Prevenção primária

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda estratégias de prevenção e controle da infecção por dengue, e as regiões endêmicas para dengue também tendem a criar seus próprios programas e iniciativas de prevenção. O principal ponto para todos os programas de prevenção é a vigilância da doença, a fim de se detectar a ocorrência de epidemias de dengue. As comunidades em regiões endêmicas de dengue devem ser educadas sobre a infecção pelo vírus da dengue, como reconhecer os sintomas e como prevenir sua transmissão.[1][2]

As medidas de prevenção incluem:[1]

  • Remover regularmente todas as fontes de água parada a fim de evitar o estabelecimento de criadouros do mosquito

  • Evitar as picadas do mosquito usando roupas adequadas para cobrir as áreas expostas da pele, sobretudo durante o dia, e o uso de inseticidas, repelentes de mosquito, espirais mata-mosquitos e mosquiteiros

    • N,N-dietil-meta-toluamida (DEET) geralmente é o repelente preferencial; no entanto há dados que dão suporte ao uso de picaridina como agente de segunda linha.[56]

  • Usar mosquiteiros e espirais perto de pessoas doentes com dengue para evitar que os mosquitos piquem pessoas doentes e transmitam a infecção.

Vacinas

  • Uma vacina tetravalente (Dengvaxia®) está disponível em aproximadamente 20 países. Ela foi aprovada na Europa no final de 2018 e nos EUA em maio de 2019. A vacina, também conhecida como CYD-TDV, é do tipo viva atenuada recombinante. É administrada como uma série de 3 doses a 0, 6 e 12 meses.[57]​ Acredita-se que a proteção dure pelo menos 6 meses após a última dose da série.[58]

    • A OMS recomenda a vacina para os indivíduos de 9 a 45 anos com infecção prévia confirmada.[59]

    • Nos EUA, ela está aprovada para a prevenção de dengue causada pelo vírus da dengue dos sorotipos 1, 2, 3 e 4, em pessoas de 9 a 16 anos de idade com infecção prévia pelo vírus da dengue confirmada laboratorialmente e que moram em áreas endêmicas (por exemplo, Samoa Americana, Guam, Porto Rico e Ilhas Virgens Americanas).

    • Na Europa, ela está aprovada para a prevenção de dengue causada pelos vírus dos sorotipos 1, 2, 3 e 4, em pessoas de 6 a 45 anos de idade com infecção prévia pelo vírus da dengue confirmada laboratorialmente.

  • Os indivíduos sem infecção prévia pelo vírus da dengue que recebem a Dengvaxia® podem apresentar risco de desenvolver dengue grave caso sejam infectados com o vírus da dengue após serem vacinados.

    • O Strategic Advisory Group of Experts on Immunization (SAGE) da Organização Mundial da Saúde recomenda que a vacina só deve ser usada em pessoas já infectadas com o vírus da dengue (soropositivas) identificado por uma estratégia de rastreamento pré-vacinação adequada. Isso pode ser difícil de se conseguir na prática, considerando que não há nenhum teste laboratorial remoto adequado disponível. As recomendações se baseiam em análises com acompanhamento de longo prazo que constataram que a eficácia da vacina foi menor entre os pacientes soronegativos nos primeiros 25 meses após a primeira dose da vacina e que houve um maior risco de hospitalização por dengue e dengue grave em pacientes soronegativos, começando aproximadamente 30 meses após a primeira dose.[60]

    • Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomendam que as evidências de infecção prévia por dengue podem ser obtidas das seguintes maneiras: um resultado positivo de exame de reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa (RT-PCR); um resultado positivo de exame de antígeno NS1 para dengue; ou um resultado positivo em dois testes de imunoglobulina G para vírus da dengue em um algoritmo de testes em duas etapas. Um único resultado positivo no teste de imunoglobulina M não é comprovação suficiente de infecção prévia por dengue devido à potencial reatividade cruzada com outros flavivírus circulantes em áreas endêmicas para a dengue.[61]

    • Os pacientes com dengue devem esperar pelo menos 6 meses após a confirmação da infecção por dengue para iniciar a série de vacinação.[57]

  • Nos EUA, o Advisory Committee on Immunization Practices recomenda a vacinação com Dengvaxia® para crianças de 9 a 16 anos com evidências de infecção prévia por dengue e que morem em áreas endêmicas para dengue.[62]

    • A evidência de infecção prévia por dengue é necessária para as crianças elegíveis antes da vacinação.

