Etiologia

A amiloidose sistêmica é caracterizada por considerável heterogeneidade etiológica, mas as manifestações clínicas das diferentes amiloidoses podem se sobrepor.[19]

Amiloidose de cadeias leves de imunoglobulina (AL)

A etiologia é desconhecida; no entanto, a amiloidose do tipo AL está associada à discrasia plasmocitária clonal e está estreitamente relacionada ao mieloma múltiplo. Menos de 0.5% dos pacientes diagnosticados com amiloidose do tipo AL evoluirão para mieloma múltiplo.[20]

Pacientes com amiloidose do tipo AL e mieloma múltiplo coexistente têm um prognóstico desfavorável (sobrevida global mediana <16 meses).[21]

Amiloidose secundária (AA) (não familiar)

As poliartropatias inflamatórias são responsáveis por 60% dos casos; as doenças incluem artrite reumatoide, artrite juvenil, artrite psoriática e espondilite anquilosante.[16] O risco de desenvolver amiloidose AA a partir da artrite inflamatória crônica vem caindo, possivelmente por causa dos avanços no tratamento de doenças inflamatórias crônicas.[15][16][17]

Doença inflamatória intestinal (especificamente, doença de Crohn), bronquiectasia, tuberculose, injeção subcutânea de drogas ilícitas, úlceras de decúbito, infecções crônicas do trato urinário e osteomielite podem resultar em amiloidose AA.[16] A doença de Castleman é um distúrbio linfoproliferativo mão cancerígeno, no qual a variante plasmocitária pode causar amiloidose AA.[22][23]

A probabilidade de desenvolver amiloidose AA na ausência de um desses distúrbios inflamatórios não familiares é extremamente baixa.

Síndromes febris periódicas hereditárias que causam amiloidose AA

Febre familiar do Mediterrâneo, síndromes febris periódicas associadas ao receptor do fator de necrose tumoral (TNF) (TRAPS), síndromes periódicas associadas à criopirina (CAPS; por exemplo, síndrome de Muckle-Wells) e deficiência de mevalonato-quinase (antes conhecida como síndrome de hiperimunoglobulinemia D) foram implicadas.[24][25][26][27]​​​

A probabilidade de desenvolver amiloidose AA na ausência de um desses distúrbios inflamatórios familiares é extremamente baixa.

Amiloidose hereditária (familiar)

A etiologia da amiloidose hereditária (familiar) inclui mutações de:[3]

  • Transtirretina (TTR), que causam cardiomiopatia progressiva ou neuropatia progressiva ou ambas

  • Cadeia alfa do fibrinogênio A, levando principalmente ao envolvimento renal

  • Apolipoproteína A, levando principalmente ao envolvimento renal

  • Lisozima, levando principalmente ao envolvimento renal

Uma gamopatia monoclonal pode estar presente em pacientes com amiloidose hereditária, o que pode levar a um diagnóstico incorreto de amiloidose do tipo AL.[28][29] A conscientização clínica, a história familiar cuidadosa e a avaliação laboratorial/patológica (incluindo testes genéticos) são essenciais para evitar um diagnóstico incorreto de amiloidose do tipo AL nesse cenário.[30]

Amiloidose por fator quimiotático 2 de leucócitos (LECT2)

A amiloidose por LECT2 afeta principalmente os rins.[3] É comum entre certas etnias (por exemplo, egípcio, indiano, paquistanês, hispânico).[31][32][33] A etiologia é desconhecida; a genética pode ter um papel, mas mutações patogênicas não foram identificadas.​[32][33]​​​​[34]

Fisiopatologia

A amiloidose compreende um grupo de distúrbios que contribuem para danos nos tecidos e disfunção orgânica por meio da deposição de proteínas amiloides.

Amiloidose de cadeias leves de imunoglobulina (AL)

  • A amiloidose do tipo AL é causada por plasmócitos clonais que produzem cadeias leves de imunoglobulina anormais que são inerentemente propensas ao desdobramento de um estado alfa-helicoidal nativo para uma configuração de folha beta-pregueada insolúvel.[35]

  • O desenvolvimento da amiloidose está ligado à quantidade de cadeias leves produzidas, bem como à tendência termodinâmica qualitativa de que o fragmento de cadeia leve se desdobre para a configuração amiloide.[36][37]

  • O rim e o coração são os principais órgãos-alvo na amiloidose do tipo AL. O fígado e os nervos podem também ser atacados.

