O tratamento é orientado pelo tipo e pela gravidade do comprometimento, com o objetivo de prevenir dano em longo prazo.[23]Fresko I, Yazici H. Treatment strategies for Behcet's disease. Expert Opin Pharmacother. 2008 Dec;9(18):3211-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19040341?tool=bestpractice.com
A maioria das novas manifestações ocorre dentro dos primeiros 5 anos após o início dos sintomas e, para a maior parte dos pacientes, a evolução natural é de diminuição dos sintomas, culminando na remissão.
A manifestação mais grave que ocorre no paciente deve determinar as escolhas de tratamento, independentemente do fato de manifestações menos graves também estarem presentes.
Úlceras mucocutâneas
Para sintomas leves, o tratamento tópico com um corticosteroide (ou seja, pomada oral de triancinolona) conforme necessário geralmente é suficiente.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Lesões resistentes a medidas locais podem requerer um tratamento sistêmico com colchicina, um corticosteroide oral ou outros agentes imunossupressores (por exemplo, azatioprina, hidroxicloroquina, talidomida). O acompanhamento dos participantes em um ensaio clínico controlado por placebo confirmou que a colchicina não reduziu a necessidade de medicamentos imunossupressores subsequentes.[24]Hamuryudan V, Hatemi G, Tascilar K, et al. Colchicine in Behcet syndrome: a longterm survey of patients in a controlled trial. J Rheumatol. 2014 Apr;41(4):735-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24532830?tool=bestpractice.com
O apremilaste pode ser usado antes ou depois de experimentar colchicina. Em um ensaio clínico de fase 3 com duração de 12 semanas, realizados com pacientes com síndrome de Behçet, o apremilaste melhorou consideravelmente as medições da qualidade de vida relacionada com a doença e reduziu o número de úlceras orais, comparado com placebo.[25]Hatemi G, Mahr A, Ishigatsubo Y, et al. Trial of apremilast for oral ulcers in Behçet's syndrome. N Engl J Med. 2019 Nov 14;381(20):1918-28.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1816594
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31722152?tool=bestpractice.com
Os eventos adversos associados ao apremilaste incluíram diarreia, náuseas e cefaleia.[25]Hatemi G, Mahr A, Ishigatsubo Y, et al. Trial of apremilast for oral ulcers in Behçet's syndrome. N Engl J Med. 2019 Nov 14;381(20):1918-28.
https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1816594
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31722152?tool=bestpractice.com
Um inibidor de fator de necrose tumoral (TNF) alfa (por exemplo, infliximabe, adalimumabe, etanercepte) também pode ser usado na síndrome de Behçet leve resistente a corticosteroides e imunossupressores orais.
Comprometimento ocular
O envolvimento ocular pode exigir um tratamento precoce e agressivo com ciclos curtos de corticosteroides associados ao tratamento em prazo mais longo com um imunossupressor.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
O corticosteroide pode ser gradualmente reduzido em muitos pacientes após o controle da doença ativa, enquanto os imunossupressores geralmente são mantidos por pelo menos 1-2 anos.
Os pacientes com uveíte devem ser diagnosticados e tratados por um oftalmologista. Esses pacientes necessitam de um tratamento agressivo e precoce com imunossupressores. A azatioprina associada a um corticosteroide é um esquema terapêutico comumente usado.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Um inibidor de TNF-alfa (por exemplo, infliximabe ou adalimumabe) ou ciclosporina também podem ser usados, associados a corticosteroides sistêmicos e azatioprina, para controlar a atividade da doença.[26]Atienza-Mateo B, Martín-Varillas JL, Calvo-Río V, et al. Comparative study of infliximab versus adalimumab in refractory uveitis due to Behçet's disease: national multicenter study of 177 cases. Arthritis Rheumatol. 2019 Dec;71(12):2081-9.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/art.41026
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31237427?tool=bestpractice.com
Os corticosteroides nunca devem ser usados isoladamente, mas devem sempre ser administrados com um imunossupressor sistêmico.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Envolvimento gastrointestinal
O comprometimento gastrointestinal deve ser diagnosticado corretamente para evitar o uso desnecessário de agentes imunossupressores.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
O tratamento é feito com um corticosteroide associado a um imunossupressor (por exemplo, azatioprina) isolado ou associado a infliximabe.
Comprometimento do sistema nervoso central
O comprometimento do sistema nervoso central (SNC), em particular doença parenquimatosa, requer a terapia mais intensiva. Há diferenças na abordagem de tratamento para cada tipo de comprometimento do SNC; no entanto, as recomendações baseiam-se em estudos observacionais não controlados.
