Pacientes com gamopatia monoclonal de significado indeterminado (MGUS) tipo imunoglobulina G (IgG) ou imunoglobulina A (IgA) podem evoluir para mieloma múltiplo, amiloidose de cadeia leve ou distúrbios plasmocíticos relacionados (como leucemia de plasmócitos e doença de depósito de cadeias leves). Pacientes com MGUS tipo imunoglobulina M (IgM) apresentam aumento do risco de evolução para macroglobulinemia de Waldenström, leucemia linfocítica crônica ou linfomas não Hodgkin. A MGUS tipo IgM muito raramente evolui para mieloma múltiplo. Alguns estudos menores relataram que a MGUS está associada a tumores sólidos e várias condições não malignas. No entanto, a literatura sobre esse tema é escassa.
Quase todos os casos de MGUS são diagnosticados incidentalmente. No entanto, assim que a MGUS é diagnosticada, os pacientes devem ser adequadamente advertidos de que esta é uma entidade pré-maligna com risco relativamente baixo de progressão. Pacientes que apresentam MGUS com proteínas monoclonais (M) <15 g/L (1.5 g/dL) e com proporção normal de cadeias leves livres no soro correspondem a aproximadamente 40% de todos os casos e têm, ao longo da vida, apenas 2% de probabilidade de desenvolvimento de mieloma múltiplo ou malignidades relacionadas.[29]Rajkumar SV, Kyle RA, Therneau TM, et al. Serum free light chain ratio is an independent risk factor for progression in monoclonal gammopathy of undetermined significance. Blood. 2005 Apr 26;106(3):812-7.
https://www.doi.org/10.1182/blood-2005-03-1038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15855274?tool=bestpractice.com
Embora não seja possível predizer individualmente para cada paciente se a MGUS subjacente permanecerá benigna ou se irá se transformar em mieloma múltiplo, do ponto de vista populacional, a importância da MGUS está bem caracterizada. Vários estudos determinaram o risco de transformação de MGUS ao longo do tempo e identificaram fatores de risco para tal transformação.[23]Kyle RA, Therneau TM, Rajkumar SV, et al. Long-term follow-up of IgM monoclonal gammopathy of undetermined significance. Blood. 2003 Nov 15;102(10):3759-64.
https://ashpublications.org/blood/article/102/10/3759/16960/Long-term-follow-up-of-IgM-monoclonal-gammopathy
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12881316?tool=bestpractice.com
[29]Rajkumar SV, Kyle RA, Therneau TM, et al. Serum free light chain ratio is an independent risk factor for progression in monoclonal gammopathy of undetermined significance. Blood. 2005 Apr 26;106(3):812-7.
https://www.doi.org/10.1182/blood-2005-03-1038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15855274?tool=bestpractice.com
[25]Kyle RA, Therneau TM, Rajkumar SV, et al. A long-term study of prognosis in monoclonal gammopathy of undetermined significance. N Engl J Med. 2002 Feb 21;346(8):564-9.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa01133202#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11856795?tool=bestpractice.com
[34]Cesana C, Klersy C, Barbarano L, et al. Prognostic factors for malignant transformation in monoclonal gammopathy of undetermined significance and smoldering multiple myeloma. J Clin Oncol. 2002 Mar 15;20(6):1625-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11896113?tool=bestpractice.com
Tarefas importantes para o futuro são o desenvolvimento de acompanhamento individualizado e abordagens intervencionistas para pacientes com MGUS.
