Etiologia

O desenvolvimento do TEA é influenciado por diversos fatores genéticos e não genéticos que interagem entre si ao longo do tempo e causam desfechos heterogêneos entre os indivíduos.[39] Sabe-se que existem fortes influências genéticas no desenvolvimento do TEA; vários estudos estimam que a hereditariedade seja entre 50% e 80%.[40][41][42][43][44] Entretanto, é importante entender que a maioria das pessoas com TEA não tem nenhum parente com TEA. As taxas de recorrência entre irmãos são em torno de 20%.[45][46] Estudos com gêmeos também indicam a importância do ambiente compartilhado e de outros fatores genéticos não herdáveis.[47] O TEA é geneticamente heterogêneo, e a identificação de genes de suscetibilidade é agravada ainda mais pelo fato de que os indivíduos com TEA também apresentam heterogeneidade fenotípica. Uma minoria de pessoas com TEA (aproximadamente 10%) apresenta anomalias cromossômicas detectáveis citogeneticamente e síndromes genéticas reconhecidas, como síndrome do cromossomo X frágil, neurofibromatose do tipo 1, esclerose tuberosa e síndrome de Down. De forma similar, em uma minoria significativa (aproximadamente 10% a 30%), a variação no número de cópias (VNC) também foi observada a um nível submicroscópico.[48][49] Esses estudos de VNC têm encontrado principalmente variantes "raras", em geral definidas como aquelas que ocorrem em menos de 1% da população.[48] Mais recentemente, diversos estudos de sequenciamento de exomas e de genomas completos foram realizados e identificaram uma carga maior de variantes genéticas "de novo" não sinônimas entre probandos de TEA em comparação com irmãos como controle.[50][51][52] Variantes de nucleotídeo único também estão associadas ao TEA.[53] No geral, na prática, uma causa genética conhecida é identificada apenas em uma minoria (cerca de 20%-25%) das pessoas com TEA.[54] Embora o TEA possa ser hereditário, outros membros da família podem ter dificuldades relativamente leves relacionadas ao TEA nos domínios social, de comunicação e de comportamentos repetitivos, denominadas como o fenótipo mais amplo de autismo.[45][55][56][57][58]

Fatores de saúde maternos podem desempenhar um papel no desenvolvimento do TEA, embora, em geral, as evidências sejam ambíguas, sendo necessárias mais pesquisas em uma escala maior. Estudos indicam um forte aumento da probabilidade de TEA nos filhos de mães que tomam valproato de sódio durante a gestação, o que, dada a força da associação e a plausibilidade biológica, é considerado uma provável causa.[59][60][61]

Fisiopatologia

O TEA é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, de base cerebral, que perdura por toda a vida, com respaldo em sua associação com alterações do desenvolvimento e, em algumas crianças, prejuízo em habilidades cognitivas (deficiência intelectual), epilepsia e macrocefalia.

Modificações no desenvolvimento cerebral têm sido identificadas ainda bem no início da vida em crianças com TEA e continuam ao longo do tempo, resultando na reorganização das redes neurais que estão por trás da cognição e do comportamento.[39] Estudos sobre crianças com maior probabilidade de TEA em decorrência de história familiar (que posteriormente receberam um diagnóstico de TEA) mostram um desenvolvimento cerebral atípico aos 6 meses de idade, afetando sobretudo as conexões envolvidas no processamento sensorial em níveis inferiores.[62][63][64][65] Presume-se que essas alterações possam ter começado durante o período pré-natal e que possam representar ausência de eliminação de sinapses ("poda sináptica") ou de apoptoses adequadas.[62] Entre os 6 e os 12 meses de idade, as crianças com TEA podem apresentar expansão da área de superfície cortical, seguida de supercrescimento exagerado global entre os 12 e os 24 meses de idade, em comparação com seus pares não afetados.[65][66] O volume cerebral permanece, em média, maior em comparação com os pares até os 4 anos de idade; particularmente, a amígdala, o córtex frontal e o córtex temporal. No entanto, à idade escolar, o crescimento cerebral diminui de velocidade na maioria das crianças com TEA e, por volta dos 10 a 15 anos, o volume cerebral se torna semelhante ao de crianças sem TEA.[67][68]

Em paralelo com a evolução dos modelos neuroanatômicos, já foram descritas três teorias neurocognitivas para o TEA:[69][70][71]

  • Função executiva (dificuldades com resolução de problemas e planejamento futuro para alcançar uma meta)

  • Prejuízo da coerência central (dificuldade em integrar informações em um todo significativo)

  • A hipótese da teoria da mente (dificuldades de considerar como outras pessoas podem pensar e reagir a uma determinada situação).

Classificação

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5ª edição, revisão de texto (DSM-5-TR)[1]

A maioria dos diagnósticos é estabelecida com base nos critérios do DSM-5-TR. Consulte Critérios.

O médico deve especificar se o paciente tem TEA:

  • Com ou sem comprometimento intelectual associado

  • Com ou sem distúrbio de linguagem associado

  • Associado com uma condição genética ou afecção clínica, ou com fatores ambientais

  • Associado a um problema de neurodesenvolvimento, mental ou comportamental

  • Com catatonia.

Observe que o autismo, a síndrome de Asperger e o transtorno global não especificado do desenvolvimento não são mais diferenciados; todas as crianças e adultos com novos diagnósticos agora são diagnosticados com TEA.

Classificação Internacional de Doenças, 11ª edição (CID-11) da Organização Mundial da Saúde[2]

O médico deve especificar se o paciente tem TEA:

  • Com ou sem transtorno do desenvolvimento intelectual

  • Com comprometimento da linguagem funcional leve ou ausente

  • Com linguagem funcional comprometida (ou seja, incapaz de usar mais do que palavras ou frases simples)

  • Com ausência de linguagem funcional completa ou quase completa

  • Com ou sem perda de habilidades previamente adquiridas.

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