Abordagem
O tratamento da incontinência fecal pediátrica depende da causa subjacente e de quaisquer afecções associadas. O objetivo do tratamento é que o paciente defeque 1 a 3 vezes por dia no banheiro, sem episódios de encoprese.
Constipação crônica e impactação fecal grave na incontinência fecal funcional ou orgânica
Pacientes que apresentarem constipação e impactação fecal grave devem seguir um processo de 2 etapas para desimpactar o cólon e manter hábitos intestinais regulares para evitar um novo acúmulo de matéria fecal retida. Especificamente na incontinência fecal orgânica, o tratamento deve também ser adaptado ao diagnóstico e tratamento da doença subjacente.
1. Desimpactação aguda da matéria fecal
Os laxantes orais são a opção de primeira linha para a desimpactação da matéria fecal em pacientes com incontinência fecal funcional ou orgânica que apresentem impactação fecal e constipação. Os laxantes orais são preferidos por serem melhor tolerados e mais aceitáveis. Se o paciente não responder aos laxantes orais, um enema é indicado como tratamento de segunda linha para amolecer as fezes. No entanto, se a desimpactação não tiver sucesso com um único tratamento com laxante ou enema, a combinação de ambos pode ser necessária como uma opção de terceira linha.
A dissipação aguda pode ser efetuada no ambulatório, mas pode exigir serviços de hospitalização se o paciente não apresentar adesão ou se o tratamento falhar. Um resultado é geralmente esperado em 2 a 5 dias.
2. Fase de manutenção contínua para evitar um novo acúmulo de matéria fecal retida
O tratamento consiste em uso de laxantes, intervenções alimentares e estabelecimento de bons hábitos intestinais.
Os laxantes devem ser usados diariamente e os laxativos são recomendados porque não são formadores de hábito.
As intervenções alimentares envolvem o aumento da ingestão diária de água livre para pelo menos 4 a 8 copos por dia, o aumento da ingestão diária de fibras (o número sugerido de gramas de fibra por dia é igual à idade do paciente mais 5) e o consumo de 5 frutas ou legumes por dia.[12] A utilização de suplementação com fibra solúvel ou insolúvel é decidida em base caso a caso. As fibras solúveis tendem a agregar as fezes, enquanto as insolúveis tendem a torná-las mais soltas. Portanto, as fibras solúveis (por exemplo, psyllium, pectina) são preferíveis, embora sua eficácia seja inconsistente, e uma metanálise constatou que não há evidências para dar suporte à prescrição de suplementação de fibras na dieta de crianças obstipadas.[27][28]
Os bons hábitos intestinais envolvem deixar a criança sentada no vaso sanitário por 5 a 10 minutos pela manhã, após a escola e após as refeições.[16] Enquanto estiver sentada no vaso sanitário, os joelhos da criança devem ficar flexionados e os pés colocados em um banquinho. A criança deve empurrar as fezes, mesmo sem a sensação de evacuação, para que os músculos sejam retreinados.
Uma revisão sistemática concluiu que as intervenções comportamentais associadas ao tratamento com laxantes proporcionam uma melhora mais acentuada da incontinência funcional que o tratamento com laxantes isolado.[29]
Em pacientes com incontinência fecal orgânica que falham no tratamento clínico agressivo e ainda têm constipação crônica e incontinência, os tratamentos cirúrgicos podem ser usados em raros casos para manter o intestino desimpactado. A incontinência residual após a cirurgia é tratada com o uso de um laxante, intervenções alimentares e estabelecimento de bons hábitos intestinais.
Incontinência fecal funcional não retentora ou orgânica sem constipação
Em pacientes sem constipação, as intervenções incluem um programa de retreinamento do intestino, aumento das fibras alimentares, biofeedback e possível uso do antidiarreico loperamida como último recurso se a incontinência interferir nas atividades sociais. Em pacientes com incontinência fecal orgânica, qualquer causa subjacente (por exemplo, malformação anatômica, afecção clínica subjacente) também deve ser abordada.
O programa de retreinamento do intestino é voltado para fortalecer os músculos internos ou o esfíncter interno e recuperar a sensação retal.[10] Geralmente isso é alcançado pedindo-se ao paciente que fique sentado no vaso sanitário e empurre por 5 a 10 minutos, 2 a 3 vezes ao dia.
Geralmente, o biofeedback é realizado apenas em pacientes que tiveram resultados anormais na manometria anorretal, embora sua utilidade ainda não seja confirmada.[29] Deve ser feito em um centro de cuidados terciários especializado.
Os pacientes podem se beneficiar com uma consulta de medicina comportamental, um profissional de saúde mental ou psicólogo se os fatores psicossociais forem a etiologia subjacente.[10]
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