Etiologia

O contato sexual sem preservativo é a causa primária para a aquisição de gonorreia em adultos e adolescentes sexualmente ativos. Isso pode incluir qualquer tipo de sexo com penetração (geralmente, referindo-se ao pênis) que envolva um orifício revestido por mucosa (orofaringe, vagina e ânus).[8][9][10][11] Estima-se que a transmissão provocada por um único contato heterossexual sem uso de preservativo seja de aproximadamente 58% em homens para mulheres e de 23% em mulheres para homens.[12][13]

A infecção gonocócica em lactentes geralmente é consequência de exposição aos exsudatos cervicais infectados durante o parto. Ela se manifesta como uma doença aguda, de 2 a 5 dias após o parto. As manifestações mais graves são oftalmia neonatal e sepse, podendo incluir artrite e meningite. As manifestações menos graves incluem rinite, vaginite, uretrite e reinfecção em um local de monitorização fetal. A oftalmia neonatal, se não tratada, pode provocar complicações oculares graves ou infecção disseminada.

A infecção gonocócica concomitante aumenta o risco de transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) por via sexual, conforme sugerido pela carga viral de HIV seminal na uretrite, além de um risco relativo dobrado.[14][15]

A Neisseria gonorrhoeae não sobrevive por muito tempo fora do organismo humano, portanto, o abuso sexual deve ser uma suspeita forte em qualquer criança com gonorreia.[16][17]

Fisiopatologia

A Neisseria gonorrhoeae tem uma afinidade pelo epitélio mucoso humano que é mediado por proteínas da membrana externa.[18]A N gonorrhoeae pode enganar o sistema imunológico ao alterar os antígenos da membrana externa, por meio de plasticidade genômica relacionada à mutação ou por recombinação de ácido desoxirribonucleico (DNA) com as espécies relacionadas.[19] Vale ressaltar que as alterações cromossômicas do DNA e a transferência de plasmídeo possibilitaram a resistência a muitos antibióticos comuns.[20] Os seres humanos são os únicos hospedeiros conhecidos.

A inoculação experimental na uretra masculina resultou na infecção de um inóculo de 250 células bacterianas.[21] O período de incubação da uretrite sintomática depende da dose de inóculo, mas o tempo médio relatado foi de 3.4 dias. O primeiro sintoma nos homens é disúria, antes ou ao mesmo tempo que a secreção.[22] Apesar de não ser bem estudada, a detecção da N gonorrhoeae pode ser possível, mesmo após o primeiro dia de infecção, com os testes de amplificação de ácido nucleico. A infecção assintomática ocorre em <15% das infecções uretrais em homens e quase 60% das infecções cervicais em mulheres.[23] Sem tratamento, a infecção pode durar até 6 meses, mas isso ainda não foi bem definido. A exposição repetida à N gonorrhoeae pode resultar em reinfecção.[24] Ao contrário do vírus da imunodeficiência humana (HIV), a circuncisão não interfere na transmissão da gonorreia.[25]

As estruturas genitais locais, como as glândulas müllerianas e as glândulas de Cowper, podem, ainda que raramente, ser infectadas. A infecção ascendente por N gonorrhoeae ao longo de vias anatomicamente contíguas pode provocar complicações nos homens, como prostatite, epididimite ou orquite (a doença unilateral é mais comum). Em mulheres, a infecção ascendente pode causar doença inflamatória pélvica (endometrite, salpingite, abscessos tubo-ovarianos) e, raramente, disseminação peritoneal, incluindo abscessos peri-hepáticos (síndrome de Fitz-Hugh-Curtis). A conjuntivite gonocócica unilateral ou bilateral é possível em indivíduos expostos a secreções infectadas. Em cerca de 0.1% a 0.3% dos casos, as cepas mais virulentas de N gonorrhoeae podem ser invasivas e hematogenicamente disseminadas para causar artrite séptica, meningite, endocardite e osteomielite.​[26]

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