Abordagem

Abordagem geral

Recomenda-se que o manejo de um paciente com colangiocarcinoma seja realizado por uma equipe multidisciplinar formada por cirurgiões especialistas, radiologistas, oncologistas e especialistas em cuidados paliativos. O encaminhamento a uma clínica especializada em neoplasias hepatobiliares é desejável.[7]

A ressecção cirúrgica é a única cura potencial, mas apenas uma pequena porcentagem dos pacientes é tratada dessa forma com sucesso. Outras opções incluem transplante de fígado (embora apenas alguns pacientes selecionados sejam qualificados para isso), quimioterapia, imunoterapia e/ou radioterapia e paliação.

Embora o tratamento para o colangiocarcinoma intra-hepático e para o extra-hepático seja diferente, os pacientes geralmente podem ser divididos naqueles que têm tumores ressecáveis e nos que não têm.

Tumores ressecáveis

Os pacientes que apresentam tumores ressecáveis têm as seguintes características:

  • Nenhuma evidência de metástase, de comprometimento de linfonodos regionais, de extensão para a veia porta ou de extensão ductal bilateral

  • Volume hepático funcional suficiente[7]

  • Exames de imagem indicando a possibilidade de que o cirurgião será capaz de realizar a ressecção com margens livres e poderá remover o tumor de pelo menos um lado da árvore biliar

  • Ausência de comorbidade que impeça o paciente de ser submetido à cirurgia.

O objetivo da cirurgia é atingir as margens negativas (há uma taxa de sobrevida de 5 anos de 20% a 43% se isso ocorrer).[48][49][50][51] Preditores positivos de sobrevida são margens negativas, ausência de comprometimento dos linfonodos, lesões solitárias e ausência de invasão vascular. O comprometimento hilar diminui a sobrevida média para 12 a 24 meses, partindo-se de um valor de 18 a 30 meses para tumores mais distais.

Uma metanálise demonstrou que as terapias adjuvantes após a ressecção radical aumentam a sobrevida global e a sobrevida livre de doença, em comparação com a observação isoladamente, e devem ser consideradas para os pacientes elegíveis.[52] No entanto, os autores observaram a falta de estudos comparativos entre a quimioterapia, radioterapia ou quimiorradioterapia adjuvante.

Tumores intra-hepáticos

  • Pacientes com um colangiocarcinoma intra-hepático ressecável devem ser submetidos a uma ressecção parcial do fígado.[34][53]​​​​

  • Se a ressecção for bem-sucedida e não houver doença residual local, os pacientes podem ser acompanhados por observação, incluídos em um ensaio clínico ou receber quimioterapia.[34][53]​​​​

  • Com base em evidências de um ensaio clínico randomizado e controlado de fase 3, a American Society of Clinical Oncology, a National Comprehensive Cancer Network (NCCN) e a American Association for the Study of Liver Diseases (AASLD) recomendam a quimioterapia com capecitabina adjuvante por 6 meses para todos os pacientes após a ressecção.[7][34]​​​[53]​​[54][55]​​​​​

  • Além disso, a NCCN recomenda o tratamento com durvalumabe, em combinação com gencitabina e cisplatina, em pacientes que desenvolvem doença recorrente mais de 6 meses após a cirurgia com intenção de cura e mais de 6 meses após a conclusão da terapia adjuvante.[34][53][56]​​​

    • Durvalumabe é um anticorpo monoclonal humano IgG1 que se liga com alta afinidade e especificidade ao ligante de morte celular programada 1 (PD-L1).[57]​ É um potente antagonista da função do PF-L1, bloqueando a interação com PD-1 e CD80.[57]

    • Sua eficácia foi avaliada em um ensaio clínico randomizado duplo-cego, controlado por placebo, de fase 3, realizado com pacientes com câncer do trato biliar irressecável, localmente avançado ou metastático histologicamente confirmado, que não tinham recebido terapia sistêmica prévia para a doença avançada.[56] O ensaio clínico mostrou que durvalumabe associado a quimioterapia melhorou significativamente a sobrevida global, em comparação com placebo associado a quimioterapia.[56][58] A adição do durvalumabe à quimioterapia não teve efeitos prejudiciais nos desfechos relacionados ao paciente, e a combinação pode ser considerada um esquema de tratamento tolerável nos pacientes com câncer do trato biliar avançado.[59]​​​

  • Os pacientes com características de alto risco após a ressecção, como linfonodos positivos, podem se beneficiar de radioterapia adjuvante associada a quimioterapia concomitante.[60]