Doença parenquimatosa
O tratamento da doença parenquimatosa aguda inclui corticosteroides em altas doses, que são retirados gradualmente e administrados em combinação com um agente imunossupressor (por exemplo, azatioprina ou ciclofosfamida).
Um inibidor de TNF-alfa (por exemplo, infliximabe) é uma alternativa ou um agente de primeira linha adicional em pacientes com comprometimento grave, doença refratária apesar do tratamento padrão ou doença parenquimatosa crônica progressiva.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Essa recomendação baseia-se nos resultados de estudos não controlados que sugerem um benefício do tratamento com inibidor de TNF-alfa; em combinação com outros imunossupressores, ou como monoterapia, após o tratamento mal sucedido com agentes padrão.[27]Giardina A, Ferrante A, Ciccia F, et al. One year study of efficacy and safety of infliximab in the treatment of patients with ocular and neurological Behçet's disease refractory to standard immunosuppressive drugs. Rheumatol Int. 2011 Jan;31(1):33-7.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19859715?tool=bestpractice.com
[28]Zeydan B, Uygunoglu U, Saip S, et al. Infliximab is a plausible alternative for neurologic complications of Behçet disease. Neurol Neuroimmunol Neuroinflamm. 2016 Jul 8;3(5):e258.
https://nn.neurology.org/content/3/5/e258.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27458602?tool=bestpractice.com
[29]Vallet H, Riviere S, Sanna A, et al. Efficacy of anti-TNF alpha in severe and/or refractory Behçet's disease: multicenter study of 124 patients. J Autoimmun. 2015 Aug;62:67-74.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26162757?tool=bestpractice.com
Trombose venosa cerebral aguda
O tratamento da trombose venosa cerebral na síndrome de Behçet é feito com corticosteroide em altas doses, para a rápida remissão.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Outro imunossupressor, como azatioprina, pode ser acrescentado, se necessário. Um esquema curto de anticoagulação pode ser considerado, pois o risco de sangramento é baixo e a doença vascular em outros lugares é descartada. No entanto, a anticoagulação não faz parte da abordagem de tratamento padrão.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
[30]Emmi G, Bettiol A, Silvestri E, et al. Vascular Behçet's syndrome: an update. Intern Emerg Med. 2019 Aug;14(5):645-52.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30499073?tool=bestpractice.com
A ciclosporina deve ser evitada em pacientes com comprometimento do sistema nervoso, mesmo que esse envolvimento não esteja mais ativo.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Comprometimento vascular maior
Trombose venosa sistêmica
Eventos trombóticos venosos são manejados na síndrome de Behçet por meio do controle da inflamação sistêmica com corticosteroides associados a outros imunossupressores, como azatioprina, ciclofosfamida ou ciclosporina.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
A ciclofosfamida pode ficar reservada a pacientes com trombose extensa de veias maiores, como a veia cava, devido aos seus potenciais eventos adversos.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Os anticoagulantes também podem ser usados em alguns pacientes, pois o risco de sangramento em geral é baixo e os aneurismas de artéria pulmonar coexistentes são descartados. No entanto, a anticoagulação não faz parte da abordagem de tratamento padrão.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Inibidores de TNF-alfa associados a corticosteroides podem ser considerados para pacientes com trombose venosa refratária.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Um estudo retrospectivo com 70 pacientes com trombose venosa associada à síndrome de Behçet relatou que os tratamentos baseados em adalimumabe foram mais eficazes que azatioprina, ciclosporina, ciclofosfamida e metotrexato por induzir a rápida resolução da trombose venosa.[31]Emmi G, Vitale A, Silvestri E, et al. Adalimumab-based treatment versus disease-modifying antirheumatic drugs for venous thrombosis in Behçet's syndrome: a retrospective study of seventy patients with vascular involvement. Arthritis Rheumatol. 2018 Sep;70(9):1500-7.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/art.40531
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29676522?tool=bestpractice.com
Comprometimento arterial
Aneurismas de artéria pulmonar e tromboses são tratados com corticosteroide em altas doses e ciclofosfamida. A embolização de aneurismas de artéria pulmonar pode ser necessária se houver alto risco de sangramento importante. A cirurgia por via aberta só deve ser considerada em situações que representam risco de vida.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com
Aneurismas arteriais periféricos são tratados com corticosteroides e ciclofosfamida. Na maioria dos casos, cirurgia ou colocação de stent também são necessários. No entanto aneurismas arteriais pequenos podem ser tratados com sucesso com a terapia medicamentosa isolada.[19]Hatemi G, Christensen R, Bang D, et al. 2018 update of the EULAR recommendations for the management of Behçet's syndrome. Ann Rheum Dis. 2018 Jun;77(6):808-18.
https://ard.bmj.com/content/77/6/808.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29625968?tool=bestpractice.com