Abordagem
O diagnóstico se baseia em achados clínicos, e é confirmado com amostras vaginais. Algumas evidências sugerem que as mulheres frequentemente fazem autodiagnóstico da vaginite e tratam a vaginose bacteriana e a candidíase com medicamentos isentos de prescrição.[22]
Deve-se propor rastreamento para outras ISTs para parceiros sexuais de indivíduos que apresentam Trichomonas vaginalis. A vaginose bacteriana e a candidíase, em geral, não são transmitidas sexualmente; porém, elas podem ocorrer concomitantemente com ISTs (por exemplo, gonorreia e infecções por clamídia); portanto, recomenda-se triagem para ISTs em todas as mulheres com vaginite infecciosa. Para auxiliar no fornecimento de serviços de testes de IST, a Organização Mundial da Saúde recomenda a autocoleta de amostras como uma opção para testar para N gonorrhoeae e C trachomatis e, se for o caso, T pallidum e T vaginalis.[23] O National Health and Care Excellence do Reino Unido também recomenda que a autoamostragem remota seja oferecida como alternativa ao comparecimento a uma clínica para melhorar a captação e a frequência dos testes para IST´s.[24]
História
Os fatores precipitadores de vaginite podem incluir raspar os pelos, duchas, higiene insuficiente ou excessiva, uso de antibióticos, dispositivo intrauterino ou pílulas contraceptivas orais. Além destes, uma história de mudança recente nos produtos e/ou nos sabonetes para higiene feminina, ou o uso de preservativos de látex ou diafragmas, pode sugerir uma vaginite irritativa ou alérgica. A vaginite infecciosa é mais comum durante a idade reprodutiva, enquanto a menopausa predispõe à vaginite atrófica. A candidíase vulvovaginal é observada com mais frequência entre mulheres negras e mulheres com diabetes ou HIV.[7][25] Fatores de risco menores incluem tabagismo, relações sexuais mais frequentes e gestação.[18][25]
A história deve avaliar todo o espectro de sintomas vaginais, incluindo mudanças na secreção, mau odor vaginal, prurido, dispareunia e disúria. Além de uma descrição dos sintomas, perguntas sobre a localização dos sintomas (vulva, vagina e ânus), sua duração, respostas a tratamentos anteriores, incluindo autotratamento e duchas higiênicas, e o histórico sexual com relação a número e identificação do gênero de parceiros sexuais, práticas sexuais específicas e infecções sexualmente transmissíveis anteriores, doenças clínicas subjacentes (por exemplo, diabetes, HIV ou doença inflamatória intestinal), práticas de higiene vulvovaginal e relação dos sintomas com o ciclo menstrual podem fornecer informações importantes sobre a provável etiologia.[26]
História de dispareunia, ressecamento e disúria em mulheres no pós menopausa indica vaginite atrófica, que é diagnosticada clinicamente. Mulheres com candidíase vulvovaginal frequentemente relatam um corrimento branco, espesso, semelhante a um queijo cottage, e inodoro, enquanto as mulheres com vaginose bacteriana relatam um corrimento branco, fétido, que é notado com mais frequência após uma relação sexual.[27] Na tricomoníase, uma infecção sexualmente transmissível, o corrimento é descrito como verde, amarelo ou branco, espumoso e fétido.[4]
Pode ocorrer sangramento vaginal por causa de cervicite na tricomoníase. Em casos raros, ele também está relacionado ao ressecamento vaginal que ocorre na vaginite atrófica.[4][28]
Febre e dor abdominal são sintomas manifestos muito raros e, geralmente, estão associados a ISTs comórbidas.
Exame físico e amostras vaginais
O exame físico envolve inspeção externa da genitália e exame interno com um espéculo.