  • A laparoscopia de estadiamento pode ser considerada em conjunto com a cirurgia se nenhuma metástase à distância for encontrada.[34][53]

  • A ablação térmica pode ser usada como uma alternativa à ressecção cirúrgica nos pacientes com doença de alto risco com tumores recidivantes ou primários pequenos, <3 cm.[34][53]

Tumores extra-hepáticos

  • Para pacientes com colangiocarcinoma extra-hepático, o tipo de cirurgia depende da localização do tumor:

    • Tumores que estão dentro do terço proximal da árvore biliar extra-hepática devem ser removidos por ressecção hilar, hepatectomia parcial combinada com ressecção do lobo caudal e linfadenectomia.[61]

    • Tumores no terço médio devem ser submetidos a uma excisão do ducto biliar extensa com linfadenectomia. Hepatectomia parcial ou duodenopancreatectomia pode ser necessária para alcançar a remoção total do tumor.

    • Os tumores extra-hepáticos distais devem ser removidos com duodenopancreatectomia com linfadenectomia.

    • Os tumores podem ser removidos por ressecção da veia porta quando esta estiver envolvida. Essa abordagem confere um benefício marginal em relação à não ressecção.[62]

  • Se o tumor for removido com sucesso e não houver linfonodos positivos, o paciente pode ser monitorado por observação, inscrito em um ensaio clínico ou fazer quimioterapia com/sem radioterapia.[34][53]​​​​ Recomenda-se o tratamento com quimioterapia adjuvante com capecitabina por 6 meses para todos os pacientes após a ressecção.[7][32]​​[34]​​[53][55]​​​​​

  • Se as margens da ressecção forem positivas ou se houver comprometimento de linfonodos, deverá ser oferecida ao paciente quimioterapia isoladamente ou em combinação com radioterapia.[34][53][55][63][64]​​​​​

  • Os pacientes que desenvolvem doença recorrente mais de 6 meses após a cirurgia com intenção de cura e mais de 6 meses após a conclusão da terapia adjuvante poderão receber imunoterapia em conjunto com a quimioterapia (durvalumabe, em combinação com gencitabina e cisplatina).[34][53][56]​​​

A embolização pré-operatória da veia porta pode contribuir para a redução de complicações e da mortalidade relacionada à cirurgia, podendo ser considerada para pacientes submetidos a hepatectomia direita ou ressecção maior, como trissegmentectomia.[65][66]​ Ela também pode ser considerada para pacientes submetidos à hepatectomia com uma taxa de ressecção planejada excedendo 50% a 60%, especialmente aqueles com fígado ictérico.

A drenagem biliar pré-operatória tem sido utilizada para reduzir a morbidade e a mortalidade em pacientes com icterícia obstrutiva. No entanto, revisões sistemáticas e metanálises não encontraram nenhuma evidência de benefício clínico, e continua sendo um procedimento controverso.[67][68][69][70]​​​ Geralmente, a drenagem biliar pré-operatória não é necessária para os pacientes com uma lesão ressecável quando a cirurgia puder ser realizada poucos dias após o diagnóstico. As diretrizes da Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) e do American College of Gastroenterology (ACG) recomendam contra a drenagem biliar pré-operatória de rotina especificamente para os pacientes com obstrução biliar extra-hepática maligna.[71][72]​​ As diretrizes da ESGE e do ACG também recomendam que a drenagem biliar pré-operatória seja reservada aos pacientes com colangite, icterícia sintomática grave (por exemplo, prurido intenso), protelamento da cirurgia, ou antes da quimioterapia neoadjuvante em pacientes com icterícia.[71][72]​​ No entanto, as orientações da AASLD observam que, em pacientes submetidos a uma ressecção para colangiocarcinoma peri-hilar ou distal, recomenda-se a drenagem biliar pré-operatória do fígado remanescente se houver obstrução biliar.[7]

Tumores irressecáveis

Os critérios que tornam um tumor irressecável são:[73]

Fatores do paciente

  • Comorbidade

  • Cirrose hepática coexistente.

Fatores relacionados ao tumor

  • Extensão do tumor para os ramos biliares secundários

  • Encarceramento ou oclusão da veia porta principal na porção proximal à bifurcação

  • Atrofia de um lobo hepático com encarceramento ou oclusão do ramo contralateral da veia porta

  • Atrofia de um lobo hepático com extensão contralateral do tumor para os ramos biliares secundários

  • Extensão unilateral do tumor para os ramos biliares secundários com encarceramento ou oclusão contralateral de ramo da veia porta

  • Metástase histologicamente comprovada para linfonodos regionais

  • Metástase no pulmão, fígado ou peritônio.

