Abordagem
Muitas pessoas que entram em contato com serviços de assistência social ou de cuidados da saúde logo após vivenciar um evento traumático não relatam problemas psicológicos nem buscam ajuda em relação a eles. A equipe que trabalha nesses serviços deve estar ciente dos traumas associados ao desenvolvimento do transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e aproveitar a oportunidade para avaliar o estado psicológico do paciente. Isso deve incluir o conhecimento de que o TEPT pode surgir como resultado de situações contínuas (por exemplo, violência doméstica, abuso sexual, ser um refugiado) que não foram relatadas previamente pela pessoa. A avaliação inicial deve ser realizada por profissionais competentes e uma decisão ser tomada quanto à necessidade de encaminhamento para avaliação psiquiátrica.
História
Os principais fatores de risco incluem exposição a situações de combate, ataque terrorista, estupro, tortura, acidente grave, morte súbita de um ente querido, testemunhar violência ou abuso doméstico, desastre natural, molestamento, vitimização pelo atacante, trauma prévio, várias situações de estresse diário significativas ou história de transtorno mental ou uso indevido de substâncias.
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição, texto revisado (DSM-5-TR), o TEPT é caracterizado pelos seguintes 4 tipos de grupos de sintomas. Esses sintomas devem persistir por mais de 1 mês e causar comprometimento funcional para que o diagnóstico seja feito.[1]
sintomas intrusivos[1]
Refere-se à revivência involuntária de aspectos do evento traumático de forma vívida e que causa sofrimento (por exemplo, flashbacks, imagens intrusivas e impressões sensoriais, sonhos/pesadelos, reatividade fisiológica e emocional a sugestões internas e externas).
Essa revivência desperta sofrimento intenso e/ou reações fisiológicas.
Evitação[1]
Refere-se a evitar lembranças do trauma.
Os pacientes tipicamente evitam pessoas, situações ou circunstâncias semelhantes ou associadas ao evento. Essa situação pode se estender a uma evitação mais geral daquilo que possa lembrá-las do evento, como jornais, programas de televisão ou filmes.
Os pacientes muitas vezes tentam afastar de suas mentes as memórias do evento e evitam pensar ou falar sobre ele em detalhes, especialmente sobre os piores momentos. Entretanto, muitas pessoas ficam pensando obsessivamente sobre o que poderia ter evitado o acontecimento.
Alterações negativas na cognição e humor[1]
Essas mudanças incluem amnésia de partes significativas do evento, crenças negativas persistentes sobre si mesmo ou sobre o mundo, ideias distorcidas de culpa relacionadas ao evento traumático ou suas consequências, e emoções negativas relacionadas ao trauma, como medo, horror, raiva, culpa ou vergonha.
Os pacientes podem apresentar incapacidade de sentir sentimentos positivos, desinteresse em atividades que eram importantes antes do trauma e sentimento de desapego e alienação em relação aos outros.
Alterações no despertar e reatividade[1]
Alterações no despertar e reatividade incluem hipervigilância para ameaças, resposta de sobressalto exagerada, irritabilidade, explosões de raiva, comportamentos autolesivos ou impulsivos, dificuldade de concentração e problemas para dormir.
Apresentação inicial
A dificuldade de revelar o acontecido pode ocasionar um atraso na apresentação do paciente com TEPT, especialmente nas circunstâncias de estupro e abuso sexual. Além disso, em uma pequena proporção dos casos, o início real dos sintomas pode ser tardio.[48][49][50] Quando a apresentação é tardia, por qualquer que seja o motivo, as pessoas podem estar menos propensas a relacionar seus problemas psicológicos atuais ao evento traumático.
