Etiologia
As diferentes etiologias de hipertensão portal são geralmente classificadas de acordo com o local da obstrução ao fluxo hepático. O gradiente de pressão venosa hepática (GPVH) normal é de 5 mmHg ou menos. Hipertensão pré-sinusoidal ocorre quando o GPVH é normal ou menor que a pressão portal. Hipertensão intra-hepática/sinusoidal ocorre quando a pressão portal livre é igual à pressão da veia hepática ocluída. Hipertensão pós-sinusoidal ocorre quando o local da obstrução é distal aos sinusoides. A resistência elevada ao fluxo hepático e/ou fluxo hepático elevado em conjunto causam o desenvolvimento de colaterais porto-sistêmicas. Essas colaterais incluem as que se localizam na porção inferior do esôfago. Ocorre dilatação e distensão desses vasos em decorrência da hipertensão portal contínua e acarreta a formação de varizes. A classificação da hipertensão portal de acordo com os dois mecanismos principais é:
Resistência elevada
Pré-hepática:
Oclusão da veia porta
Oclusão da veia esplênica
Estenose congênita da veia porta
Compressão extrínseca da veia porta
Hepática:
Pré-sinusoidal
Sarcoidose
Esquistossomose
Fibrose hepática congênita
Colangite biliar primária
Hipertensão portal idiopática
Sinusoidal
Cirrose (todas as etiologias)
Hepatite alcoólica
Pós-sinusoidal
Doença veno-oclusiva
Síndrome de Budd-Chiari
Pós-hepática:
Pericardite constritiva
Cardiomiopatia restritiva
Valvopatia cardíaca
Lesão em teia da veia cava inferior.
Fluxo elevado
Veia porta:
Doenças mieloproliferativas.
Artéria hepática:
Fístula artéria hepática-veia porta.
Fisiopatologia
O fator inicial na fisiopatologia da hipertensão portal é o aumento na resistência vascular ao fluxo sanguíneo portal. Isso resulta da distorção estrutural causada pela doença subjacente (o componente mecânico) e da contração ativa de miofibroblastos portais/septais, células estreladas hepáticas ativadas e células vasculares de músculo liso em vênulas portais (o componente dinâmico).[20] O dano hepático ocorrido na sepse pode contribuir para um aumento considerável da hipertensão portal.[21]
Esse componente ativo de vasoconstricção intra-hepática é responsável por 20% a 30% da resistência.
A hipertensão portal causa o desenvolvimento de colaterais porto-sistêmicas, possivelmente sob a influência de fatores angiogênicos, como o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), permitindo o desvio de sangue em torno do fígado. A hipertensão portal persiste apesar da formação de colaterais em virtude da vasodilatação arteriolar esplâncnica e da descompressão insuficiente através das colaterais, que apresentam resistência mais elevada que o fígado. Clinicamente, as varizes gastroesofágicas, em conjunto com a ascite, são as consequências mais importantes da hipertensão portal.
Classificação
Aparência endoscópica e função hepática
Na maioria dos centros que utilizam endoscopia digestiva alta (EDA), as varizes esofágicas são classificadas de acordo com seu tamanho, da seguinte maneira:[6]
Pequenas (grau 1): pequenas varizes retas
Médias (Grau 2): varizes tortuosas aumentadas ocupando menos de um terço do lúmen
Grandes (Grau 3): grandes varizes em forma de mola ocupando mais de um terço do lúmen.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Varizes esofágicas grandesDo acervo pessoal de Gennaro D'Amico, MD [Citation ends].
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Varizes esofágicas grandesDo acervo pessoal de Gennaro D'Amico, MD [Citation ends].
Um workshop de consenso recomendou um sistema simplificado de dois graus (pequeno e grande) em 1990; as varizes grandes tinham diâmetro >5 mm.[7] As recomendações para varizes grandes também se aplicarão às varizes médias nos centros que usam a classificação de três graus.
O desenvolvimento de varizes e sua evolução de pequenas a grandes ocorrem a uma taxa de, aproximadamente, 7% a 8% ao ano.[4][8] Os principais fatores associados ao desenvolvimento de varizes e à sua progressão de pequenas a grandes são um gradiente de pressão venosa hepática (GPVH) >10 mmHg, cirrose descompensada (Child-Pugh B/C), cirrose alcoólica e presença de marcas de vergões vermelhos (definidos como vênulas longitudinais dilatadas semelhantes a marcas de açoite na superfície das varizes) à ocasião da endoscopia inicial.[5][8][9]
Os mais importantes preditores de hemorragia são o tamanho das varizes, a classe de Child-Turcotte-Pugh e os achados endoscópicos de marcas de vergões vermelhos.[5]
Classificação clínica de pacientes com cirrose com risco de varizes esofágicas e hemorragia por varizes[5]
A cirrose é classificada em dois estádios prognósticos: compensado e descompensado.
A cirrose descompensada é definida por ascite, hemorragia por varizes ou encefalopatia hepática.
O estádio compensado foi dividido em dois subestádios:
Pacientes com hipertensão portal leve (gradiente de pressão venosa hepática [GPVH] >5 mas <10 mmHg)
Pacientes com hipertensão portal clinicamente significativa (GPVH ≥10 mmHg):
sem varizes
com varizes.
Os seguintes grupos de pacientes fornecem uma estrutura para tratamento e vigilância endoscópica:
Cirrose compensada com hipertensão portal leve
Cirrose compensada com hipertensão portal clinicamente significativa, sem varizes gastroesofágicas
Cirrose compensada com hipertensão portal clinicamente significativa, com varizes gastroesofágicas
Hemorragia aguda nas varizes gastroesofágicas
Prevenção da hemorragia gastroesofágica recorrente.
North Italian Endoscopic Club (Clube de endoscopia do norte da Itália) para o estudo e tratamento de varizes esofágicas[3]
Classificação com base no tamanho, gravidade das marcas de vergões vermelhos e classe de Child-Pugh:
Tamanho das varizes
Pequenas
Médias
Grandes
Marcas de vergões vermelhos
Ausentes
Leve
Moderado
Grave
classe de Child-Pugh
A
B
C
Uma estratificação de risco de hemorragia por varizes acompanha essa classificação, com escores acumulativos para características individuais adicionados para definir uma classe de risco.
Tamanho das varizes
Pequenas (<25% do raio do lúmen) 8.7
Médias (25 a 50% do raio do lúmen) 13.0
Grandes (>50% do raio do lúmen) 17.4
Marcas de vergões vermelhos
Ausentes 3.2
Leves 6.4
Moderadas 9.6
Graves 12.8
classe de Child-Pugh
A 6.5
B 13.0
C 19.5
Classe de risco de acordo com o escore (o risco aumenta com o crescimento do escore)
1 (<20)
2 (20 a 25)
3 (25.1 a 30)
4 (30.1 a 35)
5 (35.1 a 40)
6 (>40)
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