  • As evidências de eficácia da Dengvaxia® são limitadas.

    • A eficácia da vacina contra a doença virologicamente confirmada foi relatada em 82% em crianças de 2 a 16 anos, enquanto a eficácia contra hospitalização foi relatada em 79%, e 84% contra a forma grave da doença.[63][64]

    • Uma revisão sistemática e metanálise em crianças e adolescentes com idades entre 2 e 17 anos constatou que a eficácia global da vacina é de 60% após 3 doses ao longo de um período de acompanhamento de 13 meses. A eficácia sorotipo-específica foi mais alta para o sorotipo 3 (75%) e o sorotipo 4 (77%). A imunogenicidade foi mais alta para o sorotipo 2 e o sorotipo 3. A vacina foi considerada relativamente segura, pois foi constatado que ela provoca muito menos efeitos adversos em comparação com outras vacinas atualmente administradas a crianças (por exemplo, tétano, difteria). Os efeitos adversos mais comuns foram a cefaleia e a dor no local da injeção.[65]

    • Uma metanálise de sete ensaios clínicos realizados com pessoas de 2 a 45 anos (36,000 participantes) constatou baixa eficácia da vacina contra a dengue sintomática (44% - variação de 25% a 59%), principalmente para os sorotipos 1 e 2.[66]

  • Outra vacina tetravalente de vírus vivo atenuado (comercializada na Europa como Qdenga®) foi aprovada pela European Medicines Agency (EMA) para prevenir a doença causada pelos quatro sorotipos em crianças ≥4 anos de idade e adultos. Ela é administrada como uma série de 2 doses (0 e 3 meses). A EMA também emitiu uma opinião positiva para uso da vacina fora da União Europeia. Nos EUA, a vacina está atualmente sendo avaliada para aprovação pela Food and Drug Administration.

  • Consulte as diretrizes locais para obter informações sobre contraindicações, precauções e uso em populações especiais de pacientes.

  • Várias  candidatas a vacina estão atualmente em desenvolvimento clínico.[67][68]

Outras medidas preventivas

  • A vigilância e o controle vetorial (por exemplo, peixes larvófagos, bactérias produtoras de endotoxinas) e o manejo ambiental (por exemplo, remoção de criadouros do mosquito) são importantes.[33]

  • Há diversas iniciativas globais para testar mosquitos geneticamente modificados a fim de ajudar a deter a disseminação da dengue e de outras doenças.[69]

    • Os mosquitos Aedes aegypti infectados com Wolbachia pipientis têm um potencial reduzido para transmitir o vírus da dengue. A introdução desses mosquitos em áreas específicas na Indonésia reduziu a incidência de dengue sintomática e levou a menos hospitalizações nessas áreas.[70]

    • Uma revisão Cochrane constatou que os indivíduos que vivem em áreas endêmicas em que os mosquitos Aedes portadores de Wolbachia foram liberados têm menor probabilidade de contrair dengue e de serem hospitalizados em decorrência da dengue, em comparação com pessoas que vivem em áreas sem liberação do mosquito. No entanto, a revisão incluiu apenas um ensaio clínico randomizado e controlado concluído.[71] [ Cochrane Clinical Answers logo ]

  • Um estudo na Nicarágua e México envolvendo prevenção da produção de mosquito sem uso de químicos constatou que a mobilização da comunidade pode adicionar eficácia ao controle de vetores da dengue.[72]

Centers for Disease Control and Prevention (CDC): dengue - prevention Opens in new window World Mosquito Program™ Opens in new window

Prevenção secundária

A recorrência é possível com sorotipos distintos de vírus da dengue, levando a uma infecção secundária; por isso, as principais medidas de prevenção utilizadas devem ser seguidas após a recuperação de uma infecção inicial.

Em regiões endêmicas de dengue, os casos suspeitos, prováveis e confirmados de infecção por dengue devem ser relatados às autoridades competentes o quanto antes, para que as medidas adequadas possam ser colocadas em prática a fim de prevenir a transmissão.[2]

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