Transplante de fígado

  • Os resultados são mistos para o transplante de fígado, mas ele pode ser sustentado em grupos altamente selecionados de pacientes com doença irressecável:

    • Pacientes com doença avançada localmente (tipicamente hilar), envolvendo os grandes vasos circundantes (veia porta, artéria hepática) e extensão para os ramos biliares secundários

    • Pacientes com inflamação biliar subjacente (por exemplo, colangite esclerosante primária) ou disfunção hepática impedindo cirurgia.[7][74][75][76]

  • O comprometimento de linfonodo regional e a presença de metástase à distância descartam o paciente do transplante de fígado.

  • A maioria dos centros de grande volume que realiza esse procedimento usa quimioterapia ou quimiorradioterapia neoadjuvantes, considerando que isso limitará a recorrência de metástase e disseminação linfática.[77]

Quimioterapia ± imunoterapia ± radioterapia

  • Cada paciente é considerado individualmente, mas aos pacientes que não são candidatos a transplante geralmente é oferecida quimioterapia com gencitabina associada a um composto de platina, isoladamente ou em combinação com radioterapia.[7]​​[63][64]​​​ Após a evolução com quimioterapia com gencitabina e platina, a combinação de FOLFOX (ácido folínico, fluoruracila e oxaliplatina) pode ser uma terapia de segunda linha adequada.[7][34][53][78]​​​​​ No entanto, em decorrência da taxa de resposta limitada nesse tumor, o tratamento pode ser descontinuado se a progressão da doença for confirmada por exames de imagem. Vários tumores que apresentam redução do estádio podem ser considerados ressecáveis após a quimiorradioterapia.[79]

  • Em pacientes com colangiocarcinoma irressecável, o tratamento transarterial baseado em quimioterapia pode oferecer um benefício de sobrevida de 2-7 meses em comparação com a terapia sistêmica.[80]

  • As diretrizes da NCCN recomendam que o durvalumabe ou o pembrolizumabe, em combinação com gencitabina e cisplatina, devem ser considerados para o tratamento primário dos pacientes com câncer do trato biliar irressecável e metastático.[34][53][56][81]​​​​​

  • O National Institute for Health and Care Excellence (NICE) no Reino Unido recomenda o durvalumabe em combinação com gencitabina e cisplatina como uma opção para o tratamento de pacientes com câncer do trato biliar irressecável, localmente avançado ou metastático.[82]

  • A quimioterapia pode ser combinada com quimiorradiação.[34][53]​​​​​

  • O sequenciamento de próxima geração deve ser considerado para tentar identificar alterações genéticas específicas relevantes no paciente, para orientar adicionalmente as opções de tratamento de segunda linha.[7]

  • Deve-se considerar a inclusão dos pacientes em ensaios clínicos.[34][53]​​​

Terapia paliativa

  • A opção alternativa para tumores irressecáveis é o cuidado paliativo. Os objetivos da paliação são a resolução dos sintomas e a melhora da qualidade de vida. A obstrução biliar é a complicação mais comum quando um tumor é irressecável ou um paciente não é adequado para a cirurgia. As opções para aliviar a obstrução biliar incluem derivação cirúrgica, colocação endoscópica de endoprótese biliar e drenagem biliar percutânea. A derivação biliar cirúrgica está associada com maior morbidade e mortalidade.

  • Terapia locorregional ou opções terapêuticas direcionadas ao fígado (amplamente categorizadas em ablação, terapias direcionadas arterialmente e radioterapia) podem ser consideradas para o colangiocarcinoma intra-hepático irressecável, localmente avançado e limitado ao fígado.[7][34][53]

  • As opções de ablação incluem crioablação, terapia fotodinâmica, ablação por radiofrequência, ablação por micro-ondas e eletroporação irreversível.[34][53]

  • As terapias arterialmente direcionadas incluem a embolização transarterial, a quimioembolização transarterial, a quimioembolização transarterial com esferas farmacológicas e o ítrio 90.[34][53] Os pacientes com doença extra-hepática limitada (linfonodo hilar ≤3 cm ou ≤5 nódulos pulmonares cada um ≤1 cm) podem ser considerados para terapia arterialmente direcionada em combinação com a terapia sistêmica.[34][53]

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