Etiologia

O cancroide é causado pelo Haemophilus ducreyi, um cocobacilo Gram-negativo fastidioso. É um patógeno estritamente humano transmitido principalmente por meio de sexo sem proteção ou por autoinoculação. H ducreyi pode infectar a pele, as superfícies mucosas e os linfonodos. A sobrevivência fora do hospedeiro humano é breve.[17]

A maioria dos dados sobre fatores de risco para cancroide pertence à infecção genital, que foi mais amplamente estudada. Para doença genital, os fatores de risco incluem sexo sem proteção, grande número de parceiros sexuais (>15 por ano), contato com profissionais do sexo, uso de cocaína, falta de higiene e ausência de circuncisão.[23][24]​​[25]​ A taxa de transmissão por ato sexual é de aproximadamente 0.35.[15] A doença não genital é mais comumente observada em crianças que vivem em áreas remotas e rurais; um importante fator de risco para transmissão é a proximidade física com um caso de úlcera confirmado.​[3][4][5][6][20]

H ducreyi desenvolveu resistência a vários antimicrobianos, mas a maioria dos isolados continua amplamente suscetível a macrolídeos e quinolonas.[26]​ O cancroide genital é um importante cofator da transmissão de vírus da imunodeficiência humana (HIV).[27]

Fisiopatologia

Haemophilus ducreyi é altamente infeccioso. Em um modelo experimental, a inoculação de apenas 1 unidade formadora de colônia induziu à formação de pápula em 50% dos voluntários.[28] Outro estudo mostrou que 70% das mulheres que tiveram contato com um homem infectado desenvolveram a doença.[29][30]

O período de incubação dura de 3-7 dias.[31]​ H ducreyi tem um breve período de infectividade e requer uma mudança frequente de parceiros sexuais para ser mantido na população.[11][29][32]​ Por esse motivo, profissionais do sexo são hospedeiros importantes na maioria das epidemias.

A sequência da patogênese é a seguinte:

  • A pele, que proporciona uma excelente barreira à infecção, sofre uma ruptura, geralmente por uma laceração ou abrasão. H ducreyi entra por essa ruptura e ataca preferencialmente o epitélio da mucosa.[33][34]

  • No local de entrada, as células epiteliais são infiltradas por leucócitos polimorfonucleares e macrófagos. Isso ocasiona a secreção de interleucina (IL)-2 e IL-6, recrutando células mononucleares para a derme, incluindo células CD4.[17][33]

  • A reação inflamatória se manifesta como 1 ou mais pápulas indolores em uma base eritematosa, que, nos dias seguintes, apresenta resolução espontânea ou se torna pustular e sofre ulceração. As mulheres têm maior probabilidade de apresentar resolução espontânea das pápulas, ao passo que os homens têm maior probabilidade de evoluir para o estágio pustular.[35][36]

  • Quando não tratadas, as úlceras são lentamente destrutivas e podem durar meses, causando cicatrização permanente.[17]

Os motivos pelos quais o H ducreyi é tão infeccioso não são completamente compreendidos. Há vários fatores de virulência propostos que medeiam a infecção inicial (pili e proteínas da membrana externa), provocam lesão no tecido (hemolisinas, proteínas de choque térmico, lipopolissacarídeos) e promovem evasão e resistência às defesas do hospedeiro (lipopolissacarídeos, resistência a defensinas alfa e beta).[2][33][37][38][39][40]

A circuncisão protege contra a infecção. Isso pode acontecer porque a área úmida abaixo do prepúcio favorece a replicação. Além disso, o revestimento epitelial das superfícies internas do prepúcio e do freio é menos cornificado e mais suscetível a abrasões, principalmente durante a relação sexual, oferecendo mais locais de entrada para o organismo.[15][23][24]​​

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