Estratificação de risco
Não há marcadores nem achados clínicos no diagnóstico de MGUS que possam ser utilizados com segurança para distinguir os pacientes que permanecerão estáveis daqueles que irão progredir para uma doença maligna a uma taxa anual de cerca de 1%.[11]Landgren O, Gridley G, Turesson I, et al. Risk of monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS) and subsequent multiple myeloma among African American and white veterans in the United States. Blood. 2006 Feb 1;107(3):904-6.
https://ashpublications.org/blood/article/107/3/904/22154/Risk-of-monoclonal-gammopathy-of-undetermined
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16210333?tool=bestpractice.com
[25]Kyle RA, Therneau TM, Rajkumar SV, et al. A long-term study of prognosis in monoclonal gammopathy of undetermined significance. N Engl J Med. 2002 Feb 21;346(8):564-9.
http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa01133202#t=article
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11856795?tool=bestpractice.com
Em média, o risco de progressão de MGUS para mieloma múltiplo ou malignidades linfoproliferativas relacionadas é baixo quando a proteína M é <15 g/L (1.5 g/dL), plasmócitos da medula óssea são <5%, níveis de imunoglobulina policlonal não estão reduzidos e não há proteinúria de cadeia leve detectável.[30]Rosinol L, Cibeira MT, Montoto S, et al. Monoclonal gammopathy of undetermined significance: predictors of malignant transformation and recognition of an evolving type characterized by a progressive increase in M protein size. Mayo Clin Proc. 2007 Apr;82(4):428-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17418070?tool=bestpractice.com
[34]Cesana C, Klersy C, Barbarano L, et al. Prognostic factors for malignant transformation in monoclonal gammopathy of undetermined significance and smoldering multiple myeloma. J Clin Oncol. 2002 Mar 15;20(6):1625-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11896113?tool=bestpractice.com
Uma proporção anormal de cadeias leves livres kappa:lambda detectável no soro foi associada a um risco significativamente maior de progressão para mieloma múltiplo.[29]Rajkumar SV, Kyle RA, Therneau TM, et al. Serum free light chain ratio is an independent risk factor for progression in monoclonal gammopathy of undetermined significance. Blood. 2005 Apr 26;106(3):812-7.
https://www.doi.org/10.1182/blood-2005-03-1038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15855274?tool=bestpractice.com
A Mayo Clinic desenvolveu um modelo de estratificação de risco baseado em 3 fatores de risco adversos:[30]Rosinol L, Cibeira MT, Montoto S, et al. Monoclonal gammopathy of undetermined significance: predictors of malignant transformation and recognition of an evolving type characterized by a progressive increase in M protein size. Mayo Clin Proc. 2007 Apr;82(4):428-34.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17418070?tool=bestpractice.com
Nível de proteína M sérica >15 g/L (1.5 g/dL)
MGUS do tipo não imunoglobulina G (IgG)
Proporção anormal de cadeias leves livres no soro.
Com base nesse modelo, o risco médio de progressão de MGUS para mieloma múltiplo ou malignidades relacionadas durante um acompanhamento de 20 anos foi estimado da seguinte forma:[29]Rajkumar SV, Kyle RA, Therneau TM, et al. Serum free light chain ratio is an independent risk factor for progression in monoclonal gammopathy of undetermined significance. Blood. 2005 Apr 26;106(3):812-7.
https://www.doi.org/10.1182/blood-2005-03-1038
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15855274?tool=bestpractice.com
3 fatores de risco (MGUS de alto risco): 58%
2 fatores de risco (MGUS de risco alto a intermediário): 37%
1 fator de risco (MGUS de risco baixo a intermediário): 21%
0 fator de risco (MGUS de baixo risco): 5%.
Expectativa de vida
Um estudo realizado na Escandinávia mostrou que a expectativa de vida é reduzida entre pacientes com MGUS diagnosticados em um ambiente clínico.[26]Kristinsson SY, Björkholm M, Andersson TM, et al. Patterns of survival and causes of death following a diagnosis of monoclonal gammopathy of undetermined significance: a population-based study. Haematologica. 2009 Dec;94(12):1714-20.
https://haematologica.org/article/view/5437
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19608666?tool=bestpractice.com
O excesso de mortalidade entre pacientes com MGUS aumentou com um tempo maior de acompanhamento. A MGUS tipo IgM (versus IgG ou IgA) foi associada a uma sobrevida mais longa. Segundo achados de outros estudos, pacientes com MGUS apresentaram aumento do risco de morte por mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldenström e outras malignidades linfoproliferativas. Morte decorrente de outras doenças ou neoplasias hematológicas, infecções bacterianas, cardiopatia isquêmica e outros distúrbios cardíacos, distúrbios hepáticos e doenças renais também foram mais comuns em pacientes com MGUS que na população em geral. Embora os mecanismos subjacentes nesses padrões possam estar relacionados à causalidade da MGUS, também é provável que eles se devam ao processo da doença subjacente que levou à detecção da MGUS.
