Abordagem

A salmonelose não tifoide apresenta-se mais comumente como gastroenterite autolimitada. O diagnóstico é confirmado microbiologicamente com culturas ou pela detecção de ácido nucleico específico do patógeno.

Anamnese e exame físico

Uma história clínica e de exposição detalhada deve ser obtida em todos os pacientes que apresentam diarreia.[66]

Uma história de exposição por ingestão de um item potencialmente contaminado com Salmonella deve levar à suspeita do diagnóstico de salmonelose. Contudo, devido à ampla gama de alimentos responsabilizados, isso pode ser de utilidade um tanto limitada. Ainda assim, exposições alimentares em potencial devem ser averiguadas, uma vez que essa informação pode ter importantes implicações para a prevenção e a saúde pública.

Pacientes com gastroenterite causada por espécies não tifoides de Salmonella apresentam náuseas, vômitos e diarreia. Se algum alimento suspeito de contaminação for lembrado, o tempo entre a ingestão e os primeiros sintomas é geralmente de 6 a 48 horas. CDC: guide to confirming an etiology in foodborne disease outbreak Opens in new window Os pacientes também podem queixar-se de febre, dor abdominal, calafrios, cefaleia e mialgia.[67] O exame físico pode revelar febre, desconforto abdominal leve e ruídos hidroaéreos hiperativos. Os pacientes também podem ter sinais de depleção de volume, como membranas mucosas ressecadas, turgor cutâneo e sinais vitais ortostáticos diminuídos.

Não há sinais ou sintomas patognomônicos que possam distinguir a gastroenterite por Salmonella de outras causas bacterianas apenas com base na anamnese e no exame físico.

Estudos das fezes

O diagnóstico de infecção por Salmonella não tifoide é estabelecido isolando-se o microrganismo de amostras fecais frescas enviadas para cultura ou por detecção de ácido desoxirribonucleico (DNA) específico nas fezes.

As fezes coletadas pelo paciente são a amostra diagnóstica convencional. Culturas obtidas a partir de swabs retais são menos sensíveis e não são recomendadas (a menos que não possa ser obtida uma coprocultura).[44] A microscopia pode mostrar leucócitos e, ocasionalmente, a presença de eritrócitos.

As amostras fecais são semeadas diretamente em meios entéricos (por exemplo, ágar MacConkey) ou mais seletivos para Salmonella (por exemplo, ágar Hektoen). Meios de alta seletividade (por exemplo, selenito com verde brilhante) geralmente são reservados para portadores conhecidos ou durante investigações de surtos.[45] Muitos laboratórios usam incubação em um caldo de enriquecimento como selenito-F para aumentar a sensibilidade da coprocultura.

Quando realizar o exame de fezes

As diretrizes recomendam estudos diagnósticos se o paciente tiver:

  • doença moderada a grave e sintomas com duração superior a 7 dias[68]

  • diarreia acompanhada de febre, fezes com sangue ou muco, cólica ou sensibilidade abdominal grave ou sinais de sepse.[66]

O exame de fezes também deve ser realizado em pacientes sintomáticos com circunstâncias claramente identificadas nas quais há suspeita de infecção por Salmonella:[66]

  • surtos de origem alimentar em hotéis, navios de cruzeiro, resorts, restaurantes, instituições e eventos com fornecimento de alimentos

  • consumo de leite ou de produtos lácteos não pasteurizados

  • consumo de frutas ou sucos de frutas não pasteurizados; legumes, folhas verdes e brotos

  • consumo de ovos malcozidos

  • nadar em, ou beber, água doce não tratada

  • terapêutica antimicrobiana recente

  • viagem para países com poucos recursos

  • contato com aves jovens ou répteis

  • o paciente é um bebê (do nascimento até 3 meses de idade) ou um adulto >50 anos ou com história de aterosclerose

  • o paciente tem uma condição de imunocomprometimento subjacente

  • contato anal-genital, oral-anal ou digital-anal.

Reação em cadeia da polimerase multiplex

A Salmonella também pode ser diagnosticada nas fezes por meio de um exame diagnóstico independente de cultura (CIDT), em particular, painel de reação em cadeia da polimerase multiplex com primers para vários patógenos diarreicos comuns. Essa técnica é extremamente sensível e específica.[69][70]

Perfis de reação em cadeia da polimerase multiplex são cada vez mais utilizados para avaliação de pacientes com gastroenterite infecciosa aguda, devido à sua sensibilidade superior e menor tempo de resposta.[71] A cultura reflexiva deve ser realizada sempre que Salmonella (ou Shigella ou Campylobacter) for detectada, para fornecer isolados para testes de suscetibilidade e tipagem de cepa.[72][73]

Estado de portador crônico

Amostras fecais podem ser examinadas para diagnosticar o estado de portador crônico. O diagnóstico é estabelecido por uma coprocultura positiva ou reação em cadeia da polimerase para Salmonella 12 meses ou mais após a enfermidade aguda.[32]

Em geral, o exame para o estado de portador não se justifica, mas deve basear-se nas diretrizes do departamento local de saúde (por exemplo, pode ser exigido em certas ocupações como as de profissionais de saúde ou que manipulem alimentos).

Outras investigações

Testes sorológicos

Geralmente, a contagem leucocitária é normal nos casos de gastroenterite por Salmonella, às vezes com uma mudança para formas imaturas, mas ocasionalmente observa-se leve leucocitose. No entanto, a contagem leucocitária periférica e os ensaios sorológicos e diferenciais não são recomendados para estabelecer a causa da diarreia infecciosa aguda.[66]

Os exames de sangue para anticorpos contra antígenos O, como o teste de Widal, são inespecíficos e não são recomendados para o diagnóstico de infecção por Salmonella tifoide ou não tifoide.[35]

Hemoculturas

Devem ser obtidas de pacientes sintomáticos:[66]

  • <3 meses de idade

  • com sinais de septicemia ou quando houver suspeita de febre entérica

  • com manifestações sistêmicas de infecção

  • que são imunocomprometidos

  • com certas condições de alto risco, como anemia hemolítica

  • que viajaram para ou tiveram contato com viajantes de áreas endêmicas para febre entérica com doença febril de etiologia desconhecida.

Exames por imagem

Os estudos de imagem (por exemplo, ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética) não são rotineiros. No entanto, eles podem ser considerados para detectar aortite, aneurismas micóticos, sinais e sintomas de peritonite, ar livre intra-abdominal, megacólon tóxico ou foco extravascular de infecção em idosos com infecção invasiva por Salmonella enterica, se houver febre ou bacteremia prolongada, apesar da terapêutica antimicrobiana adequada, ou se o paciente tiver aterosclerose subjacente ou se tiver dor torácica, costas ou abdominal de início recente.[66]

Impressão digital genética baseada na reação em cadeia da polimerase

Durante investigações de surtos, exames avançados, como impressões digitais genéticas baseadas em reação em cadeia da polimerase e/ou tipagem de sequências multilocus foram anteriormente usados para determinar a relação das cepas com determinado sorotipo.[74][75]​ Isso geralmente foi realizado em laboratórios especializados de saúde pública ou de pesquisa. A impressão digital genética baseada em reação em cadeia da polimerase e a tipagem de sequências multilocus foram amplamente suplantadas pelo sequenciamento do genoma completo, que também pode ser usado para identificar o sorotipo na maioria dos casos.[76]

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