Abordagem
Os pacientes com suspeita de golpe de calor devem ser rapidamente avaliados com uso de protocolos de Suporte Avançado de Vida no Trauma. Uma vez que a pesquisa primária seja concluída, deve-se remover o paciente do calor e avaliar sua temperatura com termômetros retais ou esofágicos.[17] Uma disfunção do sistema nervoso central (SNC) em quadro de temperatura central elevada deve desencadear um diagnóstico presuntivo de golpe de calor, e o resfriamento deve começar imediatamente.
A investigação de outras etiologias possíveis para o paciente afetado também deve ser iniciada. Causas cardiovasculares, neurológicas, endocrinológicas e infecciosas de sinais e sintomas de apresentação devem ser consideradas. Deve-se suspeitar de tais etiologias em pacientes com hipertermia e outros sintomas inespecíficos que não remitem com resfriamento passivo, hidratação e repouso.[3]
Pacientes em risco
Adultos mais velhos estão particularmente sob risco de golpe de calor, pois podem ser menos capazes de reconhecer e responder à carga térmica.[12] Isso pode, em parte, ser devido à maior prevalência de comorbidades cognitivas (por exemplo, demência, doença de Parkinson) e ao fato de certos medicamentos (por exemplo, diuréticos, anti-hipertensivos, anticolinérgicos, fenotiazinas e antidepressivos tricíclicos) poderem predispor os pacientes a golpes de calor.[1] No entanto, outros grupos de pacientes também estão em maior risco de golpe de calor. Eles incluem pessoas não aclimatadas a ambientes quentes (pois podem não ter mecanismos compensatórios mais eficientes na dissipação do calor) e pessoas jovens e ativas se exercitando intensamente em condições quentes e úmidas. O uso de 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA) e outras drogas encontradas em festas é um importante fator de risco para golpe de calor por esforço.[18] Peso corporal excessivo também pode ser um fator de risco independente para golpe de calor por esforço.[19]
Sintomas e sinais clínicos
Uma disfunção do sistema nervoso central (SNC) em quadro de temperatura central elevada deve desencadear um diagnóstico presuntivo de golpe de calor, e o resfriamento deve começar imediatamente. No golpe de calor, a temperatura central é classicamente de >40 °C (>104 °F). Contudo, deve-se notar que mesmo pacientes com leituras normais de temperatura podem ter golpe de calor, seja por causa de técnicas imprecisas de medição ou devido a efeitos de resfriamento prévio. Leituras da temperatura central podem ser obtidas com termômetros retais ou esofágicos.[17] O golpe de calor pode ser distinguido da exaustão por calor pela presença de alterações profundas no estado mental, que sempre estão presentes nele. Uma série de distúrbios do SNC pode estar presente, com variações de gravidade desde confusão a coma. Tipicamente, os pacientes apresentam confusão e agitação. Outros sintomas do SNC incluem cefaleia, ansiedade, tontura, irritabilidade, ataxia e náuseas/vômitos. Em contraste, os pacientes com exaustão por calor podem apresentar apenas sintomas mais leves do SNC (por exemplo, tontura, cefaleia, sede, fraqueza e mal-estar). Além disso, os sintomas de pacientes exaustos pelo calor geralmente remitem em até 2 horas.
A hipotensão pode resultar de vasodilatação cutânea, choque ou depleção de volume. Em casos mais graves, pode indicar colapso cardiovascular. A taquicardia pode resultar da hipertermia ou hipotensão e frequentemente acompanha tanto a intermação clássica quanto aquela por esforço. Pode haver icterícia em alguns casos; ela é causada por lesão hepática devida a estresse térmico, hipoperfusão tecidual e efeitos indiretos da intermação. Também pode haver manifestação de coagulopatia como consequência de lesão hepática e estresse térmico direto (por exemplo, como epistaxe ou sangramento dos locais de acesso intravenoso).[20] Hipóxia intestinal e hemorragia digestiva podem ocorrer com frequência, resultando de hipoperfusão e liberação de endotoxinas. Embora incomum, a coagulação intravascular disseminada pode se desenvolver. Em muitos pacientes, pode haver sensibilidade muscular e o desenvolvimento de rabdomiólise. A insuficiência renal aguda pode resultar de mioglobinúria decorrente de rabdomiólise, ou de efeitos teciduais diretos do estresse térmico.
Investigações
Todos os pacientes com suspeita de intermação devem ser submetidos a bioquímica sérica de rotina no momento da internação no hospital. Eles incluem hemograma completo e diferencial, testes da função hepática, perfil metabólico, creatina quinase sérica e perfil de coagulação. Em casos confirmados de golpe de calor, esses exames laboratoriais devem ser seguidos ao menos diariamente pelo período completo de observação, pois as anormalidades na função dos órgãos podem ser proteladas no início.
Exames adicionais podem ser necessários, dependendo do quadro clínico. Em pacientes com alterações profundas no SNC, a possibilidade de lesões com efeito de massa e infecção deve ser descartada (por exemplo, com TC e quando a punção lombar for adequada). A intermação muitas vezes é acompanhada de choque e, por isso, a gasometria arterial e os níveis de ácido láctico devem ser monitorados. Como em alguns pacientes a apresentação pode ser consistente com certas emergências endócrinas (por exemplo, hipertireoidismo ou cetoacidose diabética), pode-se considerar testes de função tireoidiana e glicose plasmática como teste diagnóstico inicial. Finalmente, pirexia e anormalidades no SNC podem ocorrer como resultado de infecção sistêmica e em certas superdosagens de medicamentos. Se houver suspeita de sepse, deve-se solicitar radiografia torácica e culturas de sangue e urina. A análise toxicológica também pode ser apropriada se houver suspeita de overdose de drogas (por exemplo, cocaína, fenciclidinas, salicilatos).
Consulta e encaminhamento
Cuidados intensivos e especialistas ambientais muitas vezes estão envolvidos nos cuidados de pacientes com intermação. Todos os pacientes com suspeita de golpe de calor devem ser hospitalizados por um período de vigilância, pois a disfunção de múltiplos órgãos pode aparecer de 24 a 48 horas após o evento.[21] As funções hepática, renal e de coagulação devem ser monitoradas, e as determinações, seguidas por 48 horas após o evento de golpe de calor.
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