Embora os sintomas de revivência sejam geralmente a forma mais comum de apresentação inicial, esse nem sempre é o caso. Os pacientes podem se apresentar com vários problemas, como depressão, ansiedade, medo de sair de casa, queixas somáticas, irritabilidade, dificuldades de sono e incapacidade de trabalhar. Em particular, é provável que os idosos sejam relutantes em relatar eventos traumáticos, problemas emocionais ou psicológicos, e sejam mais propensos a apresentar queixas somáticas e físicas.[51][52]
Reconhecimento do TEPT
Estudos mostram que o TEPT é pouco detectado, mesmo entre os grupos de alto risco, e recomendam que indagar diretamente sobre a exposição ao trauma pode melhorar significativamente a taxa de reconhecimento.[53][54] Os profissionais de saúde devem considerar perguntar às pessoas que se apresentam repetidamente com sintomas físicos inexplicáveis se elas já passaram por um evento traumático. É aconselhável oferecer exemplos de eventos traumáticos, podendo ser útil o uso de um checklist de experiências traumáticas e sintomas comuns (alguns instrumentos de rastreamento já contêm checklists), especialmente para pessoas que sentem dificuldade de verbalizá-los.
Os pacientes geralmente apresentam sintomas de revivência aflitiva, relatam evitação de lembranças do trauma e manifestam sintomas de hiperexcitabilidade e/ou anestesia emocional. Os profissionais de saúde devem estar cientes de que muitos dos portadores desses sintomas se sentirão ansiosos com a possibilidade de participar de uma avaliação e um tratamento, e podem ficar relutantes em discutir sua história de trauma e sintomas. Entretanto, os profissionais de saúde devem fazer perguntas específicas sobre cada grupo de sintomas.
Rastreamento
Estão disponíveis vários instrumentos de rastreamento bem validados. Estes incluem a Escala de Diagnóstico Pós-Traumático (PDS-5), a Checklist de TEPT para o DSM-5 e o Questionário de Rastreamento de Trauma (TSQ).[55][56][57][58] Medidas de rastreamento com base nos critérios da CID-11 também estão disponíveis, por exemplo, o Questionário Internacional de Trauma (ITQ).[59]
Uma revisão sistemática concluiu que instrumentos com menos itens, escalas de resposta mais simples e métodos de pontuação mais simples funcionam tão bem quanto ou melhor que as medidas mais longas e complexas.[60]
Entrevista diagnóstica
Estão disponíveis vários roteiros de entrevista bem validados, estruturados e semiestruturados, com base nos critérios do DSM-IV para o diagnóstico de TEPT, para auxiliar na avaliação de pessoas que apresentam sintomas de TEPT. Eles incluem a Versão de Entrevista da Escala de Sintomas de TEPT para o DSM-5 (PSS-I-5) e a Escala de TEPT Administrada pelo Médico para o DSM-5 (CAPS-5).[57][58][61] Avaliações diagnósticas administradas pelo médico com base nos critérios da CID-11 também estão disponíveis, por exemplo, a Entrevista de Trauma Internacional (ITI).[62]
Pode haver diversas queixas na apresentação, incluindo sintomas que não são específicos do TEPT, como depressão, perturbações do sono e abuso de drogas e álcool. A pessoa pode focar nesses sintomas, e não em outros mais específicos do TEPT, como os fenômenos de revivência, evitação e hiperexcitabilidade. É importante, portanto, procurar saber se a pessoa que apresenta essas dificuldades teve uma experiência traumática recentemente ou no passado. Isso precisa ser feito com bom senso, mas de forma explícita, fornecendo-se exemplos de eventos traumáticos.
A avaliação de pessoas que apresentam sintomas de TEPT deve ser conduzida por profissionais competentes e abordar suas necessidades físicas, psicológicas e sociais, além de uma avaliação dos riscos para si e para outros. Também deve contemplar o impacto da(s) experiência(s) traumática(s) nos familiares da pessoa ou em sua rede social próxima.
É importante estar ciente de que as pessoas provavelmente terão dificuldades e sofrerão ao conversar sobre sua(s) experiência(s) traumática(s). Elas podem considerar difícil revelar detalhes precisos da(s) experiência(s) e/ou os sintomas e as emoções que vivenciam atualmente. Talvez seja impossível para elas, especialmente em um primeiro momento, descrever ou discutir sobre as partes mais aflitivas de sua(s) experiência(s). Isso pode ser particularmente difícil quando a experiência traumática ocorreu há muito tempo ou quando o início dos sintomas é tardio. US Department of Veterans Affairs (PTSD): Assessment overview Opens in new window
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