Etiologia

A etiologia da incontinência fecal é geralmente complexa e multifatorial. Há essencialmente sete subgrupos etiológicos, e os pacientes se encaixam em um ou mais grupos.[8][9]

  1. Anormalidades anorretais estruturais (por exemplo, trauma esfincteriano [incluindo lesão obstétrica de terceiro e quarto graus], prolapso retal). Isso também inclui anormalidades congênitas, pois os sintomas podem se repetir na vida adulta, apesar do reparo cirúrgico prévio.

  2. Afecções neurológicas (por exemplo, esclerose múltipla, AVC, neuropatia do nervo pudendo).[10]

  3. Alterações na consistência das fezes (por exemplo, diarreia infecciosa, doença inflamatória intestinal).

  4. Fenômeno de overflow (por exemplo, impactação, função de reservatório reduzida devido a cirurgia intestinal).

  5. Disfunção cognitiva/comportamental (por exemplo, demência, dificuldades de aprendizado).

  6. Incapacidade geral (por exemplo, pode ser causada por envelhecimento ou doença aguda).

  7. Idiopático.

Há uma fraca associação com diabetes mellitus; a neuropatia autonômica pode resultar em disfunção do esfíncter interno e em incontinência passiva.[11] Doenças neurológicas podem afetar a continência ao interferirem com as vias sensoriais e/ou motoras relevantes.

O dano ao esfíncter após uma cirurgia obstétrica é a causa mais comum de incontinência em mulheres jovens, e estima-se que o dano ao esfíncter ocorra em 11% das mulheres que fazem parto vaginal.[12] Ocorre mais comumente em partos com uso de fórceps, bebês grandes, demora no segundo estágio do trabalho de parto, episiotomia na linha média e apresentação occipital posterior.[12][13] A lesão iatrogênica é uma causa rara, mas alguns procedimentos, como a esfincterotomia lateral, envolvem incisão do músculo do esfíncter e podem resultar em incontinência fecal se o mesmo for muito dividido.

Operações para reduzir a extensão do intestino podem reduzir a função de reservatório, especialmente se envolverem o reto.

Fisiopatologia

O complexo mecanismo de continência depende de uma interação entre a função do esfíncter, a consistência das fezes, o trânsito de conteúdos colônicos, a função e a complacência do reservatório retal, a sensação anorretal e a anatomia do assoalho pélvico.[14] Normalmente, a passagem de fezes ou gases para o reto permite a distensão e o relaxamento temporário do esfíncter interno de modo que os conteúdos possam ser recolhidos pela zona anal de transição abundantemente inervada. Um centro de percepção mais alto permite maior relaxamento do complexo esfincteriano para evacuar caso seja socialmente aceitável. Se não for aceitável, o complexo esfincteriano externo é contraído e a necessidade de defecar é contida até um momento posterior. Qualquer interrupção, disfunção ou sobrecarga dessa via pode resultar em incontinência. A incontinência raramente é atribuída a um único mecanismo patogênico, com fatores locais, anatômicos ou sistêmicos potencialmente contribuindo.[15]

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