No total, 92 países e territórios relataram transmissão presente ou prévia do vírus da Zika, incluindo a África, as Américas, o sudeste da Ásia, a região do Pacífico Ocidental e um país da Europa (França) até maio de 2024.[18]World Health Organization. Zika epidemiology update - May 2024. Jun 2024 [internet publication].
https://www.who.int/publications/m/item/zika-epidemiology-update-may-2024
O vírus da Zika foi descoberto em 1947 na floresta de Zika, na Uganda, em macacos rhesus, mas não foi identificado em seres humanos até 1952, na Tanzânia.[19]Smithburn KC. Neutralizing antibodies against certain recently isolated viruses in the sera of human beings residing in East Africa. J Immunol. 1952 Aug;69(2):223-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14946416?tool=bestpractice.com
[20]Dick GW, Kitchen SF, Haddow AJ. Zika virus. I. Isolations and serological specificity. Trans R Soc Trop Med Hyg. 1952 Sep;46(5):509-20.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12995440?tool=bestpractice.com
Desde então, ocorreram surtos esporádicos na África, nas Américas, na Ásia e no Pacífico. No mundo inteiro, somente 14 casos haviam sido documentados em humanos até 2007.[21]Filipe AR, Martins CM, Rocha H. Laboratory infection with Zika virus after vaccination against yellow fever. Arch Gesamte Virusforsch. 1973;43(4):315-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/4799154?tool=bestpractice.com
O primeiro grande surto foi relatado na ilha de Yap (Estados Federados da Micronésia) em 2007.[22]Oehler E, Watrin L, Larre P, et al. Zika virus infection complicated by Guillain-Barre syndrome - case report, French Polynesia, December 2013. Euro Surveill. 2014 Mar 6;19(9):20720.
http://www.eurosurveillance.org/ViewArticle.aspx?ArticleId=20720
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24626205?tool=bestpractice.com
[23]Duffy MR, Chen TH, Hancock WT, et al. Zika virus outbreak on Yap Island, Federated States of Micronesia. N Engl J Med. 2009 Jun 11;360(24):2536-43.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0805715#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19516034?tool=bestpractice.com
A origem mais provável desse surto foi a introdução do vírus por viagem ou comércio envolvendo uma pessoa infectada ou um mosquito infectado.[1]Kindhauser MK, Allen T, Frank V, et al. Zika: the origin and spread of a mosquito-borne virus. Bull World Health Organ. 2016 Sep 1;94(9):675-86C.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5034643
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27708473?tool=bestpractice.com
Houve um outro grande surto nas Ilhas do Pacífico (Polinésia Francesa, Ilha de Páscoa, Ilhas Cook, Nova Caledônia) em 2013 e 2014. Esse foi o primeiro surto em que malformações congênitas (por exemplo, microcefalia) e complicações neurológicas, incluindo a síndrome de Guillain-Barré (SGB), foram associadas à infecção, embora essa associação tenha sido feita em retrospecto.[22]Oehler E, Watrin L, Larre P, et al. Zika virus infection complicated by Guillain-Barre syndrome - case report, French Polynesia, December 2013. Euro Surveill. 2014 Mar 6;19(9):20720.
http://www.eurosurveillance.org/ViewArticle.aspx?ArticleId=20720
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24626205?tool=bestpractice.com
[24]Cauchemez S, Besnard M, Bompard P, et al. Association between Zika virus and microcephaly in French Polynesia, 2013-15: a retrospective study. Lancet. 2016 May 21;387(10033):2125-32.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4909533
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26993883?tool=bestpractice.com
[25]Cao-Lormeau VM, Blake A, Mons S, et al. Guillain-Barré syndrome outbreak associated with Zika virus infection in French Polynesia: a case-control study. Lancet. 2016 Apr 9;387(10027):1531-9.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5444521
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26948433?tool=bestpractice.com
Em 2015 e 2016, houve um grande surto nas Américas, que desencadeou uma emergência de saúde pública. No pico do surto de 2016 foram notificados mais de 200,000 casos no Brasil - o foco do surto - e mais de 8000 bebês nasceram com malformações relacionadas à infecção pelo vírus da Zika. O pico ocorreu em 2016, caiu consideravelmente desde então e agora considera-se que o surto acabou.[26]World Health Organization. Zika: the continuing threat. Bull World Health Organ. 2019 Jan 1;97(1):6-7.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6307503
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30618459?tool=bestpractice.com
No entanto, a transmissão continua a ocorrer nas Américas, com mais de 36,000 casos relatados em 2022.[27]Pan American Health Organization. Epidemiological update dengue, chikungunya and zika. Jan 2023 [internet publication].
https://www.paho.org/en/documents/epidemiological-update-dengue-chikungunya-and-zika-25-january-2023
Nos EUA, foi constatada transmissão local limitada na Flórida e no Texas entre 2016 e 2017, mas nenhum caso foi relatado desde então. Apesar do surto ter terminado, a infecção pelo vírus da Zika é e continuará sendo um risco em muitos países das Américas e ao redor do mundo.