Em geral, a vaginite irritante ou alérgica é diagnosticada clinicamente, e o exame físico pode demonstrar eritema com ou sem edema.[29]
Em geral, a vaginite atrófica é diagnosticada clinicamente com base na história e nas evidências de atrofia no exame (menor elasticidade; ressecamento; epitélio friável, pálido e brilhante). Medidas adicionais para diagnóstico e avaliação da eficácia do tratamento incluem o pH vaginal, o índice de maturação vaginal (um cálculo das porcentagens relativas de células superficiais comparadas a células intermediárias e parabasais) e a avaliação do sintoma mais incômodo, em que as mulheres escolhem um sintoma e classificam sua intensidade (ressecamento vaginal, dispareunia, irritação vaginal, disúria, sensibilidade vaginal, sangramento pós-coito).[28]
O diagnóstico de candidíase, em geral, é feito clinicamente com evidências de eritema e de um corrimento espesso, branco, semelhante a queijo cottage, aderente às paredes laterais da vagina, mas pode ser confirmado por preparação de esfregaço vaginal em câmara úmida com 10% de hidróxido de potássio (KOH) ou cultura.
Se houver suspeita de vaginose bacteriana ou tricomoníase, amostras vaginais para avaliação do pH, teste das aminas (teste "do odor"), soro fisiológico e microscopia com KOH (câmara úmida) podem auxiliar no diagnóstico, juntamente com os achados clínicos.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Vaginite por tricomonas com corrimento purulento abundante emanando do óstio cervicalBiblioteca de Imagens do CDC [Citation ends].
O pH e o teste das aminas podem ser realizados tanto por medição direta quanto por teste colorimétrico. É importante que o swab para avaliações de pH seja obtido da porção média da parede lateral da vagina a fim de evitar falsas elevações nos resultados de pH causadas por muco cervical, sangue, sêmen ou outros produtos.[30]
Observa-se pH elevado em infecções bacterianas e na vaginite atrófica.
Dependendo da preferência da instituição, a vaginose bacteriana pode ser diagnosticada por coloração de Gram vaginal (critérios de Nugent) ou pela presença de pelo menos 3 critérios de Amsel:[26][31][32]
pH vaginal >4.5
Teste de 'Whiff'
Células-chave (clue cells; células epiteliais vaginais com aparência distinta de pequenos pontos, em câmara úmida em soro fisiológico, por estarem cobertas por bactérias)
Corrimento vaginal branco aderente.
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Fotomicrografia revelando bactérias aderentes às células epiteliais vaginais, conhecidas como células-chave (clue cells)Biblioteca de Imagens do CDC; M. Rein [Citation ends].
Na tricomoníase, a câmara úmida revela inúmeros leucócitos e protozoários móveis.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Micrografia de contraste de fases em câmara úmida de corrimento vaginal revelando a presença do protozoário Trichomonas vaginalisBiblioteca de Imagens do CDC [Citation ends]. À inspeção, o colo uterino pode ter uma aparência pontuada e papiliforme (colo uterino em morango).
Exames laboratoriais
Se o diagnóstico ainda for incerto, pode ser necessário fazer culturas vaginais ou exames de reação em cadeia da polimerase para tricomoníase ou levedura em casos de infecções resistentes ao tratamento. Essas técnicas não são realizadas rotineiramente.
A coloração de Gram de secreções vaginais para classificação da flora bacteriana de acordo com os critérios de Nugent identifica mulheres com vaginose bacteriana.[26][32]
Outros exames disponíveis para diagnóstico incluem exames rápidos da atividade enzimática de organismos associados à vaginose bacteriana.[4][30][33][34]
Recomenda-se realizar exames para ISTs em pacientes com infecções recorrentes e/ou naquelas que apresentam risco de exposição a ISTs (por exemplo, relação sexual sem proteção), e deve-se incluir exames de gonorreia, clamídia, sífilis e HIV.[4] A vaginose bacteriana e a candidíase, em geral, não são transmitidas sexualmente; porém, elas podem ocorrer concomitantemente com ISTs (por exemplo, gonorreia e infecções por clamídia); portanto, recomenda-se triagem para ISTs em todas as mulheres com vaginite infecciosa.[35]
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