  • São encontradas diferenças significativas quanto ao uso do gene na amiloidose do tipo AL.[38] Pacientes com clones de AL derivados do uso do gene da linha germinativa 6aV lambda VI têm maior probabilidade de apresentar comprometimento renal dominante. Pessoas com clones derivados dos genes V-lambda 1c, 2a2 e 3r têm maior probabilidade de apresentar doença cardíaca e multissistêmica.[39]

  • O envolvimento renal é relatado em aproximadamente 55% dos pacientes com amiloidose do tipo AL.[40] As cadeias leves interagem com as células mesangiais, que as catabolizam em fragmentos que formam fibras amiloides.[41] As fibrilas amiloides se depositam de maneira extracelular no mesângio e nas alças capilares, resultando em ruptura da membrana basal glomerular.[41]

  • O comprometimento cardíaco é relatado em 55% a 76% dos pacientes com amiloidose do tipo AL, sendo a principal causa de morte nesses pacientes.[42][43][44]​ As fibrilas amiloides se depositam de maneira extracelular dentro do miocárdio, o que afeta a contratilidade e o relaxamento miocárdicos e a condutância elétrica.[45][46]​ A amiloidose cardíaca se parece com a cardiomiopatia restritiva idiopática, mas a função do eixo longo do ventrículo está deprimida em todos os pacientes com amiloidose cardíaca, em comparação com apenas 36% dos pacientes com cardiomiopatia restritiva idiopática.[47]

  • O comprometimento hepático é relatado em aproximadamente 15% dos pacientes com amiloidose do tipo AL.[48] Aproximadamente 10% dos pacientes apresentam hepatomegalia palpável (>5 cm abaixo da margem costal direita).[16][49]

  • O comprometimento hepático é relatado em aproximadamente 15% dos pacientes com amiloidose do tipo AL.[48] Os depósitos de amiloide nos vasa nervorum resultam em achados clínicos semelhantes aos da neuropatia isquêmica e causam um quadro misto, axonal e desmielinizante. A síndrome do túnel do carpo ocorre em aproximadamente 50% dos pacientes.[50] A presença de neuropatia autonômica (por exemplo, sinais de disfunção erétil, hipotensão ortostática, disfunção gastrointestinal ou disfunção urinária) é uma indicação importante.[51]

Amiloidose secundária (AA) (não familiar) e síndromes febris periódicas hereditárias

  • A amiloidose do tipo AA resulta do comprometimento da proteólise do reagente de fase aguda, a proteína amiloide A sérica. Fragmentos N-terminal, denominados amiloide A, depositam-se como fibrilas no tecido e nos órgãos, causando danos aos órgãos. A amiloide A é comum na amiloide AA (não familiar) e nas síndromes febris periódicas hereditárias.

  • A amiloidose AA afeta mais comumente os rins e, menos comumente, o trato gastrointestinal e a tireoide.[52][53]​​ A sequela tardia mais comum da produção sustentada de amiloide AA é a insuficiência renal dependente de diálise.

  • Os sobreviventes de longo prazo da amiloidose AA (não familiar) podem desenvolver amiloidose cardíaca, mas com uma frequência muito menor que a observada na amiloidose do tipo AL e nas síndromes febris periódicas hereditárias.

Amiloidose hereditária (familiar)

  • A maioria das formas hereditárias da amiloidose são consequência do desdobramento de uma molécula de transtirretina (TTR) mutante hereditária.

  • Formas mais raras de amiloidose hereditária se devem a mutações de apolipoproteína A1, apolipoproteína A2, fibrinogênio, gelsolina e lisozima.

  • A amiloidose por TTR hereditária geralmente se apresenta como cardiomiopatia e/ou neuropatia (periférica e autonômica).[54][55]

Amiloidose de transtirretina do tipo selvagem (ATTRwt)

  • Ocorre em idosos e é, às vezes, conhecida como amiloidose sistêmica senil ou amiloidose cardíaca senil.[54]

  • A deposição de amiloide ocorre predominantemente no coração. Até 20% dos pacientes podem apresentar neuropatia periférica leve.[56]

Amiloidose por fator quimiotático 2 de leucócitos (LECT2)

  • Causada pela proteína LECT2 anormal.[57]

  • A deposição amiloide ocorre principalmente no rim.[3][33]​ Outros órgãos podem estar envolvidos (por exemplo, fígado)

Classificação

Tipos de amiloidose[3]​​

  • Localizado

  • Sistêmica

    • Derivada de cadeias leves de imunoglobulina (conhecida como amiloidose do tipo AL ou amiloidose sistêmica primária)

    • Derivada da proteína amiloide A (conhecida como amiloidose AA ou amiloidose secundária)

    • Derivado de outras proteínas (por exemplo, fator quimiotático 2 de leucócitos [LECT2])

  • Síndromes febris periódicas hereditárias que causam amiloidose AA:

    • Febre familiar do Mediterrâneo

    • Síndromes febris periódicas associadas ao receptor do fator de necrose tumoral (TNF) (TRAPS)

    • Síndromes periódicas associadas à criopirina (CAPS; por exemplo, síndrome de Muckle-Wells)

    • Deficiência de mevalonato-quinase (antes conhecida como síndrome de hiperimunoglobulinemia D)

  • Amiloidose hereditária (familiar)

    • Amiloidose de transtirretina (TTR) hereditária (conhecida como variante ou amiloidose ATTRv)

      • Neuropatia

      • Cardiomiopatia

    • Amiloidose do fibrinogênio

    • Amiloidose da apolipoproteína

    • Amiloidose da gelsolina

    • Amiloidose da lisozima

  • Amiloidose da TTR do tipo selvagem (conhecida como amiloidose ATTRwt)

  • Amiloidose relacionada à diálise (amiloidose por beta-2 microglobulina)

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