O surto de 2015 a 2016 nas Américas resultou em um aumento dos casos mundiais associados a viagens, inclusive no Reino Unido, Europa, EUA, Austrália, Nova Zelândia, Israel, Japão e China.[28]Gulland A. First case of Zika virus spread through sexual contact is detected in UK. BMJ. 2016 Dec 1;355:i6500.
http://www.bmj.com/content/355/bmj.i6500.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27908879?tool=bestpractice.com
[29]Craig AT, Butler MT, Pastore R, et al. Acute flaccid paralysis incidence and Zika virus surveillance, Pacific Islands. Bull World Health Organ. 2017 Jan 1;95(1):69-75.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5180343
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28053366?tool=bestpractice.com
[30]Zammarchi L, Tappe D, Fortuna C, et al. Zika virus infection in a traveller returning to Europe from Brazil, March 2015. Euro Surveill. 2015 Jun 11;20(23):21153.
http://www.eurosurveillance.org/ViewArticle.aspx?ArticleId=21153
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26084316?tool=bestpractice.com
[31]Public Health England. Zika virus (ZIKV): clinical and travel guidance. Dec 2023 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/collections/zika-virus-zikv-clinical-and-travel-guidance
[32]O’Dowd A. UK records four cases of Zika virus in past six weeks. BMJ. 2016 Feb 11;352:i875.
http://www.bmj.com/content/352/bmj.i875
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26868672?tool=bestpractice.com
[33]Bachiller-Luque P, Domínguez-Gil González M, Álvarez-Manzanares J, et al. First case of imported Zika virus infection in Spain. Enferm Infecc Microbiol Clin. 2016 Apr;34(4):243-6.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26994814?tool=bestpractice.com
[34]Meltzer E, Lustig Y, Leshem E, et al. Zika virus disease in traveler returning from Vietnam to Israel. Emerg Infect Dis. 2016 Aug;22(8):1521-2.
http://wwwnc.cdc.gov/eid/article/22/8/16-0480_article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27331627?tool=bestpractice.com
[35]Taira M, Ogawa T, Nishijima H, et al. The first isolation of Zika virus from a Japanese patient who returned to Japan from Fiji in 2016. Jpn J Infect Dis. 2017 Sep 25;70(5):586-9.
https://www.jstage.jst.go.jp/article/yoken/advpub/0/advpub_JJID.2017.042/_article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28367888?tool=bestpractice.com
Os casos relacionados a viagens estão diminuindo nos estados dos EUA desde 2017, com apenas 11 casos associados a viagens relatados entre 2020 e 2022.[36]Centers for Disease Control and Prevention. Zika virus: Zika cases in the United States. Nov 2024 [internet publication].
https://www.cdc.gov/zika/zika-cases-us/index.html
No Reino Unido, 4 casos associados a viagens foram relatados em 2018, uma redução significativa comparada com 283 casos relatados em 2016. Um caso de provável transmissão sexual foi relatado no Reino Unido em 2016.[37]Public Health England. Zika virus: epidemiology and cases diagnosed in the UK. Feb 2019 [internet publication].
https://www.gov.uk/government/publications/zika-virus-epidemiology-and-cases-diagnosed-in-the-uk/zika-virus-epidemiology-and-cases-diagnosed-in-the-uk
Nenhum caso relacionado a viagens foi relatado no Reino Unido desde 2018.
