da via de saída do ventrículo direito (VSVD) impedem o fluxo do sangue desoxigenado para os pulmões e tanto o defeito do septo ventricular (DSV) quanto a sobreposição aórtica (*) promovem o fluxo do sangue desoxigenado para a circulação sistêmica, produzindo cianose (às vezes denominada síndrome do 'bebê azul'), a hipertrofia ventricular direita (HVD) também está presente; (c) uma ecocardiografia Doppler mostra mistura do sangue desoxigenado proveniente do ventrículo direito (VD) e do sangue oxigenado proveniente do ventrículo esquerdo (VE) à medida que o sangue é bombeado para fora da aorta sobreposta (Ao) em um paciente com tetralogia de Fallot (AD = átrio direito, AE = átrio esquerdo)Multimedia Library of Congenital Heart Disease, Children’s Hospital, Boston, MA, editor Robert Geggel, MD; usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@190c23fa

Classificação

Variantes da tetralogia de Fallot

Não existe classificação padrão para a tetralogia de Fallot, mas muitos especialistas usam a seguinte classificação:

  1. Tetralogia de Fallot cianótica (também conhecida como bebê azul): as crianças com tetralogia de Fallot e obstrução pulmonar moderada a grave estarão cianóticas ao nascimento devido à derivação circulatória direita-esquerda do sangue desoxigenado a partir do ventrículo direito através do DSV para o corpo.

  2. Tetralogia de Fallot acianótica (também conhecida como tetralogia rosa): as crianças com tetralogia de Fallot e obstrução pulmonar leve são comumente acianóticas, pois há pouca ou nenhuma derivação circulatória direita-esquerda do sangue ao nível ventricular. Mesmo assim esses pacientes são submetidos ao reparo intracardíaco completo.

  3. Atresia pulmonar/DSV: às vezes denominada tetralogia de Fallot com atresia pulmonar; é anatômica e fisiologicamente muito diferente. Está geralmente associada com malformação das artérias pulmonares centrais.

  4. Síndrome da valva pulmonar ausente: às vezes denominada tetralogia de Fallot com valva pulmonar ausente. Geralmente acompanhada de malformação e compressão traqueobrônquica.

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