Abordagem

Os principais objetivos do tratamento são garantir o desenvolvimento das características sexuais secundárias e a indução do estirão de crescimento puberal.

A maioria dos pacientes tem retardo temporário da puberdade, especialmente meninos com retardo constitucional, e a melhor forma de observá-los é o monitoramento em série. Caso se identifique um distúrbio subjacente que cause o retardo puberal, como uma doença crônica, estresse, desnutrição ou excesso de exercícios, o mesmo deve ser tratado. Pacientes com um tumor na hipófise precisam de avaliação urgente e revisão neurocirúrgica. Indica-se cirurgia na maioria dos casos.

A terapia hormonal é reservada para pacientes com deficiência de gonadotropina confirmada (hipogonadismo hipogonadotrófico), para aqueles com uma anormalidade gonadal (por exemplo, síndrome de Turner e síndrome de Klinefelter) e para aqueles com retardo constitucional com atraso grave ou ajuste psicossocial anormal. Em geral, os pacientes com retardo constitucional precisam apenas de um ciclo breve para ativar a puberdade. Os pacientes com atraso orgânico necessitam de diagnóstico e tratamento precoces para atingir um desenvolvimento normal e a altura ideal, evitar problemas de ajustamento psicossocial com colegas e otimizar o potencial para fertilidade futura sempre que possível. Os pacientes devem ser tratados por um endocrinologista pediátrico com experiência no manejo da puberdade tardia.

Geralmente é difícil, após investigações na época do retardo, distinguir entre um retardo constitucional e a deficiência orgânica de gonadotrofina, pois as concentrações basais de gonadotrofina podem estar baixas nos dois grupos. Assim, não fica claro se um indivíduo evoluirá espontaneamente para a puberdade ou terá um problema permanente. No caso de alguns pacientes com retardo, presume-se que tenham deficiência orgânica de gonadotrofina, e eles são tratados com esteroides sexuais por toda a puberdade, mas são avaliados novamente após o fim do crescimento e da puberdade. Os pacientes com retardo constitucional revelarão concentrações normais de gonadotrofina no novo exame, mas os que apresentam deficiência orgânica de gonadotrofina continuarão a ter concentrações séricas de gonadotrofina baixas. A reavaliação após um período de tratamento para verificar a necessidade de reposição hormonal em longo prazo é, portanto, indicada naqueles pacientes com resultados ambíguos na pré-puberdade.

Retardo temporário

Retardo constitucional

  • Os pacientes precisam de monitoramento para avaliar a progressão dos sinais puberais e um aumento da velocidade de crescimento. O tratamento muitas vezes não é necessário.

  • Alguns meninos apresentam atraso grave ou anormalidades de ajustamento psicossocial. Esses pacientes podem se beneficiar de um ciclo curto (3 a 6 meses) de testosterona de depósito para induzir a puberdade. Os efeitos adversos associados ao tratamento com testosterona incluem eritrocitose, ganho de peso e hiperplasia da próstata.[1]​ Embora sejam raros, devem ser monitorados durante o tratamento. Uma vez ativada, a puberdade frequentemente evolui espontaneamente apesar da suspensão do tratamento.

  • Com frequência as meninas também não precisam de tratamento além de um monitoramento em série. No entanto, se necessário, naquelas com atraso grave ou problemas psicossociais, um ciclo curto (3 a 6 meses) de terapia com estradiol pode ser oferecido. Em seguida elas podem evoluir espontaneamente após a suspensão do tratamento.

Doenças crônicas, desnutrição, transtornos alimentares, excesso de exercícios, estresse

  • O tratamento da causa subjacente pode resolver o retardo da puberdade, com evolução puberal espontânea posterior. Em pacientes com retardo grave, é possível instituir tratamento com um ciclo curto de esteroides sexuais até a recuperação do desenvolvimento puberal espontâneo.

Retardo orgânico (permanente)

A indução puberal deve ser realizada da forma mais fisiológica possível, para permitir o desenvolvimento normal e o alcance do potencial de crescimento ideal. Pacientes que apresentarem uma causa orgânica (permanente) precisam de reposição vitalícia de esteroides sexuais. A indução da puberdade e a reposição hormonal ao longo da vida são quase certamente necessárias nos pacientes com deficiência congênita de gonadotropina (embora a “reversão” do fenótipo seja observada em aproximadamente 10% dos pacientes) e nos homens com anorquia.[53]

Os pacientes com deficiência adquirida de gonadotropina (após irradiação, cirurgia da hipófise, trauma ou sobrecarga de ferro); anormalidades gonadais congênitas, como criptorquidia (homens), síndrome de Klinefelter (homens), síndrome de Turner (mulheres) e outras formas de disgenesia gonadal (por exemplo, disgenesia gonadal de XY, disgenesia gonadal mista de 45X/46XY) e anormalidades gonadais adquiridas, como dano testicular após torção ou cirurgia, doenças autoimunes, quimioterapia ou infecções virais (por exemplo, caxumba em homens) também precisam de indução da puberdade e terapia de reposição hormonal vitalícia, dependendo da gravidade da doença. A realização de um novo exame ao final do crescimento e puberdade para verificar a necessidade de reposição hormonal em longo prazo pode ser indicada em alguns pacientes que tiverem apresentado resultados pré-puberais ambíguos.

