Abordagem

A infecção por Escherichia coli de origem alimentar manifesta-se de maneira semelhante à maioria das infecções gastrointestinais. Portanto, a história detalhada é parte importante do diagnóstico, pois não há achados clínicos diagnósticos definitivos.

Coproculturas podem confirmar o diagnóstico. A sorotipagem é usada para identificar a cepa exata (por exemplo, E coli O157:H7). CDC: E. coli (Escherichia coli) – resources for clinicians and laboratories Opens in new window

História

O período de incubação da E coli varia de acordo com o agente etiológico; ele pode ser curto, de 6-48 horas para aa E coli (ETEC) ou de 1-10 dias (geralmente 3-4) para a E coli O157:H7.[33]

Os pacientes apresentam sintomas de gastroenterite, incluindo diarreia (sintoma principal), desconforto/dor abdominal, anorexia e náuseas; vômitos são incomuns. Sintomas sistêmicos, incluindo letargia ou febre, podem estar presentes.

A E coli êntero-hemorrágica (EHEC) e a E coli enterotoxigênica (ETEC) apresentam quadros clínicos mais específicos. A infecção por ETEC causa, comumente, diarreia aquosa profusa, enquanto a toxina similar à toxina Shiga na EHEC causa diarreia hemorrágica e dor abdominal.[31]

A história é importante para identificar os fatores de risco e o agente causador. Embora a história alimentar seja importante, ela dificilmente diferencia a infecção por E coli de outras causas de infecções transmitidas por alimentos. Uma história de consumo de carne moída (por exemplo, em hambúrgueres) é importante pelo fato de existir uma associação estreita entre carne moída e o subtipo O157:H7 de E coli.[14]

Uma metanálise constatou que a carne foi o alimento com risco mais significativo de adquirir infecção por E coli produtora de toxina Shiga na América do Norte e na Europa, enquanto o frango foi o alimento mais significativo no Pacífico Ocidental.[34]

O histórico de viagens recentes deve sempre ser investigado, visto que a E coli é a causa mais comum de diarreia do viajante. As diferenças na aquisição de determinados tipos parecem ser regionais.[34] A história de contato deve ser investigada em todos os pacientes.

É importante observar que crianças pequenas (<5 anos), idosos (>60 anos) e imunocomprometidos têm maior probabilidade de se deteriorarem clinicamente em consequência de uma infecção por E coli.

Exame físico

Não há características patognomônicas que diferenciem os pacientes com gastroenterite por E coli daqueles com outras enfermidades transmitidas por alimentos.[31] Febre e desconforto abdominal inespecífico são achados físicos comuns em pacientes com doenças diarreicas infecciosas. Os pacientes devem ser monitorados quanto a sinais de depleção de volume e potencial comprometimento hemodinâmico causado por um volume intravascular reduzido. As manifestações incluem membranas mucosas secas, turgor cutâneo reduzido e, em casos graves, taquicardia e hipotensão.

Exames laboratoriais

A maioria dos pacientes com gastroenterite aguda secundária à E coli não é submetida a testes de rotina laboratorial.

Frequentemente, apenas os pacientes com sinais e sintomas de doença moderada a grave precisam ser testados.[35][36]

Culturas de bactérias de fezes e sorotipagem para O157:H7

As culturas bacterianas das fezes devem ser enviadas de pacientes com sintomas semelhantes aos da gastroenterite que são persistentes ou são considerados moderados a graves por critérios clínicos. Os critérios incluem febre, desidratação ou presença de doenças subjacentes. As coproculturas são consideradas obrigatórias em casos de diarreia hemorrágica ou sinais de toxicidade sistêmica.

Normalmente, os resultados da cultura estão disponíveis após 2-4 dias. Amostras fecais devem ser enviadas nos primeiros 3 dias da internação hospitalar. Após esse prazo, o rendimento é significativamente reduzido. Geralmente a coprocultura bacteriana de rotina inclui cultura para Salmonella, Shigella, Campylobacter e E coli produtora de toxina Shiga. Geralmente as fezes também são testadas para toxina de Clostridium difficile sob as condições clínicas adequadas.

Coproculturas de rotina sempre serão positivas para E coli, que cresce facilmente em placas padrão e é uma microflora normal do intestino humano. Para identificar espécies patogênicas, como a E coli O157:H7, as fezes devem ser cultivadas em placas específicas, como placas com meio de ágar MacConkey-sorbitol. As culturas das amostras fecais devem ser realizadas simultaneamente para EHEC O157:H7 e testes para EHEC não O157:H7.[37]

A presença de EHEC pode ser confirmada por teste sorológico para identificar toxinas similares à toxina Shiga usando antissoro para tipagem, ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA), imunofluorescência, imunoquímica ou aglutinação em látex. Alternativamente, a reação em cadeia da polimerase pode identificar os genes que codificam essas toxinas.

É vital identificar a cepa específica, pois isso permite às autoridades públicas de saúde confirmar, investigar e controlar surtos de EHEC.

Exames de sangue

Pacientes que se apresentam na comunidade não são submetidos a exames de sangue rotineiramente. Em pacientes que se apresentem em ambientes hospitalares, devem ser realizados, no mínimo, hemograma completo e testes da função renal, incluindo eletrólitos. Hemoglobina, contagem plaquetária e função renal devem ser monitoradas para que se possa detectar evidências de síndrome hemolítico-urêmica, que está associada à infecção por E coli O157:H7.

As hemoculturas são necessárias apenas se houver suspeita de doença sistêmica (isto é, taquicardia, hipotensão, febre), para descartar bacteriemia.

Marcadores inflamatórios, como proteína C-reativa e velocidade de hemossedimentação (VHS), podem ser usados para monitorar a resposta inflamatória do paciente e como um sinal objetivo de melhora, embora não haja evidências da utilidade dessa estratégia.

Exames por imagem

A radiografia abdominal pode ser considerada em todo paciente que apresente sinais de toxicidade grave (ou seja, taquicardia, hipotensão, febre ≥38 °C [≥100.5°F]). Embora não sejam diagnósticas, as radiografias podem ajudar a avaliar a inflamação do cólon e descartar dilatação tóxica ou perfuração abdominal.

Em pacientes gravemente enfermos, a tomografia computadorizada abdominal pode ser realizada para descartar causas mais graves de sepse e diarreia (por exemplo, abscesso diverticular, perfuração intestinal).

Endoscopia

A endoscopia geralmente revela inflamação do cólon, mas não é diagnóstica. Em pacientes com culturas negativas ou diarreia persistente apesar do manejo conservador, uma consulta com o gastroenterologista para possível realização de colonoscopia é recomendada para descartar outras causas de diarreia (por exemplo, doença inflamatória intestinal, colite pseudomembranosa). Com frequência, a sigmoidoscopia é suficiente para visualizar a mucosa e obter biópsias teciduais.

Geralmente, a colonoscopia é evitada na colite moderada a grave devido ao aumento do risco de perfuração. A decisão de realizar uma colonoscopia deve ser tomada por um gastroenterologista.

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