Etiologia
A etiologia da síndrome de Sjögren permanece incerta.[16]
Há poucos dados sobre a hereditariedade ou o risco genético relativo. Os marcadores de antígenos leucocitários humanos (HLA) de classe II HLA-A1, HLA-B8 ou os haplótipos DR3/DQ2 em pacientes brancos estão vinculados à suscetibilidade para a síndrome de Sjögren. O HLA-DR3 está vinculado à produção de anti-Ro 60 kD e anti-La. Acredita-se que o fenótipo de HLA de classe II dá suporte à propagação do epítopo.[17] Além do haplótipo HLA-DR3, o haplótipo HLA-DR2 também está bem documentado como fortemente associado à síndrome de Sjögren Ro/La positiva. Diversos intervalos cromossômicos revelaram uma associação genética, mas os alelos causadores não foram identificados.[18]
A prevalência maior em mulheres suscitou a possibilidade de a deficiência de estrogênio e/ou androgênio influir na etiologia dessa e de outras doenças autoimunes.
Verificou-se em biopsias a presença de ácido desoxirribonucleico (DNA) e antígenos do vírus Epstein-Barr (EBV) nos infiltrados linfocíticos e nas células epiteliais das glândulas salivares. Anticorpos contra antígenos do EBV estavam elevados no soro.[19] Contudo, esses achados são inespecíficos para síndrome de Sjögren e sua associação também pode ser inespecífica. Foi demonstrado um mimetismo molecular entre SS-B/La e uma proteína gag (antígeno grupo-específico) retroviral, o qual sugere que o retrovírus pode ter um papel na patogênese. A infecção por adenovírus demonstrou induzir uma redistribuição da localização do SS-B/La, possivelmente induzindo uma autoimunidade.[20]
Fisiopatologia
A patogênese do dano da glândula salivar é multifatorial e acredita-se que envolve componentes imunológicos, genéticos, hormonais e virais.[1]
Os linfócitos B policlonais hiper-reativos produzem diversos autoanticorpos nesta síndrome.[21] Os componentes de ligação dos anticorpos do complexo ribonucleoproteico Ro/La são muito comuns (75% a 90% dos pacientes) e são o achado imunológico mais unificador da doença.[22] Também são observados fatores antinucleares (90%), fator reumatoide (aproximadamente 50%), anticorpos antitireoglobulina (25%) e anticorpos contra extratos glandulares lacrimais e salivares.[21] Estudos recentes sugerem que as deficiências de complemento relativas agem de alguma forma no retardo da remoção de debris apoptóticos, o qual pode fornecer partículas Ro/La imunogênicas; outro trabalho sugere possíveis mecanismos independentes de células T para facilitar a cascata autoimune.
As biópsias das glândulas salivares mostram focos de infiltrados caracterizados por linfócitos. Estudos revelam que células B produtoras de anti-Ro e anti-La estão presentes nos infiltrados. Acredita-se que as células infiltradas interfiram na função glandular ao: a) secretar citocinas, b) produzir autoanticorpos que interferem nos receptores muscarínicos, e c) secretar metaloproteinases que interferem na interação entre a célula glandular e sua matriz extracelular.[2][23]
Há algumas evidências que sugerem que o estrogênio pode ser a principal causa da diferença entre sexos. O estrogênio afeta fortemente a evolução das doenças autoimunes com efeitos profundamente contraditórios, e ele mesmo é crítico para o início da autoimunidade.[24] Foi sugerido que a expressão variável das isoformas dos receptores estrogênicos e da distinta potência estrogênica (afinidade pelo receptor) contribuem de alguma forma para as sensibilidades celulares específicas aos hormônios femininos. As mulheres têm níveis basais de imunoglobulinas mais altos e produzem mais imunoglobulinas em resposta à infecção ou imunização que os homens da mesma idade. A diferença persiste apenas durante os anos reprodutivos das mulheres, a qual se torna aparente pela primeira vez durante a puberdade.[25] Os androgênios podem proteger da autoimunidade, e mulheres com síndrome de Sjögren podem apresentar deficiência de androgênios.[26][27] Entretanto, outro estudo apontou que o efeito de "dose de gene" no caso do cromossomo X pode ter um papel no viés de sexo encontrado na síndrome de Sjögren. O mecanismo do viés feminino é pouco compreendido. Observou-se trissomia do X (47,XXX) significativamente elevada no lúpus eritematoso sistêmico e na síndrome de Sjögren primária, mas não em outras doenças, como cirrose biliar primária, artrite reumatoide (ambas possuem um viés feminino), sarcoidose (sem predominância feminina) e controles normais.[28] Esses resultados dão suporte à ideia de viés adicional para o viés de sexo na autoimunidade. Outro estudo apontou um excesso de homens com Klinefelter na síndrome de Sjögren em comparação com Klinefelter em homens em grupos de controle normal e homens com artrite reumatoide.[29]
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