Indução puberal

Homens

  • A indução da puberdade é realizada gradualmente, com uma dose inicial baixa de terapia intramuscular de testosterona que é aumentada até se atingirem os níveis adultos. Em geral, as doses são aumentadas gradualmente por cerca de 2 anos, a intervalos de 6 meses.

  • Os níveis séricos de testosterona atingidos por via intramuscular não são fisiológicos. Alguns meninos relatam sintomas como irritabilidade, agressividade e hipersexualidade nos dias seguintes à injeção.

  • Os níveis séricos totais de testosterona devem ser verificados 1 semana após a terapia, para avaliar se as doses são terapêuticas.

  • Os homens com síndrome de Klinefelter geralmente não requerem indução puberal e apenas requerem suplementação de testosterona se manifestarem sintomas de hipogonadismo, tiverem testosterona sérica normal baixa e gonadotrofinas elevadas.[54]

  • Os homens com hipogonadismo hipogonadotrófico permanente podem ter indução puberal com terapia com GnRH ou gonadotrofina, em vez de testosterona, para mimetizar a fisiologia e facilitar o desenvolvimento testicular e a produção de esperma.[55][56]​ As doses são aumentadas gradualmente para induzir a puberdade ao longo de 1 a 3 anos. A terapia combinada com hormônio folículo-estimulante recombinante (rFSH) e gonadotrofina coriônica humana (hCG) é mais comumente usada. Um monitoramento cuidadoso é necessário para direcionar as concentrações séricas fisiológicas de FSH e testosterona, e tais esquemas devem ser limitados a centros experientes.[56]

Mulheres

  • As mulheres requerem doses gradualmente crescentes de tratamento com estrogênio, com a terapia de progesterona cíclica introduzida quando tiver ocorrido uma estrogenização adequada (geralmente em 2-3 anos), ou se começarem a ocorrer sangramentos intermenstruais. A puberdade não deve ser induzida com pílulas nem adesivos contraceptivos, pois as doses de estrogênio são muito altas e os progestogênios androgênicos prejudicam o desenvolvimento ideal das mamas.

  • As preparações preferenciais são estradiol transdérmico ou oral na menor dose disponível. No entanto, estrogênio oral sintético também pode ser usado como alternativa. A administração transdérmica evita os efeitos de primeira passagem no fígado.[57]

  • Existem várias marcas de preparações transdérmicas e orais. A dose é aumentada gradualmente por cerca de 2 anos, a intervalos de 6 meses, até a dose adulta completa e/ou o desenvolvimento satisfatório das mamas.

  • A terapia de progesterona cíclica é introduzida na ocorrência da estrogenização adequada ou no início do sangramento uterino para induzir a menstruação.

  • As meninas com síndrome de Turner também podem precisar de tratamento com hormônio do crescimento e/ou oxandrolona para atingirem uma altura definitiva adequada.[58] Consultar Síndrome de Turner.

Tratamento contínuo

Homens

  • Os pacientes com hipogonadismo pós-puberdade confirmado precisam de suplementação com testosterona vitalícia. As opções incluem testosterona intramuscular, oral, tópica ou transdérmica. A irritação cutânea local é o principal efeito adverso da terapia tópica, e é mais frequente com os adesivos em comparação à preparação em gel. Não se deve tomar banho nem nadar por 4 horas após a aplicação. É possível considerar a testosterona intramuscular para alguns pacientes que não toleram essas preparações e têm irritação cutânea local grave.

  • Os homens com anorquidismo podem ser aconselhados para prótese testicular. Ela não restaura a fertilidade e é elaborada para fins estéticos e/ou preocupações psicológicas. O procedimento é realizado nos estágios finais da puberdade, quando o crescimento escrotal está otimizado, para que não seja necessária uma revisão.

Mulheres

  • Um tratamento estrogênico inadequado, ou a ausência deste tratamento, está associado a um aumento do risco de complicações em longo prazo, como osteoporose. Assim, todas as mulheres com hipogonadismo pós-puberdade confirmado precisam de terapia de reposição hormonal (TRH) vitalícia após a indução da puberdade. A TRH deve ser mantida até cerca de 50 anos de idade. O agente de escolha é o estradiol transdérmico junto com progesterona micronizada nos últimos 10 dias do ciclo menstrual, ou uma combinação de estradiol transdérmico e outras preparações de progesterona. É possível administrar estradiol oral como alternativa.

  • Meninas que não atingem desenvolvimento mamário adequado com tratamento estrogênico podem precisar de implantes mamários. O procedimento é oferecido por razões estéticas e psicológicas, e é realizado no final ou nos últimos estágios da puberdade.

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