Embora a epidemia tenha diminuído, há relatos contínuos de surtos na Ásia, Índia (até o final de 2021) e África.[38]Musso D, Ko AI, Baud D. Zika virus infection - after the pandemic. N Engl J Med. 2019 Oct 10;381(15):1444-57.
https://www.doi.org/10.1056/NEJMra1808246
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31597021?tool=bestpractice.com
Nenhum caso de microcefalia ou SGB foi associado ao último surto na Índia ainda.[39]World Health Organization. Zika virus disease - India. 14 Oct 2021 [internet publication].
https://www.who.int/emergencies/disease-outbreak-news/item/zika-virus-disease-india
A transmissão autóctone foi notificada na França em outubro de 2019. É provável que esse seja o primeiro episódio de transmissão local por vetor detectada em uma região metropolitana na França e na Europa.[40]World Health Organization. Zika virus disease – France. Disease outbreak news. Nov 2019 [internet publication].
https://www.who.int/emergencies/disease-outbreak-news/item/2019-DON201
Uma associação entre a infecção pelo vírus da Zika e a microcefalia fetal, bem como outras malformações congênitas, foi relatada pela primeira vez durante o surto das Américas em outubro de 2015.[41]Kleber de Oliveira W, Cortez-Escalante J, De Oliveira WT, et al. Increase in reported prevalence of microcephaly in infants born to women living in areas with confirmed Zika virus transmission during the first trimester of pregnancy - Brazil, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016 Mar 11;65(9):242-7.
http://www.cdc.gov/mmwr/volumes/65/wr/mm6509e2.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26963593?tool=bestpractice.com
A prevalência de malformações congênitas possivelmente relacionadas com a infecção pelo vírus da Zika é tida como 3 para cada 1000 nascidos vivos em uma coorte de quase 1 milhão de nascimentos em 2016.[42]Delaney A, Mai C, Smoots A, et al. Population-based surveillance of birth defects potentially related to Zika virus infection - 15 states and U.S. territories, 2016. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2018 Jan 26;67(3):91-6.
https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/67/wr/mm6703a2.htm
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29370151?tool=bestpractice.com
Especificamente, a taxa de prevalência de microcefalia congênita foi de 3%, anormalidades do sistema nervoso central foi de 6% e calcificações intracranianas e ventriculomegalia foi de 1%.[43]Martins MM, Alves da Cunha AJL, Robaina JR, et al. Fetal, neonatal, and infant outcomes associated with maternal Zika virus infection during pregnancy: a systematic review and meta-analysis. PLoS One. 2021;16(2):e0246643.
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0246643
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33606729?tool=bestpractice.com
Dados do Zika Pregnancy and Infant Registry dos EUA (que inclui estados e territórios dos EUA) entre 2015 e 2018 revelaram que aproximadamente 5% dos bebês nascidos de mulheres com infecção provável ou confirmada tinham algum defeito cerebral ou ocular associado ao Zika. Cerca de 35% dos bebês com malformação congênita tinham mais de um defeito. A análise do subgrupo com infecção confirmada durante a gravidez revelou que aproximadamente 6% dos bebês tinham algum defeito cerebral ou ocular associado ao Zika. Entre as gestações com infecção confirmada, a frequência de qualquer malformação congênita associada ao Zika foi maior entre aquelas com infecções no primeiro (8%) e segundo (6%) trimestre em comparação com infecções no terceiro trimestre (3.8%).[44]Roth NM, Reynolds MR, Lewis EL, et al. Zika-associated birth defects reported in pregnancies with laboratory evidence of confirmed or possible Zika virus infection - US Zika Pregnancy and Infant Registry, December 1, 2015-March 31, 2018. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2022 Jan 21;71(3):73-9.
https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/71/wr/mm7103a1.htm?s_cid=mm7103a1_w
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35051132?tool=bestpractice.com
Uma associação entre a infecção pelo vírus da Zika e a SGB foi relatada pela primeira vez no surto das Américas em julho de 2015. Evidências sugerem que a incidência de SGB é de 24 casos por 100,000 pessoas infectadas com Zika.[45]Uncini A, Shahrizaila N, Kuwabara S. Zika virus infection and Guillain-Barré syndrome: a review focused on clinical and electrophysiological subtypes. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 2017 Mar;88(3):266-71.
https://jnnp.bmj.com/content/88/3/266.long
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27799296?tool=bestpractice.com
A recuperação é variável; alguns pacientes recuperam a saúde, enquanto outros apresentam incapacidade crônica.[46]Halani S, Tombindo PE, O'Reilly R, et al. Clinical manifestations and health outcomes associated with Zika virus infections in adults: a systematic review. PLoS Negl Trop Dis. 2021 Jul;15(7):e0009516.
https://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0009516
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34252102?tool=bestpractice.com
European Centre for Disease Prevention and Control: threats and outbreaks of Zika virus disease
Opens in new window