Abordagem

O tratamento consiste em cuidados de suporte, com especial atenção à reidratação e à correção de desequilíbrios eletrolíticos.

A antibioticoterapia não demonstrou nenhum benefício claro, e deve ser evitada para os pacientes com infecções por Escherichia coli produtora de toxina Shiga (STEC) O157 e outras STEC que produzem toxina Shiga 2.[35]

Os pacientes devem aderir a práticas de higiene rigorosas enquanto infectados por E coli patogênica para evitar a disseminação a outras pessoas. Os pacientes hospitalizados devem ser isolados de outros pacientes e deve-se adotar precauções de isolamento de contato para evitar a disseminação.

A infecção por E coli êntero-hemorrágica (EHEC) é uma doença de notificação compulsória, e as autoridades de saúde locais ou estaduais devem ser informadas de todos os casos. A notificação ajuda a identificar a origem dos alimentos contaminados e a removê-la do mercado, para reduzir a disseminação adicional e deter um potencial surto.[31]

Pacientes em risco de desfecho desfavorável

O risco de doenças graves e mortalidade por desidratação é maior entre crianças pequenas (<5 anos) e idosos (>60 anos). Esses pacientes devem ser monitorados atentamente com um limiar mais baixo para internação hospitalar e fluidoterapia intravenosa para reidratação.

Crianças pequenas correm um risco maior de depleção de volume intravascular secundária a:[40]

  • Taxa de metabolismo mais alta

  • Relação de área de superfície-volume corporal mais alta

  • Dependência de terceiros para se alimentar.

A imunossupressão pode causar infecções prolongadas, por isso é importante monitorar atentamente os pacientes imunocomprometidos.

Reidratação

A maioria dos pacientes pode ser tratada com reidratação oral.[35][41] Fluidos contendo glicose são preferenciais, pois a glicose promove a absorção de sódio e, posteriormente, de água no lúmen intestinal. Cafeína e produtos lácteos podem piorar a diarreia e devem ser evitados.

A reidratação intravenosa é indicada em pacientes que são incapazes de tolerar a ingestão de fluidos por via oral, apresentam agravamento da depleção de volume apesar das tentativas de hidratação oral ou têm evidências de agravamento da sepse.

O atraso na ressuscitação fluídica é prejudicial e é o principal fator contribuinte associado à alta mortalidade em bebês e crianças desnutridos no mundo em desenvolvimento.[42]

Redução da disseminação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu diretrizes para evitar a disseminação de infecções.[43] Essas diretrizes incluem medidas simples para pessoas com doenças diarreicas:

  • Evitar preparar alimentos para terceiros

  • Lavar as mãos abundantemente

  • Usar toalhas separadas ou descartáveis

  • Usar instalações sanitárias separadas e/ou limpar abundantemente assentos, torneiras e maçanetas de portas após o uso

  • Isole pacientes hospitalizados e use estratégias de isolamento de contato de barreira

  • Descontaminação rigorosa ou descarte de vestimentas e/ou roupas de cama.

Modificação nos hábitos alimentares

Não há recomendações específicas para modificação nos hábitos alimentares.

No auge da doença, os pacientes devem consumir uma dieta leve contendo glicose e sódio para ajudar na reidratação. A cafeína e o leite devem ser evitados; a gastroenterite grave pode causar intolerância transitória à lactose.

As crianças pequenas devem ser alimentadas normalmente, embora a presença de intolerância à lactose associada à infecção possa exigir uma formulação sem lactose.[40]

Subsalicilato de bismuto

O subsalicilato de bismuto apresenta efeitos tópicos na mucosa, reduz secreções e liga-se às toxinas bacterianas. Ele pode reduzir a diarreia e pode ser considerado como tratamento adjuvante em todos os tipos de infecção.[44][45]

Geralmente, o salicilato de bismuto não é recomendado em crianças com <12 anos devido ao risco de síndrome de Reye; no entanto, alguns médicos o usam com cautela. Não é recomendado em crianças com <3 anos de idade e em gestantes.

Antibioticoterapia

Geralmente, as infecções diarreicas por E coli responderão à terapia de suporte. No entanto, para pacientes com infecção por E coli enterotoxigênica (ETEC) (a causa mais comum de diarreia do viajante), antibióticos podem ser oferecidos em casos graves para reduzir a duração dos sintomas, embora geralmente não sejam necessários.[8][32][46][47]

As opções de antibióticos incluem rifaximina, azitromicina, uma fluoroquinolona (por exemplo, ciprofloxacino ou ofloxacino) e rifamicina.[47]​ Em novembro de 2018, a European Medicines Agency (EMA) concluiu uma revisão dos efeitos adversos graves, incapacitantes e potencialmente irreversíveis associados aos antibióticos fluoroquinolonas sistêmicos e por via inalatória. Entre os efeitos adversos estão tendinite, ruptura de tendões, artralgia, neuropatias, e outros efeitos sobre os sistemas musculoesquelético ou nervoso. A EMA recomenda restringir o uso dos antibióticos da classe das fluoroquinolonas somente aos casos de infecção bacteriana grave e com risco à vida. Além disso, a EMA recomenda que as fluoroquinolonas não sejam usadas para as infecções leves a moderadas, a menos que outros antibióticos adequados à infecção específica não possam ser usados; e que também não sejam usadas para tratar infecções não graves, não bacterianas ou autolimitadas. Os pacientes mais idosos, que têm comprometimento renal, ou submetidos a transplantes de órgãos sólidos, e aqueles tratados com corticosteroides, têm maior risco de danos tendíneos.[48] Deve-se considerar o aumento da resistência contra fluoroquinolonas no Sudeste Asiático e outras regiões.

O uso de antibióticos para indivíduos com E coli O157:H7 é controverso. Estudos sugeriram que os antibióticos podem aumentar a incidência de síndrome hemolítico-urêmica.[49][50]​ As diretrizes da Infectious Diseases Society of America, portanto, não recomendam o uso de antibióticos para os pacientes com infecções por STEC O157 e outras STEC que produzem toxina Shiga 2.[35] Antibióticos para pacientes com outras infecções por STEC que não produzem toxina Shiga 2 são discutíveis devido a evidências insuficientes de benefícios e danos.[35]

Agentes antimotilidade

Embora os agentes antimotilidade (por exemplo, loperamida) forneçam alívio sintomático e encurtem a duração da diarreia, eles geralmente não devem ser usados na gastroenterite bacteriana, pois diminuem a eliminação bacteriana fecal e, subsequentemente, aumentam o risco de dilatação tóxica do cólon.[51]

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