Etiologia

Anafilaxia imunomediada é causada por exposição ao alérgeno em indivíduos pré-sensibilizados. Alérgenos comuns incluem medicamentos, alimentos e picadas de insetos, mas o exercício com ou sem presença de um alérgeno também pode ser um fator desencadeante. Às vezes, um cofator (como anti-inflamatórios não esteroidais [AINEs], bebidas alcoólicas, outros alimentos) pode ser necessário para provocar anafilaxia induzida por exercício e dependente de alimentos.[22]

Cerca de um terço a metade das reações são desencadeadas por alimentos. A ingestão de aerossóis alimentares (por exemplo, partículas de amendoim produzidas durante o processamento, proteínas transportadas pelo ar associadas à preparação de mariscos ou ovo em pó usado em padarias) e o manuseio dos alimentos responsáveis (por exemplo, amendoim, nozes, ovo, leite e peixe) podem desencadear reações graves.[23]​ A anafilaxia induzida por exercícios, dependente de alimento ocorre quando um paciente se exercita dentro de 2 a 4 horas após a ingestão de um alimento específico (por exemplo, trigo, aipo, marisco, embora possivelmente após a ingestão de qualquer alimento).[17]

Embora a sensibilização às proteínas alimentares seja a forma mais comum de alergia alimentar tanto de origem vegetal como animal, foi descrita a sensibilização aos epítopos de carboidratos que causam uma reação alérgica à carne de mamíferos. Esta forma de alergia alimentar envolve sensibilização ao epítopo de carboidratos de galactose-alfa-1,3-galactose (alfa-gal). A alfa-gal é uma porção de carboidrato que está presente nas células e tecidos de todos os mamíferos, exceto os primatas de ordem superior (incluindo seres humanos). Picadas de carrapato podem levar à sensibilização de humanos ao alfa-gal, e a ingestão subsequente de carne (por exemplo, carne bovina, suína, cordeiro) leva a uma reação alérgica tardia. A reação ocorre tipicamente 3 a 6 horas após a ingestão. Foi relatada reatividade cruzada com cetuximabe (alfa-gal está presente na porção Fab da cadeia pesada do cetuximabe).[24]

Picadas de insetos virtualmente onipresentes, como Hymenoptera (vespas e abelhas), são comuns no mundo todo, enquanto picadas de formiga e aranha limitam-se à sua prevalência geográfica.[25]

Reações anafiláticas induzidas por medicamentos ocorrem em ambientes hospitalares e na comunidade. Para adultos, os antibióticos, especialmente a penicilina, e os AINEs são causas comuns de anafilaxia relacionada à medicação.[18][19][20]

O risco de anafilaxia após administração de vacina é baixo. Uma revisão do Vaccine Safety Datalink estimou o risco de anafilaxia após vacinação como sendo 1.31 por milhão de doses.[21]

A anafilaxia durante a anestesia em adultos é mais frequentemente devida a reações a agentes bloqueadores neuromusculares, mas também pode ser devida a reações a anestésicos intravenosos, analgésicos opioides, AINEs, anestésicos locais, coloides, antibióticos e látex.[26][27] Em crianças, reações anafiláticas durante anestesia geralmente se devem ao látex, o que torna um ambiente sem látex crucial.[28]

Casos de anafilaxia ao líquido seminal humano são raros; a maioria são reações alérgicas mediadas por imunoglobulina E (IgE) às proteínas plasmáticas. Testes cutâneos utilizando líquido seminal do parceiro masculino e dessensibilização foram descritos.

Fisiopatologia

Os sintomas clínicos derivam de mediadores pró-inflamatórios e vasoativos, e das citocinas liberadas pela degranulação maciça ou liberadas de basófilos e mastócitos. Classicamente, essa cascata é iniciada por uma reação de hipersensibilidade mediada por imunoglobulina E (IgE).

Alérgenos são introduzidos no corpo por diversas vias: ingestão, inalação, parenteral ou por contato com a pele. Na primeira exposição, uma pessoa suscetível cria anticorpos IgE específicos ao antígeno apresentado. Os anticorpos IgE se ligam aos receptores Fc de alta afinidade nos basófilos e mastócitos.

Na exposição seguinte, a ligação do antígeno com os anticorpos IgE leva à conexão e desencadeia a degranulação dos mastócitos. A histamina, a prostaglandina D2, os leucotrienos, o fator de ativação plaquetária, a triptase, o óxido nítrico e os fatores quimiotáticos para eosinófilos e neutrófilos têm diferentes efeitos nos órgãos-alvo e levam às manifestações clínicas da anafilaxia. Tais manifestações incluem maior permeabilidade vascular, vasodilatação e disfunção miocárdica, levando à hipotensão e ao colapso cardiovascular, já que até 50% do volume intravascular pode mudar para o compartimento extravascular em minutos. A alteração do tônus muscular liso causa broncoespasmo e asma no trato respiratório, e também pode levar a cólicas uterinas. A ativação do sistema nervoso autônomo causa taquicardia, ansiedade e hipersecreção de muco. O aumento da agregação plaquetária e o posterior recrutamento de mais células imunológicas completam o quadro da resposta inflamatória sistêmica.

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) também podem desencadear a ativação celular alterando o metabolismo do ácido araquidônico. A ativação do complemento, os peptídeos do complemento (anafilatoxinas), como C3a e C5a, e sua ação direta nos mastócitos e basófilos podem causar a liberação do mediador, produzindo sintomas indiferenciáveis da reação clássica mediada pela IgE.[29]

Classificação

Classificação de anafilaxia de acordo com o mecanismo causador[1]

reações imunológicas mediadas por IgE

  • alimentos

  • alérgenos presentes no ar

  • látex

  • veneno

  • medicamento

  • alfa-gal

  • anafilaxia induzida por exercício, dependente de alimentos

  • hormônios

  • líquido seminal

  • meio de radiocontraste

reações imunológicas não mediadas por IgE

  • agregado imune

  • imunoglobulina intravenosa

  • medicamento

  • meio de radiocontraste

Reações não imunológicas

  • opiáceos

  • fatores físicos (por exemplo, exercício, frio, calor)

Idiopática

  • aumento da sensibilidade/degranulação dos mastócitos

  • alérgenos irreconhecíveis

Mascaradores

  • estridor de Munchausen

  • disfunção das pregas vocais

Classificação do Allergic Diseases Resource Center[2]

O Allergic Diseases Resource Center faz distinção entre:

  1. Anafilaxia: reações imunológicas, sobretudo mediadas por IgE

  2. Anafilaxia não alérgica: clinicamente idêntica à anafilaxia; contudo, não é mediada imunologicamente.

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