Marcadores de proteína monoclonal de soro e urina
Um estudo prospectivo de rastreamento do câncer com 77,469 adultos saudáveis constatou que as MGUS precederam consistentemente o diagnóstico de mieloma múltiplo (MM) entre 71 pessoas que desenvolveram MM durante o curso do estudo (conforme determinado pelos ensaios em série de amostras séricas pré-diagnóstico obtidas até 10 anos antes do diagnóstico de MM).[28]Landgren O, Kyle RA, Pfeiffer RM, et al. Monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS) consistently precedes multiple myeloma: a prospective study. Blood. 2009 May 28;113(22):5412-7.
https://ashpublications.org/blood/article/113/22/5412/107762/Monoclonal-gammopathy-of-undetermined-significance
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19179464?tool=bestpractice.com
A proporção de pacientes com uma razão kappa-lambda FLC anormal 2 anos antes do diagnóstico de MM foi 85%. Um aspecto importante é que, em cerca de metade da população do estudo, a concentração de proteína M e os níveis relacionados de proporção de cadeias leves livres aumentaram anualmente antes do diagnóstico de mieloma múltiplo, enquanto a outra metade manteve altamente estáveis os níveis anormais de proteínas séricas, até o diagnóstico de mieloma múltiplo. Portanto, níveis estáveis de proteína M ou de cadeias leves livres não descartaram o desenvolvimento de mieloma múltiplo.[28]Landgren O, Kyle RA, Pfeiffer RM, et al. Monoclonal gammopathy of undetermined significance (MGUS) consistently precedes multiple myeloma: a prospective study. Blood. 2009 May 28;113(22):5412-7.
https://ashpublications.org/blood/article/113/22/5412/107762/Monoclonal-gammopathy-of-undetermined-significance
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19179464?tool=bestpractice.com
No monitoramento de casos de MGUS, até que melhores marcadores moleculares de progressão para mieloma múltiplo estejam disponíveis, os médicos devem utilizar medidas clínicas em combinação com exames de sangue de rotina (inclusive função renal, hemoglobina e cálcio sérico) e marcadores de proteína M no soro e na urina.[31]van de Donk NW, Palumbo A, Johnsen HE, et al. The clinical relevance and management of monoclonal gammopathy of undetermined significance and related disorders: recommendations from the European Myeloma Network. Haematologica. 2014 Jun;99(6):984-96.
https://www.doi.org/10.3324/haematol.2013.100552
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24658815?tool=bestpractice.com
Novos biomarcadores, perfis moleculares e interações microambientais de interesse em gênese do mieloma estão sendo investigados para compreender melhor os mecanismos subjacentes da transformação de MGUS em mieloma múltiplo e para ajudar a encontrar tratamentos mais efetivos em cada estágio da doença.[35]Balakumaran A, Robey PG, Fedarko N, et al. Bone marrow microenvironment in myelomagenesis: its potential role in early diagnosis. Expert Rev Mol Diagn. 2010 May;10(4):465-80.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2945699
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20465501?tool=bestpractice.com
[36]Landgren O. Monoclonal gammopathy of undetermined significance and smoldering multiple myeloma: biological insights and early treatment strategies. Hematology Am Soc Hematol Educ Program. 2013;2013:478-87.
https://ashpublications.org/hematology/article/2013/1/478/20888/Monoclonal-gammopathy-of-undetermined-significance
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24319222?tool=bestpractice.com