Etiologia

Trichinella (filo: Nematode, classe: Adenophorea, família: Trichinellidae) é um parasita nematódeo que, embora seja capaz de infectar uma grande variedade de mamíferos, aves e répteis, causa doença apenas em humanos.[22] Os humanos adquirem o parasita de maneira acidental por meio da ingestão de carne malcozida ou crua de porco, cavalo ou outros animais domésticos ou selvagens. A transmissão da triquinelose para os humanos foi relatada principalmente em associação com o consumo de carne de mamíferos; no entanto, ocasionalmente, a doença tem sido adquirida pela ingestão de carne de répteis, tais como tartarugas e lagartos.[23] O aquecimento da carne até uma temperatura interna de 63 °C (144 °F) inativa as larvas. Não há risco de transmissão entre humanos.

O parasita existe em dois ciclos de vida: doméstico e silvático.

Ciclo doméstico

Existe em áreas onde são usadas práticas tradicionais de criação de suínos, como no leste europeu, América do Sul e Ásia.[24] A prevalência do ciclo doméstico, que se perpetua em suínos por meio do consumo de roedores, do hábito de morderem a cauda uns dos outros ou da ingestão de restos de alimentos malcozidos ou de carcaças, pode ter sido intensificada por dificuldades políticas e financeiras, que favorecem a proliferação de pequenas fazendas não regulamentadas, e pelo colapso dos serviços veterinários do governo em países em desenvolvimento.[3]

Como o ciclo doméstico não ocorre na suinocultura industrial, não há relatos nos EUA, no Canadá ou na Europa Ocidental.

Ciclo silvático

O ciclo silvático pode afetar mamíferos, aves e répteis, sendo perpetuado por hábitos de animais detritívoros ou canibais. Apesar da grande variedade de hospedeiros do ciclo silvático, determinados animais, como ursos, pumas, morsas e, particularmente, os suínos (porcos selvagens, javalis, potamóqueros e javalis africanos), representam um risco maior aos humanos, pois são comumente caçados e consumidos.[25]

Fisiopatologia

Após a ingestão da carne contaminada (ou seja, músculo) por humanos ou animais, a pepsina e o ácido clorídrico do estômago provocam a liberação das larvas no primeiro estágio, as quais invadem o epitélio colunar do intestino delgado. Em humanos, essa invasão pode ser completamente assintomática ou pode estar associada com diarreia leve e náuseas. Depois de realizar quatro mudas, as larvas se tornam adultas e se acasalam. Os vermes fêmeas produzem larvas neonatas, completando assim a fase entérica ou gastrointestinal do ciclo de vida do parasita.[26]

Na fase sistêmica (parenteral), as larvas neonatas passam para a circulação linfática e finalmente chegam ao sistema circulatório sanguíneo, atingindo os músculos esqueléticos e outros tecidos altamente oxigenados, como o miocárdio e o cérebro. As manifestações clínicas clássicas da triquinelose (mialgia, edema facial, febre e eosinofilia) ocorrem durante essa fase.

Todas as larvas são abrigadas em uma célula protetora, mas, dependendo da espécie, elas podem sofrer encistamento dentro de uma cápsula de colágeno ou permanecer livres no músculo. Embora os organismos encapsulados e não encapsulados possam permanecer viáveis durante anos, as larvas encapsuladas sobrevivem por um tempo substancialmente maior e permanecem infecciosas mesmo dentro de tecido muscular em putrefação.[27]

Suínos e roedores são os agentes mais importantes na manutenção do ciclo de infecção.[28][Figure caption and citation for the preceding image starts]: Ciclo de vida das espécies de TrichinellaExtraído de: Identificação laboratorial de parasitas de preocupação para a saúde pública, Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC); usado com permissão [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@4b037b44[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Larva da Trichinella spiralis em uma célula protetora no músculoExtraído de: Resumo da seção de ciência básica e informações clínicas (Summary of Basic Science and Clinical Info) do site The Trichinella Page (http://www.trichinella.org); usado com permissão do Dr. Dickson Despommier [Citation ends].com.bmj.content.model.Caption@447bdeb8

Classificação

Classificação taxonômica[1][2]

Antes, era conhecida apenas uma espécie (Trichinella spiralis) do gênero Trichinella, mas várias espécies foram adicionadas com base na variação de diversos loci genéticos. Atualmente, 12 táxons (incluindo espécies e genótipos ainda a serem definidos) são reconhecidos e subclassificados de acordo com a presença ou ausência de uma cápsula de colágeno intramuscular.

Espécies encapsuladas

  • Trichinella britovi: afeta mamíferos silváticos em áreas temperadas da África, Ásia e Europa

  • Trichinella murrelli: afeta carnívoros silváticos no Canadá e nos EUA

  • Trichinella nativa: afeta carnívoros silváticos em áreas do Ártico

  • Trichinella nelsoni: afeta carnívoros silváticos no leste e sul da África

  • Trichinella spiralis: afeta mamíferos domésticos e silváticos em todo o mundo

  • Trichinella genótipo T6: afeta carnívoros silváticos no Canadá e nos EUA

  • Trichinella genótipo T8*: afeta carnívoros silváticos no sul da África

  • Trichinella genótipo T9*: afeta carnívoros silváticos no Japão

  • Trichinella genótipo T12*: afeta pumas na Argentina.

* A transmissão não foi documentada em humanos.

Espécies não encapsuladas

  • Trichinella papuae: afeta porcos selvagens e crocodilos na Tailândia e Papua-Nova Guiné

  • Trichinella pseudospiralis: afeta animais silváticos em todo o mundo

  • Trichinella zimbabwensis*: afeta crocodilos e lagartos na África.

* A transmissão não foi documentada em humanos.

Classificação do ciclo[3]

A Trichinella ocorre em diferentes ciclos de vida, dependendo do tipo de animal parasitado.

  • Ciclo silvático: afeta animais selvagens

  • Ciclo doméstico: afeta animais domésticos, particularmente porcos

  • Ciclo sinantrópico: afeta animais que servem como ligação entre os ciclos silváticos e domésticos (por exemplo, ratos, raposas, mustelídeos, gatos e cães).

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