Abordagem

O diagnóstico de fibromialgia (FM) baseia-se nos sintomas e deve ser considerado quando uma pessoa apresenta dor crônica multifocal por mais de 3 meses, especialmente se outros sintomas, como fadiga, problemas de memória e distúrbios de sono e de humor forem observados, com um exame físico normal.[95][96]

História

Sintomas primários

Dor corporal disseminada e rigidez são uns dos principais sintomas de fibromialgia.[96] Um diagnóstico de fibromialgia exige a presença de dor disseminada pelo corpo por pelo menos 3 meses.[96][97]

A dor normalmente é difusa/multifocal, mas pode começar com dor localizada, particularmente no pescoço e nos ombros e, depois, se espalhar para outras áreas. A apresentação inicial da dor normalmente é insidiosa, pode ser intermitente, mas tornar-se progressivamente persistente, e, com frequência, é migratória. A variabilidade do local e a gravidade da dor são características definidoras da fibromialgia.

A dor da fibromialgia é frequentemente descrita usando descritores "neuropáticos", como persistente, lancinante ou acompanhada de dormência ou formigamento. Os pacientes relatam que a rigidez musculoesquelética é mais grave pela manhã, melhorando ao longo do dia. Isso pode ser difícil de diferenciar das doenças reumáticas, como artrite reumatoide ou polimialgia reumática.[96] Embora os pacientes com artrite inflamatória, polimialgia reumática e fibromialgia possam relatar rigidez pela manhã, ela tende a ser mais grave e prolongada na artrite inflamatória. Além disso, embora os pacientes com rigidez secundária à artrite inflamatória e polimialgia reumática melhorem com a atividade (fenômeno de gelificação), a rigidez secundária à fibromialgia pode se agravar após a atividade prolongada (como no fim do dia).

Perturbação do sono/fadiga e disfunção cognitiva também são considerados sintomas centrais de fibromialgia.[96] Os pacientes podem relatar sentir exaustão mesmo que tenham dormido por 8 horas ou mais durante a noite.[96] Sono caracteristicamente "leve", com despertar frequente de manhã cedo e com dificuldade para voltar a dormir. Uma revisão sistemática de estudos tipo caso-controle conclui que as pessoas com fibromialgia apresentam menor qualidade do sono e eficácia do sono; maior tempo de vigília após o início do sono, menor duração do sono e sono leve quando avaliado de maneira objetiva.[98] Dados longitudinais prospectivos inferem uma associação dose-dependente entre o risco de fibromialgia e distúrbios do sono em mulheres com fibromialgia, o que sugere que a má qualidade do sono pode ser precursora para o desenvolvimento de fibromialgia.[48]

Há alta prevalência de apneia obstrutiva do sono em pacientes com fibromialgia, particularmente ao relatar sonolência diurna. Estudos observacionais sugeriram uma possível relação entre apneia do sono e intensidade da dor e o potencial papel da terapia contínua de pressão positiva para melhorar os sintomas além da hipersonolência.[99][100][101][102]

Dificuldades cognitivas, comumente chamadas de "fibro nevoeiro", que comprometem a capacidade de focar, prestar atenção e se concentrar, são relatadas pela maioria dos pacientes com fibromialgia.[103] Evidências de metanálises sugerem que o impacto cognitivo autorrelatado da fibromialgia é respaldado por medidas neuropsicológicas objetivas.[104][105]

Exames de imagem cerebral sugerem que o sono, humor/emoção e distúrbios cognitivos estão conectados e podem estar relacionados com a intensidade da dor em pacientes com fibromialgia.[37][38][39][40]​​[41]

Sintomas adicionais

Os pacientes podem apresentar sensibilidade sensorial ao toque, roupas leves, estímulo com luz/visual, ruido, odores ou temperatura.[96][106]​​[107][108]​​​​​ Sua história pode incluir afecções associadas com a fibromialgia, como:[21][109]​​[110][111][112]

  • Afecções reumatológicas inclusive artrite

  • Lúpus eritematoso sistêmico

  • Espondiloartrite axial e osteoartrite

  • Doenças musculoesqueléticas como distúrbios temporomandibulares

  • Disfunção sexual feminina ou disfunção do assoalho pélvico/dor crônica

  • Transtornos psiquiátricos, sendo os mais comuns depressão/transtorno depressivo maior

  • Cefaleia do tipo enxaqueca

  • Sintomas gastrointestinais crônicos (por exemplo, náuseas, diarreia/constipação, distensão abdominal/cólica/dor)

  • Perturbação do sono (por exemplo, insônia, apneia obstrutiva do sono).

É importante ressaltar que a presença dessas condições não descarta o diagnóstico concomitante de fibromialgia.

Deve-se observar que os critérios de diagnóstico atuais não estão validados em pacientes com doença reumática subjacente, fazendo com que seja desafiador estabelecer o diagnóstico de fibromialgia em pacientes com doenças reumáticas.[82]

Exame físico

No exame físico, os pacientes podem apresentar alodinia, um tipo de dor neuropática, fazendo com que fiquem extremamente sensíveis ao toque (atividades que geralmente não são dolorosas, por exemplo, pentear o cabelo pode causar dor intensa) e/ou hiperalgesia, que causa aumento da dor por estímulos que provocam dor.[113][114]

Pode haver sensibilidade à palpação em múltiplos locais de tecidos moles, conforme definido pelos critérios de classificação de 1990 do American College of Rheumatology.[115] Os pontos sensíveis à palpação na fibromialgia tendem a ser simétricos no corpo e podem incluir:

  • Parte inferior do pescoço na frente

  • Borda da parte superior da mama

  • Braço perto do cotovelo

  • Joelho

  • Base do crânio, na parte posterior da cabeça

  • Osso do quadril

  • Parte superior externa das nádegas

  • Parte de trás do pescoço

  • Parte de trás dos ombros

Outros pontos sensíveis à palpação podem ser encontrados no exame físico, e deve-se observar que a contagem de pontos sensíveis à palpação no paciente não é mais diagnóstica de fibromialgia.[96][97]​​

Os pacientes devem ser avaliados para descartar comorbidades, conforme observado acima, mas os médicos devem ter em mente que a presença dessas afecções não descarta um diagnóstico concomitante de fibromialgia.

Teste diagnóstico

Não há raio-X ou exame laboratorial para fibromialgia; o diagnóstico é estritamente clínico.[95][106]​​

Se o paciente não atender os critérios clínicos para o diagnóstico de fibromialgia, então alguns outros testes devem ser realizados para avaliar outras causas dos sintomas, inclusive:

  • Hemograma completo

  • testes da função tireoidiana

  • Velocidade de hemossedimentação e proteína C-reativa

  • Níveis de vitamina D

  • O rastreamento para apneia obstrutiva do sono (por exemplo, escore STOP-BANG e, se elevado, oximetria noturna ou polissonografia)

Fator reumatoide (FR) e anticorpo antipeptídeo citrulinado cíclico (anticorpo anti-CCP) devem ser obtidos se os pacientes tiverem uma história sugestiva de um distúrbio inflamatório, como dor nas articulações pequenas e simétricas com características inflamatórias associadas e/ou sinovite observada no exame físico.

Os níveis de fator antinuclear ou anticorpo anti-DNA devem ser obtidos de maneira seletiva quando houver suspeita clínica de lúpus eritematoso sistêmico com base na história (uveíte, sintomas de secura, úlcera oral, erupção cutânea, fotossensibilidade, pericardite/pleurisia, síndrome de Raynaud, citopenias, convulsão, complicações trombóticas, comprometimento renal), pois foram relatados resultados positivos em indivíduos saudáveis; portanto, eles têm valor preditivo insuficiente, a menos que haja suspeita significativa de doença reumática sistêmica.[116]

Se houver evidências de fraqueza muscular proximal/distal no exame físico, os níveis de creatinina quinase devem ser avaliados para procurar evidências de uma miopatia/miosite subjacente.

A verificação do nível de ferritina deve ser considerada para avaliar a deficiência de ferro, particularmente como causa de fadiga, mas isso pode estar associado a sintomas inespecíficos, observados com frequência em populações similares, como mulheres na pré-menopausa.

Esses testes não são recomendados rotineiramente durante os exames para fibromialgia. Podem ocorrer resultados falsos-positivos; os resultados positivos indicam a presença de outro distúrbio, mas não descartam a fibromialgia.

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